Arquivo da categoria: Crítica

Coutinho na Paisà

O Fim e o Princípio (2005)

O Fim e o Princípio (2005)

Como o arquivo da Paisà segue fora da web reproduzo aqui os três artigos sobre Eduardo Coutinho que foram publicados na revista. O primeiro é a minha crítica para O Fim e o Principio na edição zer0 da revista (que calha em também ser meu único texto sobre ele para além de alguns comentários aqui no blog) . Depois o texto do Francis sobre Peões e Entreatos quando dos seus lançamento em DVD no #6. Por fim, a bela crítica do Francisco Guarnieri para o nosso site quando do lançamento de Jogo de Cena.

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Algumas leituras de 2013

The Canyons, de Paul Schrader

The Canyons, de Paul Schrader

Uma pequena seleção de leituras favoritas de 2013. Nem de longe das mais inclusivas já que tentei me limita a línguas que tenho mais fluência (português, inglês e espanhol) e dei preferencia a artigos que poderiam ser linkados, além de evitar entrevistas.

Antes queria aproveitar para indicar dois PDFs nos quais eu tive pequeno envolvimento. Allan Dwan: a dossier (que já indiquei aqui antes) é uma coletânea preciosa sobre o cineasta com muitos ótimos colaboradores e eu destacaria em especial o ótimo artigo visual da Gina Telaroli sobre Cattle Queen of Montana que me fez parar tudo que fazia pra rever o filme. O outro é o catalogo da Mostra Samuel Fuller no CCBB não pelo que tem de novo, e sim por incluir traduções preciosas do próprio Fuller (além do que acredito ser a primeira tradução brasileira de Manny Farber).

David Bordwell, Mixing Business with Pleasure
Johnnie To serve perfeitamente a analise de sequencia que Bordwell faz tão bem como atesta este artigo sobre Drug War para o blog dele.

Nicole Brenez, Political Cinema Today – The New Exigencies: For a Republic of Images
Traduzi uma parte no meu texto sobre Rumo a Madri como sempre em Brenez muito o quese pensar sobre representação e política.

Phil Codirion, Pretending That Life Has no Meaning
Entre os muitos textos sobre The Canyons, um filme que convida a se escrever sobre ele, o que me parece mais justo e equilibrado.

Toni D’Angela, The Immigrant
Faz a minha crítica parecer totalmente insuficiente.

Marie-Pierre Duhamel, Consistency in a Filmmaker’s World e Tony Rayns, Heard It Through the Grapevine
Dois textos que ajudam a enriquecer muito Um Toque de Pecado que é um destes filmes cujas decisões são iluminadas bastante pelo contexto.

David Ehrlich, Kung Foolish: The American Cut of The Grandmaster Ruins a Masterpiece
Apesar de ignorar o corte internacional (o mesmo que sera lançado aqui e especie de meio termo entre os dois cortes comparados por ele), é uma analise próxima que ajuda a dar uma ideia do que se perdeu na tradução do filme de Wong para as platweias não chinesas.

Francisco Ferreira, A Truck Full of Turkeys
Um texto tão generoso quanto o filme, E Agora? Lembra-me, que lhe inspira.

Victor Guimarães, Anatomia de um Milagre
Evitei listar textos da Cinética por me sentir muito próximos deles, então esta bela crítica do Victor Guimarães ao The Deep Blue Sea fica aqui como representante da nova fase da revista.

Kent Jones, Intolerance e Zach Campbell, A Matter of Conquest
Vários amigos elogiaram a excelente resposta de Kent Jones a s críticas de Tarantino sobre Ford, mas a discussão se torna ainda mais rica quando se acrescenta a ela a critica de Zach Campbell a resposta do Jones.

Roger Alan Koza, Ontologia de la Sospecha
Texto breve mais muito bem observado sobre o documentário contemporâneo.

Miguel Marias, Repelling Rejection, or: The Disappearance of Jerry Lewis, and Some Side-Effects
Tecnicamente de dezembro do ano passado, mas li este ano e logo me pertence a ele. Sobre o ocaso do Jerry Lewis e, sobretudo, Which Way to the Front? (1970).

Sabrina D. Marques, Richard C. Sarafian: como é que os filmes acabam?
Na ocasião da morte de Richard C. Sarafian, Sabrina D. Marques recupera Man in the Wilderness, um filme menos famoso dele.

Adrian Martin, Pasado, presente y futuro de la “teen movie”
Um olhar amplo sobre a relação de Adrian Martin com o filme adolescente que serviu de introdução a um ótimo dossiê da Transit sobre o gênero.

Ricardo Adalia Martin, La Cuestion Humana. Cinco apuntés sobre Pásion
Passion é um filme que despertou muito bons texto (este por exemplo faz parte de um ótimo dossiê na última La Furia Umana, este do Ricardo Adalia Martin tem uma construção de alusões e citações depalmiana e acrescenta questões preciosas a respeito dele.

Boris Nelepo, sem título
Reflexão do Boris Nelepo sobre o ano cinematográfico de 2012 para a Lumiére, assombrado pela permanência/desaparecimento. Acho que o reli mais do que qualquer outro texto deste ano.

David Phelps, The Second Hand Illusion
Extensivo texto de Phelps sobre a obra de George Cukor.

Dan Sallit, Rio Bravo
Na ocasião da retrospectiva americana do Howard Hawks, Dan Sallitt produziu alguns textos muito perceptivos no seu blog, o melhor este sobre Rio Bravo.

Steve Shaviro, Accelerationist Aesthetics: Necessary Inefficiency in Times of Real Subsumption
As conexões que Shaviro produz sempre acrescentam novas ideias para pensarmos o papel da produção de imagens hoje. Teve algumas sequencias no seu blog.

Ignatiy Vishnevestsky, What is the 21st Century?: Revising the Dictionary
A série What is the 21st Century? que Ignatiy Vishnevestsky vem produzindo nos últimos dois anos no MUBI Notebook é dos mais fascinantes trabalhos críticos recentes e este é meu favorito até aqui.

Não poderia deixar de fazer uma menção A Mise en Scene no Cinema: do clássico ao cinema de fluxo, do Luiz Carlos Oliveira Jr. Um trabalho de historiografia precioso que se debruça sobre o termo muito usado e pouco conceituado, além de proporcionar uma das melhores discussões sobre a evolução da ideia de encenação em cinema da década de 60 até hoje.

Por fim, uma menção mais que especial para usuário do Karagarga chamado jjbudbaxter que deu upload em 15 livros do Raymond Durgnat este ano, vários dos quais estavam a muito fora de circulação, um dos trabalhos de recuperação de memória crítica dos mais valiosos dos últimos anos.

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De nostalgias e processos históricos

Algumas palavras sobre o post do Andre Barcinski sobre a decadência de cinema da última sexta-feira. Como alguém que acredita firmemente na ideia de que arte não passa por grandes evoluções ao longo do tempo (e definitivamente não no curto espaço de tempo que nossa pressa histórica tenta estabelecer como cheio de marcos) tanto o papo sobre grandes momentos como a  discussão decadentista me entendia um bom tanto. Simplesmente não é algo produtivo ou que me interesse.

Lembro-me sempre de uma entrevista com o ótimo crítico americano Dave Kehr, que começou a trabalhar em 72, em que ele mencionava que enquanto a grande mídia americana declarava que entravam num momento especial de cinema, a sua impressão pessoal era de que televisão havia destruído noções básicas de artesanato cinematográfico na maior parte da produção do período. O apocalipse de Kehr 40 anos depois parece bem excessivo, mas o mesmo vale para os quase press releases destinados a filmes geralmente bons, mas que nem de longe justificavam tamanha fanfarra.

Pessoalmente tenho dois credos como cinéfilo muito mais do que como crítico (a) todos filmes são inocentes até que me provem o contrário (até os do Lars Von Trier!) (b) mesmo os piores costumam ter um par de cenas interessantes o suficiente para justificar gastar 80-150 minutos com eles (que é o porque assisto tantos filmes quanto vejo e me sinto culpado de não ver o triplo deles).

Menciono tudo isso não para reprovar o Barcinski ou quem é que seja por acreditar que o cinema de hoje não é o mesmo, mas para explicitar minha posição geral sobre a questão (passei este fim de semana entre escrever sobre cineasta de horror chinês contemporâneo e curtas de Chaplin e ambas me são experiências muito prazerosas). É muito fácil desmerecer a posição dele acusando-o de ignorar o cinema contemporâneo, mas é um argumento potencialmente preguiçoso e limitado. Por exemplo, vi vários comentários desmerecendo-o por ele usar um filme do Peter Weir para começar o argumento e apesar de Weir nem de longe ser um favorito meu, The Last Wave é mesmo um belo filme que imagino muitos dos que desclassificaram o post a partir disso nunca viram.

Meu incomodo com o post é outro, é de que ele justifica o seu decadentismo numa desleitura de história bem problemática e típica dessa noção romântica do passado como uma grande era. Há algumas observações e ideias contidas nele que me parecem claramente erradas quando olhamos de forma mais cuidadosa a história que justificam certo ideário de involução que não tenho como subescrever.

Foi no meio dos anos 70 que Hollywood começou a usar, com mais freqüência, testes com público e pesquisas para decidir como fazer filmes (quem quiser se aprofundar no tema, sugiro ler “Como a Geração Sexo, Drogas e Rock’n’Roll Salvou Hollywood”, de Peter Biskind).

Biskind quede certa forma organiza o livro dele em cima da surrada ideia de usar o duo Spielberg/Lucas como culpados fáceis por uma suposta decadência do cinema americano e sua perversão pela industria, usa este argumento  para vender uma suposta fortificação da industria ao longo da década. Pois bem, o mais famoso filme remontado pesadamente por culpa de exibições teste foi o Soberba de Welles no longínquo 1942. Se pararmos para ler o “Afinal, Quem Faz Filmes” do Bogdanovich muitos dos cineastas fazem menção a suas experiências regulares com estas exibições (Hawks achava-as uteis para comédias por exemplo).

O mesmo Welles viria alguns anos depois remontar e redublar o seu McBeth (é pouco mencionado, mas Welles tinha direito a corte final naquele filme) após testes ruins que apontavam um público confuso e com dificuldades com o sotaque escocês dos personagens. A Marca da Maldade e A Dama de Shangai foram igualmente vitimas de cortes extensos depois que os estúdios tiveram a confirmação de que eles não funcionavam como os thrillers eu foram encomendados. Orson Welles é um dos 5 melhores cineastas americanos pré-70, ele realizou 6 filmes para estúdios americanos, dos quais 4 foram remontados por testarem mal. Posso me esquecer de alguém, mas estou com dificuldades de pensar em 4 cineastas pós-70 que tiveram este numero de grandes filmes prejudicados, quanto mais 2/3 da filmografia em Hollywood.

Duvido muito que Os Vingadores passou por exibições testes muito mais extensivas do que as de Ben-Hur ou O Poderoso Chefão a suas épocas.  Sem discordar do aspecto daninho destas exibições, usa-las desta forma é reescrever a história do cinema e sobretudo limita-la a uma parcela importante mas relativamente pequena da sua história (a produção “A” de Hollywood que é onde ela sempre foi mais desenvolvida).

Faz todo sentido: filmes eram feitos para cinema. Ninguém achava que o filme seria visto e depois revisto em VHS, laserdisc, DVD, Blu-ray, TV a cabo, Netflix, Internet, etc.

Filmes eram produzidos com um único objetivo: estrear numa sala e arrecadar na bilheteria. Uma vez que o espectador tivesse comprado o ingresso, a batalha estava ganha.

Há uma verdade contida ai, salvo pela avant garde e de filmes bancados por investidores atrás de abatimento fiscal (algo raramente mencionado é que a maior parte dos filmes de baixo orçamento americanos da década de 70 foram financiados por empresários prontos só a deduzi-lo do imposto, por exemplo), cinema invariavelmente foi produzido com a intenção de arrecadar dinheiro (veja bem dinheiro, não bilheteria).

Claro que é muito mais complexo do que a noção romântica vendida por Barcinski especialmente nas camadas mais pobres da produção. Um dos filmes cuja fama aumentou muito no boom do DVD a partir do fim da década de 90 foi The Shooting do Monte Hellman, pois bem o filme do Hellman sequer conseguiu ser lançado nas salas americanas a época, não que o produtor Roger Corman tenha perdido qualquer sono com isso, The Shooting foi vendido para múltiplos mercados europeus e para a TV americana.

Praticamente em qualquer ponto da sua historia (da década de 10 aos dias de hoje) o filme de baixo orçamento sempre foi vendido em pacote com o desempenho individual deles afetando seus produtores apenas a longo prazo. Mas Filipe, nestes casos os filmes eram vendidos para o cinema e não DVD! Verdade, mas se formos olhar amplamente a produção em qualquer período as mesmas condições que frequentemente permitem criatividade abriam espaço para muita preguiça, há um motivo pelo qual Roger Corman e Edward L Cahn eram igualmente centrais para a AIP no fim dos anos 50, mas que os filmes do segundo só sejam apreciados hoje de forma irônica.

Mais importante, a televisão é parte do processo comercial do cinema muito antes do VHS se popularizar e com ela já nascia o daninho pan & scan como o comentário do Dave Kehr lá no começa do post bem nos lembra. Mesmo um filme de prestigio como os 2 Chefões do Coppola foi lançado na TV americana como um grande evento com o truque de serem remontados em ordem cronológica à época (este corte foi lançado em VHS aqui e imagino ao menos alguns cinéfilos da minha geração descobriram os filmes pela primeira vez assim).

Se formos subescrever para um olhar sobre os filmes que leve em conta seus métodos de produção é preciso reconhecer que estes sempre foram mais complexos do que o simplismo proposto pela Barcinski. E principalmente que a esta altura o cinema já passou mais tempo disputando a primazia do audiovisual com a televisão (e sua própria série de méritos/linites estéticos e de recepção) do que teve ela para si próprio.

É verdade que o DVD e a Internet afetam filmes contemporâneos, mas o mesmo vale para TV na tal era de ouro dos anos 70. Peter Weir, cujo trabalho serviu de ponto de partida da reflexão do Barcinski, era um homem de TV e o próprio The Last Wave foi filmado entre episódios para um minisserie da TV australiana e um filme feito para a mesma (The Plumber).

Até o chamado “cinema alternativo” sofre com isso. É só ver o fenômeno da globalização dos filmes de arte para comprovar.

Hoje, se você tirar o som de um filme argentino, por exemplo, é impossível diferenciá-lo de um filme francês ou de um sueco. Todos se parecem. A fotografia obedece à mesma estética publicitária “clean”.

As diferenças estéticas do cinema de cada país, antes tão evidentes, foram quase banidas, em prol de uma assepsia global. O cinema virou um grande saguão de aeroporto, igual em toda parte.

Mais do que qualquer outro trecho do post do Barcinski este me incomoda muito.  Ele é incorreto na observação e, para mim, na sua conclusão.

Primeiro não é bem verdade que os cinemas nacionais são desprovidos de um especifico; está ai o cinema romeno contemporâneo que na verdade até sofre muito com a impressão de ser programático em excesso (o fotografo Oleg Mutu por vezes parece ter mais influencia autoral sobre esta produção do que qualquer diretor) com um estilo que por vezes se sobrepõe as vozes individuais. Acho difícil olharmos o boom do cinema argentino na década passada ou do iraniano nos anos 90 e não ver o mesmo fenômeno em que o sucesso de alguns cineastas (Kiarostami, Mahmalbaf, Martel, Alonso) levou programadores de festivais a buscar seus múltiplos imitadores. É difícil imaginar algum cinéfilo vendo Las Acacias ou Tempo de Embebedar Cavalos e não assumir facilmente a origem deles.

Não discordo que exista certo cinema internacional contemporâneo, mas ele é bem mais complexo do que “a fotografia obedece a mesma estética”, primeiro porque não é um, mais vários que se encaixam em diferentes setores de exibição e eu diria são excessivamente  moldados pelas preferências estéticas de alguns programadores específicos (esta influência assim como a de certas vendedoras de direitos internacional certamente sustentam um post de sociologia dos problemas do cinema internacional contemporâneo melhor do que as reclamações contidas aqui). São barreiras muito menos nacionais do que de guetos específicos e elas certamente produzem muitas derivações nem sempre habilidosas, mas elas estão longe de se dissolvem todas no mesmo cinema, apesar de que salvo por alguns autores idiossicraticos nossas distribuidoras tenderem a se concentrar num par delas (um certo tipo de produção comercial local, geralmente francesa, e um mais agressivo “cinema autoral” geralmente bancado pela francesa Wild Bunch).

O que me incomoda sobretudo na observação inicial de Barcinski é a idéia de que este especifico nacional como uma qualidade em si. Acaba-se retomando uma ideia de cultura nacional, muito popular por aqui, que me parece bem problemática. A dissolução numa ideia de contemporâneo um tanto genérica é certamente um risco que alguns filmes correm (inclusive alguns brasileiros, diga-se), mas eu diria que é um risco bem menos problemático de que, digamos, exigir dos filmes do João Pedro Rodrigues alcancem um ideal da cultura português, que é a conclusão final que tiramos da reclamação do Barcinski.

Como críticos nunca gostamos de iniciar um argumento a partir de “eu não gosto de”, mas o principio de conecta-lo a um processo histórico sempre permite um risco grande de reversamente reconstruí-la sem intenção em favor da nossa agenda.

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Andrew Sarris

Uma pequena seleção de críticas de Andrew Sarris, um dos melhores cr[iticos americanos que faleceu hoje.

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Algumas leituras de cinema favoritas de 2011

Outro dia o Gabe Klinger perguntou no Facebook quais seriam os textos de cinema favoritos dos amigos. É um bom tema para um post. Não sei porque não se faz mais destes apanhados em fim de ano.

Primeiro, alguns livros/catálogos:

Francisco Algarín Navarro, Fernando Ganzo, Moisés Granda (ed.) Lumiere No.4
Inacio Araujo, Cinema de Boca em Boca (org. Juliano Tosi)
Jonathan Rosenbaum, Goodbye Cinema, Hello Cinephilia
Tatiana Monassa (org), Clint Eastwood

Lumiere é uma revista anual espanhola. Coloca na lista porque tem mais de 400 páginas, então me parece justo coloca-la junto dos livros. A edição lida com o cinema de 2010. Ótimas entrevistas (Skolimowski, Apichatpong, Bellocchio, Guerin, etc), uma atenção especial ao experimental (pautas sobre Hutton, Lockhart, etc). Dá para baixar por pdf no site.

A recente coletânea do Inácio organizada pelo Juliano Tosi saiu no final de 2010, mas só a li este ano. Poderia ser um pouco mais ambiciosa (já quer se limita ao trabalho dele na Folha), mas é material essencial de um dos maiores críticos brasileiros.

Assim como o livro do Inácio já conhecia a maior parte do último livro do Rosenbaum (imagino que quase tudo exista no site dele),  mas uma das razões pelas quais é sempre um prazer ler uma das coletâneas dele é sua habilidade como organizador:  os textos ganham sempre um sentido novo nos seus livros.

Vale destacar também este belíssimo catálogo da recente retrospectiva do Clint Eastwood.  Ótima seleção de textos. Acho que esta disponível para download no site também.

Vale também acrescentar alguns ótimos dossiês:
Alfred Hitchcock, Interlúdio
James Gray, Foco No.3
Monte Hellman, La Furia Umana No.8

Sergio Alpendre colocou de pé uma grande equipe de colaboradores para um dossiê exaustivo que cobre a retrospectiva completa do cineasta que tivemos este ano.

Vi gente inteligente desconsiderar o dossiê Gray da Foco por conta de um editorial (que é mesmo fraco). É tão injusto com os ótimos textos quanto o Editorial.

Por fim La Furia Umana fez um grande numero centrado na figura de Hellman. É uma edição multilíngüe (com artigos em inglês, francês, italiano e português) que vale muito a pena.

Alguns artigos soltos excepcionais que li este ano:
Adrian Martin, “Turn the Page: From Mise en Scene to Dispositif”
Bill Krohn, “Cahiers for Dummies”
Francis Vogner dos Reis, “Das Ruinas:livre reflexão a parir de duas exceções”
Inacio Araujo, “Filmes que Ninguém Compreende”
Shigehiko Hasumi,” Fiction and the ‘Unrepresentable’: All Movies are but Variants on the Silent Film”

O ensaio de Martin sobre mise en scene contemporânea é essencial.

A crítica do Krohn é uma aula de como conduzir uma demolição crítica com argumentos  (o que infelizmente não é muito comum).

Este texto do Francis (sobre Os Residentes e Santos Dumont, pré Cineasta?) é o melhor artigo sobre cinema brasileiro que li este ano.

Uma grande reflexão do Inácio sobre a preguiça do espectador contemporâneo a partir de um comentário mal educado de blog.

Uma ótima provocação de Hasumi, ponto alto do excelente primeiro numero da Lola.

Ressalto também no ambito do cinema brasileiro que todos os vinte debates da mostra “Cinema Brasileiro ano 2000, 10 questões” estão disponiveis no seu site em vídeo e pdf.

Por fim vale destacar 4 belas revistas que seguiram publicando material de primeira regularmente ao longo do ano: Cahiers Du Cinema España, Cinema Scope, La Furia Umana e Miradas del Cine.

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100 Filmes Italianos

Dois Destinos, de Valerio Zurlini

A idéia desta lista é fazer um recorte histórico dos meus filmes italianos favoritos. Ela logo é limitada pelo meu conhecimento (por isso mesmo exclui os filmes anteriores a 45 já que conheço o período muito mal, esta é intencionalmente uma lista de Roma Cidade Aberta aos dias atuais) e pelo meu gosto pessoal. Acho o cinema italiano junto ao americano o mais rico do mundo e o que me fascina na sua história é o quão diverso ele é, algo que acredito esta lista representa bem. Não é, bom dizer uma lista pensada como cânone ou contra-cânone ou qualquer coisa do tipo. O único critério foi tentar não repetir cineastas em demasiado (e acreditem versão A da lista tinha um numero absurdo de Rossellinis). Vale dizer que eu poderia fazer fácil uma lista B com “outros 100 filmes italianos”, o fato de um filme não estar na lista certamente não é um julgamento automático sobre ele, existem dezenas de filmes excelentes de todos os tipos que não entraram ai embaixo. Limitei a lista a filmes superiores a 30 minutos o que teve o efeito ruim de limitar a presença de cinema experimental. Um dado positivo e que apesar do período entre 60 e 79 dominar mais da metade da lista, as últimas 3 décadas tiveram uma representação bem melhor do que suas reputações sugeririam.

Um último adendo eu passei os últimos dez dias trabalhando neste post e os filmes estão em ordem cronológica, mas os textos foram escritos sem nenhuma ordem enquanto eu depurava a lista aos poucos, explico para pedir desculpas pelo fato de ser mesmo um post bem caótico e deve por vezes soar repetitivo.

A lista segue dentro do post:

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É, acho que a publicidade venceu…

Duas semanas atrás, o Felipe Bragança publicou um artigo no Prosa & Verso de O Globo traçando um histórico da última década do cinema brasileiro sobre o ponto de vista da “nossa” geração. É a versão mais curta de um artigo que circulou de mão em mão alguns meses atrás e que eu só conheço de descrições. É uma polemica e um manifesto que abandona os filmes em função de um esforço de historiografia do presente muito autocentrada.  As aspas do “nossa”  são literais, a história que o Felipe – que é suficientemente meu amigo para nas vésperas da sua primeira viagem de pesquisa de locação para O Céu de Suely ter pernoitado no sofá-cama da minha sala – descreve é uma que me é familiar o suficiente para reconhecê-la e filtrada  suficiente pela sensibilidade e olhar do autor para me parecer muito distante.  Como o título do texto anuncia, é a história da trajetória do Felipe em meio à critica online e depois no jovem cinema brasileiro que está narrada ali. Acho que outros críticos e cineastas que, como eu, têm certa afinidade pelo universo que Felipe descreve, devem manter a mesma ambivalência com o retrato que ele traça. Felipe já há muito assumiu para si o manto de ideólogo da sua geração. Me parece importante notar isso e, ainda mais, perceber que, se existem pontos de contato entre o filmes do Felipe e da Marina Meliande com os filmes do Bruno Safadi ou do Gabriel Mascaro ou ainda dos Pretti, Parente & Diógenes, existem também grandes distâncias que são apagadas quando Felipe assume um papel político. Se há um limite claro no artigo, é justamente distanciar-se por completo da especificidade dos filmes em função de uma mensagem de que este cinema existe e precisa ser reconhecido.

Semana passado o Carlos Alberto Mattos respondeu ao artigo de Felipe com um contra-manifesto cujas respostas me deixaram bem perturbado.  Como disse acima, acho o texto do Felipe Bragança tem propostas e limites bem claros dentro das suas qualidades e equívocos, que por si só não me fariam comentá-lo aqui. O tom do texto do CAM é de uma indulgência enorme: “vamos com calma meninos, que há uma ordem de valores do bom cinema brasileiro e não podemos atropelá-la”. É um artigo tão ideológico quanto o do Felipe, e é por isso mesmo que ler os elogios nos comentários do blog dele – inclusive vindos de pessoas que eu respeito muito como o Carlosmagno Rodrigues e a Tatiana Monassa – me deprimem muito. Não há ponto mais significativo acerca dos limites dos dois textos do que o modo como retomam a suposta importância de O Céu de Suely para a cena atual do nosso cinema. A idéia do Felipe, de que se trata de uma virada do cinema brasileiro, é bem absurda. O filme do Karim Ainouz certamente não significa nada em termos de formatos de produção (como significariam filmes como Ainda Orangotangos ou Meu Nome é Dindi) e em termos estéticos está bem abaixo de outros trabalhos de cineastas que estrearam na década (como Madame Satã do próprio Ainouz ou O Prisioneiro da Grade de Ferro, para ficarmos em dois filmes um pouco anteriores). O que O Céu de Suely efetivamente tem a seu favor dentro da narrativa do Felipe – para além de ser um filme central para a trajetória individual dele – é ser bem representativo de um diálogo mais aberto com o “cinema contemporâneo de festivais”, mas isto não é necessariamente o que o filme tem de melhor. Se há um limite claro em muitos dos filmes que o texto do Felipe pretende consagrar, é justamente que eles acabam soando como trabalhos de esforçados estudantes de tendências contemporâneas. Eleger O Céu de Suely como marco é ressaltar este cinema por algumas das suas características menos interessantes.  Já o CAM é mais direto: desautoriza a historiografia do Felipe não indo até os filmes para achar as contradições dela, mas ao dizer “Felipe parece desconsiderar o caminho aberto por Terra Estrangeira, de Walter Salles”, e assim voltamos quinze anos no tempo para elogiar como porta voz do bom cinema brasileiro um bem intencionado e competente sub-Wim Wenders feito por Walter Salles no auge do caduco conceito de retomada.

Se falamos de dois textos políticos, o olhar de Mattos não podia ficar mais claro ali: a idéia de bom cinema brasileiro está nas mãos dos nossos grandes cineastas de sucesso, como Salles ou Fernando Meirelles, passando por alguns outros nomes já reconhecidos, como o próprio Ainouz. À garotada cabe o elogio distante e a espera pela sua vez de sentar na mesa do bom cinema brasileiro: “os recentes longas da turma da Alumbramento (Ceará) trazem uma simpatia e uma busca estética a suprir parte do enorme vazio que ocupa o seu centro. Alguns mineiros têm seu charme e propõem radicalidades embasadas em talento plástico e escolhas bem definidas.”. “Uma simpatia” o “tem seu charme”: a escolha de palavras é das mais significativas. Vale dizer que quem conhece a obra do Carlos Alberto Mattos sabe que ele tem um olhar muito claro para o cinema. Basta pensarmos em alguns filmes que ele agraciou recentemente com a cotação mínima no blog dele, como Filme Socialismo ou White Material. O maior mérito de Mattos como crítico é justamente não estar preocupado com o que acham das preferências dele (e ele já disse que não liga se o chamamos de careta). Pois bem: o subtexto do texto dele não deixa de apresentar uma notável caretice. Se o olhar do Felipe pode ser visto com a desconfiança de certo deslumbramento com o “cinema contemporâneo” (como a ênfase do seu texto na aceitação nos festivais internacionais), o do Carlos Alberto Mattos não deixa de mostrar uma certa fobia do mesmo. Eu vivo o cinema brasileiro há quase vinte anos e neste meio tempo ele (e por ele entendam o cinema oficial brasileiro) sempre foi um dos mais retrógados do mundo. O texto do Mattos é uma faceta bem intencionada do mesmo, e o que seu texto pede é que os pirralhos o deixem em paz com seus Terra Estrangeiras e no máximo apreciando um O Céu de Suely aqui, um Mutum ali. É um olhar digno e honesto, mas é muito distante do que eu acredito.

O que pega, porém, é o que está no centro do aspecto político do embate dos dois textos. O que CAM sugere é que estes filmes do tal novíssimo cinema brasileiro foram até hoje festejados por uma suposta rede de proteção, seriam filmes intocáveis, em suma. De certa forma, é um olhar aparentado ao lançado sobre este mesmo cinema num Cinema Falado da edição 96 da Contracampo. A versão original do artigo do Felipe era justamente uma resposta a este bate papo. E é interessante notar que a primeira fala da conversa parte justamente de uma crítica à lista dos melhores filmes brasileiros da década publicada pela Revista de Cinema, instituição maior da cobertura oficial do cinema brasileiro. O discurso pró-ordem estabelecida do Carlos Alberto Mattos e o discurso radical da Contracampo se encontram na mesma recusa aos “novíssimos”, vistos por sinal sobre o mesmo olhar generalizante. Existe ali a mesma crítica à tal celebração. Sem negar o risco inevitável do oba-oba, que celebração é esta?  Pois à parte a parca cobertura existente a estes filmes – o que por sinal aumenta o valor do texto do Felipe –, a resposta crítica que ocasionalmente existe está longe de representar a tal unanimidade denunciada. Sergio Alpendre, por exemplo, que já cobriu vários festivais que incluíram estes filmes, sempre foi cético, ao ponto de, quando elogiou esta última edição de Tiradentes, o fez nos seguintes termos: “Poucos filmes fracos, uma maior quantidade de filmes bons (ainda é pouco, mas é um sinal de que os diretores jovens estão se multiplicando, chegando ao longa com mais facilidade e, conseqüentemente, com mais qualidade).” E ninguém confundiria a cobertura do Luiz Zanin para o último festival de Brasília com uma afirmação celebratória, para ficarmos num exemplo da grande imprensa.  Quem não lê a Cinética imagina que, por conta da presença do Cleber Eduardo (curador de Tiradentes) e do Eduardo Valente (curador da Semana dos Realizadores), existe alguma adesão irrestrita aos filmes “novíssimos”, mas os dois redatores (Fabio Andrade e Francis Vogner) que mais freqüentemente escrevem sobre esses filmes são provavelmente os mais céticos e críticos.

Logo concluímos que, se há uma rede de proteção a estes filmes, ela é notoriamente incompetente. Talvez o grande diferencial de olhar seja geográfico: eu sou paulistano e CAM e a Contracampo são cariocas. O tal novíssimo cinema brasileiro não existe em São Paulo, é uma briga por vezes para conseguir uma exibição solta de algum desses filmes (tem dois ou três que me interessam muito e eu nunca cheguei a ver), ao passo que no Rio não só os espaços para circular estão garantidos, mas os cineastas são muito mais visíveis, o oba-oba localizado, mais notável. Se tomarmos a bolha como um todo (o que me parece que tanto a Contracampo como o Carlos Alberto Mattos fazem), pode-se sentir a necessidade de se insurgir contra o tal consenso, mas isto é um giro em falso dentro do próprio umbigo muito maior do que qualquer coisa no texto do Felipe. Alguns anos atrás, a Contracampo publicou um artigo polemico intitulado “A publicidade venceu”, e vendo hoje a reação ao artigo do Mattos não é difícil reconhecermos que tal artigo é mesmo premonitório. Parecemos todos confundir o falar sobre os filmes – algo mais que necessário – com o material de divulgação, os manifestos e contramanifestos com textos e filmes. Chegar a este cinema – irregular e imperfeito como todo o cinema – é detalhe. E terminamos com esta imagem estranha do cineasta radical e da crítica radical abraçando o discurso do auto-intitulado crítico careta porque por uma razão ou outra politicamente convém aos três.  Diante de toda essa retórica, prefiro ficar com os filmes, sejam os bons (Os Monstros, A Falta Que Me Faz, Belair etc.) ou os mais frágeis (A Alegria, Ainda Orangotangos etc.).

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A volta da Filme Cultura

A tradicional Filme Cultura publicada originalmente entre 66 e 88 está de volta. O lançamento é amanhã no Rio e ela deve logo estar a venda (a lista de pontos de venda esta disponível no site). Ainda não li a revista, mas a seleção de artigos é promissora e a iniciativa é ótima.

Sumário
Apresentação por Silvio Da-Rin
Editorial por Gustavo Dahl
Ficção e documentário – a era do híbrido por Carlos Alberto Mattos
Agora por nós mesmos por Carlos Diegues
5 x favela agora por nós mesmos – conversa entre os ‘caras da câmera’
O cinema do mal-estar por Francis Vogner dos Reis
Busca avançada: Mangue negro por Daniel Caetano
Atualizando: 3D ou não 3D por Marcelo Cajueiro
Curtas: Animação no documentário por Joana Nin
Cinema cearense por Daniel Caetano
Os frutos da audácia pernambucana por Luiz Joaquim
Cineastas baianos – o ofício que pode ser risco, cura, doença, religião…
Minas Gerais – da falácia ao pluralismo por Marcelo Miranda
Algumas luzes e sombras do cenário carioca por Daniel Caetano
Um laboratório paulistano por Filipe Furtado
Uma certa tendência do cinema gaúcho por Marcus Mello
E agora, José Eduardo (Belmonte)?
E agora, Carlos (Manga)?
Um filme: Falsa loura por Andrea Ormond e Inácio Araújo
Outro olhar: Cacilda! por João Carlos Rodrigues
Perfil: Plinio Sussekind Rocha por João Carlos Rodrigues
Cinemateca de textos: Paulo Emilio Salles Gomes
Lá e cá: Cânones e margens por Daniel Caetano
Livros: Oscarito, Grande Otelo e Ankito por João Carlos Rodrigues
Peneira digital por Carlos Alberto Mattos
Cinemabilia

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Falando em revistas importadas

Recomendo muito o numero novo da Cinema Scope que está a venda em algumas bancas na região da Paulista (e na Fnac). Pelo menos 3 artigos imperdiveis:

Christoph Huber sobre Joe Dante

Olaf Moller sobre Lino Brocka

Critica do Serge Bozon ao novo Rivette

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Moscou

Nem ia mencionar nada sobre o que o Escorel escreveu sobre o filme do Coutinho, porque bem é o Eduardo Escorel, mas lendo os posts do Jean-Claude Bernardet sobre o assunto não dá para deixar de observar que parte do pensamento de cinema no Brasil está mais de 40 anos atrasada no tempo.

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Manifesto de Jean Douchet

O grande Jean Douchet publicou um pequeno manifesto sobre crítica por conta da situação da Cahiers. O original em francês está aqui. Reproduza a tradução para inglês feita pelo Craig Keller:

Notre Combat

Let’s quit it with the psychodramas and come to an agreement about what, in 2009, a cinema revue should be.

The hot-button question of the day is that of the function of the image in an ultra-mediated and knowingly falsifying period. The new revue should impose its voice upon the current conversation, as the “young turks” once knew how to do. This doesn’t mean an improved Premiere wrapped up in a super Studio. This doesn’t mean a New Yorker for cinema written in the cosmopolitan language of The Economist. The new revue shouldn’t be a revue of reference and expertise plopped down onto the cinema. That already exists; it’s enough to translate Positif into English.

The new revue should be a revue of combat. An insolent, unfair, provocative revue. In short, partisan and scandalous. A revue that abandons the politique des auteurs for that of the fauteurs [troublemakers]. Fauteurs and even fouteurs de trouble [troublefuckers]. Thus a revue of youths, those youths upon whom a troubled vision of life, of their life, has been imposed. Thus, for those for whom the cinema once again becomes an existential necessity. A revue that would play favorites: on the part of the filmmakers: the function of seeing well (of presenting) in order to show; on the part of the revue: theorization, manifold reflections and their critiques in order to show that which has been seen well and felt well within a film. It’s a start from scratch: a moral, and therefore aesthetic, affair. Donc, d’une politique. [Therefore, a political affair. / Therefore, a politic matter. {i.e./c.f., la politique des auteurs} ]

One year ago at Cannes, La Frontière de l’aube [Frontier of Dawn, Philippe Garrel] was booed because it held forth, metaphorically speaking, upon this discourse. A rather young man, a photographer fascinated by the image of a star, absorbed by her as one is by a roll of film [ / absorbed by her just as much as he is by a roll of film / by a film — absorbé par celle-ci comme par une pellicule], becomes unable to tolerate life, and commits suicide. What made the pricks at Le Figaro or Le Journal du dimanche snicker — to cite only two examples: that fecundity of the image, and its incessant apparitions that carry it over onto the real, speak to us, speak to us of nothing but the sickness of youth in a world where a trick-representation bears it away and gets imposed upon the present.

Time is pressing. It is essential that plans for a new revue be put out in the open and discussed, post-haste. That a united line be drawn and affirmed. That a small committee lead the discussions. That the business plan and the editorial plan be linked. In short, to insure that the heritage of militant criticism possesses a present-day feel.

From two things, one: either the Cahiers dreams on, or it bites the dust, as I said one year ago already, at the start of the revue’s crisis. It has chosen to bite the dust. Our solution remains open to whoever wishes to seize it.

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Adrian Martin sobre A Erva do Rato

The signifier was at play, too, not only in Manoel de Oliveira’s perfectly, typically droll ‘illustration’ of a deceptive moral tale in Eccentricities of a Blond Haired Girl (pity there’s still not a proper print available to screen), but jarringly so in Julio Bressane’s Herb of the Rat, a crazy conceptual-horror-allegory piece – a little Ruiz and Buñuel (and also Oliveira), also a little The Entity and The Exorcist – that alienated almost every viewer who came near it. It’s a recalcitrant movie (seemingly about a control-freak guy who turns his imprisoned girlfriend into a rat), uneager to please: the long durations are unbearable, the ironic repartee is inelegant, everything is stretched out (repetitions included) like a torture rack. In the Las Palmas context, it hit like a malign exaggeration of the ponderous but intriguing Russian big-film Yuri’s Day, which started out like an ordinary (read: awful) art movie (mother and son on a trip into the icy heartland) and then eventually spun into a species of enigmatic grotesquerie more comfortably Polanski-like than madly Ken Russell-like … I hated Herb of the Rat, too, while watching it – how do films like this actually get funded, I found myself wondering? – but now I remember it fondly. Something else you’ll only ever see at a Film Festival far from you.

Cito o comentário do Adrian menos pelo que ele diz sobre o filme (que estréia aqui amanhã) e mais pela forma como contexto mudam tudo. Lembro-me de eu e o Superoito rirmos durante a Mostra do ano passado da piada de que Bressane não levara A Erva do Rato para Brasília porque finalmente fizera um filme mais popular. Mas a julgar pelo comentário do Adrian a reação lá fora é a mesma que o público do Festival de Brasília guarda para todos os filmes do cineasta. Claro que sempre imaginei que momentos como “ah, o saudoso Guará” funcionam bem melhor na sessão oficial do Festival do Rio do que numa sessão normal no Arteplex, mas não deixa de ser curioso como contexto pode mudar a recepção tanto. Ainda mais para mim neste caso já que vi A Erva do Rato antes de Cleópatra, me pareceu no dia o primeiro filme genuinamente interessante em muito tempo, a primeira vez que a perversidade do Bressane parecia resultar num filme não só numa coleção de tiques, em retrospecto depois de finalmente ver Cleópatra parece sim um filme menor. Isto dito, certamente é o melhor filme brasileiro em cartaz (até por ser um filme).

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João Benard da Costa

Certamente haverá homenagens melhores, mas não posso deixar de registrar aqui a morte do João Benard da Costa. Grande crítico – dos maiores – e ex-diretor da Cinemateca Portuguesa onde sempre matou de inveja os cinéfilos brasileiros com uma programação impecável.

O excelente blog Os Filmes da Minha Vida tem uma coleção de textos dele. Um dos meus favoritos é este:

Um Filme Falado: Uma Desarmante Complexidade
1 – Quando, em 1957, Chaplin estreou o polémico “A King in New York”, Rossellini terá dito: “É o filme de um homem livre.”
Enquanto via “Um Filme Falado”, o filme de Manoel de Oliveira que hoje se estreia em Portugal, lembrei-me dessa reacção como a mais óbvia. Só um homem livre (coisa muito mais difícil de se ser do que de se falar) podia ter ousado uma obra assim. Obra que não presta contas a ninguém, não pede contas a ninguém e não ajusta contas com ninguém. Obra em que Oliveira põe toda a sua verdade e nada mais que a sua verdade. Na grande idade, alguns artistas conseguiram-no. Um tão grande despojamento que justifica a dúvida sobre se se está perante uma obra de juventude ou perante uma obra de pletórica maturidade. Como aconteceu com Mozart e levou o seu catalogador – Köchel – a datar como obras de verdes anos obras dos anos finais. Mozart morreu novíssimo? Aparentemente. Mas foi ele próprio quem disse que suou sangue para chegar ao que os distraídos classificaram como superficial ou leve. Para se atingir a “leveza” de “Um Filme Falado” talvez não sejam precisos 95 anos, mas é preciso certamente algo que anda lá muito perto, em termos de tempo e em termos de modo. Louvado seja!

2 – Começo pelo título. Aparentemente nada de mais corriqueiro, quase um pleonasmo, pois que, com raríssimas excepções, há quase oitenta anos que todos os filmes o são. Estou com curiosidade de saber como o vão traduzir para inglês ou para americano: “A Talkie”? Literalmente, devia ser assim, embora a “Variety” lhe tenha chamado “A Talking Picture”, o que, sem trair, não é exactamente a mesma coisa. Mas quando nos pegam na mão para nos lembrar o óbvio, é porque o óbvio não é tão óbvio como aparenta sê-lo. Para gente não poliglota, os filmes falados noutras línguas ou não são ouvidos, são lidos (no caso das versões legendadas), ou são ouvidos (no caso das versões dobradas) em fala de gente que fala a nossa fala, ou seja em fala que a gente do filme não falou. Em “Viagem ao Princípio do Mundo”, um dos filmes de Oliveira que mais se aproximam deste, uma velha analfabeta da raia minhota perguntava do sobrinho, nascido em França e que só falava francês: “Por que é que ele não fala a nossa fala?” Essa pergunta está implícita em todos os filmes falados, como está implícita em todas as traduções e tem sido um dos temas predilectos de George Steiner.
Pois bem. Neste filme, há um jantar que reúne um actor americano, de origem polaca, no papel do capitão do navio (John Malkovich), uma actriz francesa, no papel de uma rica mulher de negócios (Catherine Deneuve), uma actriz italiana, no papel de um famoso modelo (Stefania Sandrelli), e uma actriz grega no papel de uma célebre cantora (Irene Papas). É um jantar de circunstância, pois que o circunstancial capitão convida para a sua mesa as três celebridades que levava a bordo. A conversa é circunstancial, “uma espécie de jogo”, como lhe chama o capitão, pois que cada um ou cada uma resume a história da vida, com paragem nas datas mais marcantes: nascimento, casamento ou não casamento, filhos ou não filhos. Nada de indiscreto, nem de confidencial. Conversa de salão ou jogo de sala. Mas o que sai fora das normas (de todas as normas) é que o capitão fala inglês, a empresária francês, a ex-modelo italiano e a cantora grego. E todos se entendem perfeitamente. Graças às legendas, também o espectador os entende, como notava com pertinência o crítico da “Variety”, que se esqueceu, contudo, de sublinhar que essa sequência proíbe a dobragem, que lhe retiraria por completo o sentido.
Mesmo que admitamos, como hipótese, que os quatro dominam as quatro línguas (não parece ser o caso), nenhum fala a fala do outro. Como aliás é notado, a situação é a inversa do mito de Babel. A língua não é barreira mas continuidade sem ruptura. É a falar que eles se entendem, no diálogo mais antiglobalizador que alguma vez ouvi em cinema. Mesmo que um dos temas de conversa seja a globalização e que a grega recorde que os “founding fathers” americanos ponderaram seriamente a hipótese de o grego ser a língua dos Estados Unidos, o que, caso tivesse acontecido, daria hoje ao grego estatuto universal, em vez de um estatuto cada vez mais regional que Irene Papas tanto lamenta.
Numa mesa próxima estão uma professora de História e a sua filha, ambas portuguesas (Leonor Silveira e Filipa de Almeida). Quando, mais tarde, o capitão as convida para se reunirem aos quatro (antes fizera à professora convite mais dúbio), o “milagre” interrompe-se e é na língua “global” (o inglês) que Leonor Silveira dialoga com os habitantes da outra mesa. A nossa fala, ao longo do filme, não é comunicável senão entre portugueses (mãe e filha, ou ambas com Luís Miguel Cintra, a fazer de Luís Miguel Cintra, quando, “por acaso”, se encontram no Cairo e aquele lhes faz de cicerone).
Por que é que Portugal não sai de Babel? É uma boa pergunta que pode ajudar a perceber por que é que o destino das duas portuguesas é o único que é diferente do destino de todos os outros passageiros do navio. Portugal é um caso à parte? Neste filme, é-o. Há contactos, mas não faz parte do jogo. Sempre “off”, é, no fim, o que fica mais “in”, no sentido mais radical da expressão.

3 – Navio. Quase todo o filme se passa nele, viagem de uma mãe e filha pelo Mediterrâneo, matriz da civilização de que vivemos os dias finais. Essa situação levou alguns críticos estrangeiros a comparar este último Oliveira a “E La Nave Va” de Fellini. Só que este navio não vai. À excepção da parte final da viagem, quando o Mediterrâneo não é mais dele, só o vemos imobilizado nos vários portos (Marselha, Nápoles, Atenas, Istambul, Cairo, Aden) ou num belíssimo plano recorrente, em que a proa rasga as águas azuis. Ao princípio (largada do Tejo e de Lisboa) há movimento (“travelling” até Belém) mas não há palavras, com o filme falado a começar como filme mudo. Depois, sempre na mesma amurada, em plano em que quase só muda a indumentária das protagonistas, o navio está acostado. Dele, se vê a entrada de Catherine Deneuve (Marselha), de Stefania Sandrelli (Nápoles) e de Irene Papas (Atenas). Catherine Deveuve é filmada em “plongée”, num curto plano. Stefania Sandrelli tem uma entrada mais aparatosa. Irene Papas, entrada de vedeta. Mas só passado o Mediterrâneo todos se encontram e só passado o Mediterrâneo vemos o interior do navio, até essa altura nunca desvendado. Já não é meio de viagem, mas sim fim de viagem, já não é lugar de cruzeiro, mas marca de cruz. Barca de Caronte, se preferirem. E, se há filme nos antípodas do de Fellini, é um “Um Filme Falado”, certamente o mais clássico e o menos barroco dos filmes de Oliveira. Se se pode dizer que ambos choram o fim de uma civilização, o que é transbordante em Fellini é contido em Oliveira. Nada nos prepara para o desfecho e, no entanto, sem esse desfecho, que é um dos cumes da arte de Oliveira, nada faria sentido. E é um desfecho em “paralítico”.

4 – Como a mãe não se cansa de dizer, essa viagem, planificada para ir ao encontro do marido, que a espera em Bombaim, é um cruzeiro porque decidiu aproveitá-la para mostrar à filha os lugares santificados (ou mitificados) da história do Ocidente. É uma viagem de instrução, como se dizia antigamente. É nessa instrução que tropeçam quase todos os detractores (significativamente portugueses) do filme de Oliveira. A mãe, professora de História, conta a História como Luís Miguel Cintra contava a História de Portugal no “Non”. Mas em Marselha o que sobressai é um “caniche” branco, são os mercados, é uma conversa em francês com um vendedor de peixe e é uma placa no chão, remetendo para a colonização fenícia e para a invenção do alfabeto. Em Nápoles, o Castel dell’Ovo e a profecia de Virgílio que o assinalou como sinal de perenidade. O Vesúvio. Ou Pompeia, com a pergunta sobre “o que é uma vida devassa”, a sobreposição dos guias turísticos e o campo-contra-campo do “décor” “reconstituído” e da ruína. “Cave canem”. Em Atenas, a Acrópole e “como podia ser bonito se tudo estivesse como era”, fala desmentida pelos fulgurantes planos do Pártenon, do Erectéion e, sobretudo, pelo “plongée” inadjectivável sobre o teatro. Depois, Istambul e Santa Sofia. Depois, o Cairo e a Esfinge.
Mas, a partir de Constantinopla, os sinais são mais elípticos ou crípticos. Junto ao chão, em plano de pés, mostram-se-nos as cruzes do cristianismo deposto. Os caminhos começam a ser caminhos opostos, na direcção de Meca ou na direcção de Jerusalém. No Cairo, a esfinge e os escaravelhos iluminam os vivos e os mortos, visitantes dos abismos e do oculto. O azul é a cor do maligno e o que se vê já não coincide com o que não se vê. Insensivelmente, sem mudança de tom nem mudança de estilo (sempre a mesma vaga névoa, sempre o acidental a significar tanto quanto o essencial) estamos a ser levados para o que todos os mitos ensinam, ou para a moral da fábula. Uma desarmante simplicidade? Eu prefiro chamar-lhe uma desarmante complexidade, pois que não me lembro de ser levado tão longe com tamanho deslizamento. Meu Deus, como tudo pode ser tão aparentemente simples (não há um efeito, não há uma “culminância”) sendo tão abissal.

5 – Mas não quero acabar sem dizer que este é um filme – talvez seja o primeiro – que traz a memória do 11 de Setembro e a imagem do mundo que a 11 de Setembro começou.
O plano final é a reverberação (espelhada, depois, no olhar assombroso de Malkovich) dos “plano” que vimos, quando homens e mulheres saltaram das torres. Mas nem mãe nem filha saltam, desobedecendo à ordem do capitão. Já não há tempo. Estão, como estivessem no início, na amurada do navio. Mas o tempo suspendeu-se definitivamente e aquilo que foi viagem para transmitir a memória do passado, já não tem qualquer futuro.
O vento da morte (vento do norte) soprou mais forte, ao contrário do que pediu a belíssima canção de Irene Papas. Ficou-nos a beleza de Outrora? No filme ficou. Do navio, a última imagem é a de Copérnico, o primeiro a dizer-nos que a Terra não é o centro do Universo. E é para outros universos que “Um Filme Falado” nos convoca. Quem, neles, falará a nossa fala? Alguém nos ouve? Alguém nos vê?

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Adrian Martin em português

O Adrian deixou o aviso nos comentários, mas é sempre bom reforçar tem uma excelente entrevista exclusiva com ele no Ainda não começamos a pensar, o ótimo blog do português André Dias. Desde já na lista do que de mais relevante foi publicado em português em 2009.

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Gran Torino

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Sempre me divirto muito com as discussões sobre Clint Eastwood. Vou escrever mais sobre Gran Torino antes do filme estrear, mas ri muito da dificuldade de alguns de entender os métodos de Clint. Não que Gran Torino não tenha suas fragilidades como ocorre com alguma freqüência em determinados filmes de Eastwood as necessidades de sublinhar certos pontos para o espectador não deixa de vir acompanhadas de algumas caricaturas excessivas as margens da trama, que se não incomodam e são até fáceis de entender o sentido não deixam de soar como corpos estranhos dentro do filme. Por outro lado, sigo lendo reclamações sobre o jovem ator que interpreta o padre que tenta convencer o personagem de Eastwood a se confessar. O rapaz, que me parece muito eficiente em todas as suas seqüências, visivelmente não tem presença de cena para dividir a tela com o astro/autor. O que me parece tanto a razão pela qual é mencionado negativamente na maioria dos textos sobre o filme, como toda razão de ser do seu personagem. É um pouco como Jorge Rivero diante de John Wayne no Rio Lobo de Hawks, parado ali diante de Eastwood o garoto faz mais para reforçar o mito do que muitos textos laudatórios seriam capazes.

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