É, acho que a publicidade venceu…

Duas semanas atrás, o Felipe Bragança publicou um artigo no Prosa & Verso de O Globo traçando um histórico da última década do cinema brasileiro sobre o ponto de vista da “nossa” geração. É a versão mais curta de um artigo que circulou de mão em mão alguns meses atrás e que eu só conheço de descrições. É uma polemica e um manifesto que abandona os filmes em função de um esforço de historiografia do presente muito autocentrada.  As aspas do “nossa”  são literais, a história que o Felipe – que é suficientemente meu amigo para nas vésperas da sua primeira viagem de pesquisa de locação para O Céu de Suely ter pernoitado no sofá-cama da minha sala – descreve é uma que me é familiar o suficiente para reconhecê-la e filtrada  suficiente pela sensibilidade e olhar do autor para me parecer muito distante.  Como o título do texto anuncia, é a história da trajetória do Felipe em meio à critica online e depois no jovem cinema brasileiro que está narrada ali. Acho que outros críticos e cineastas que, como eu, têm certa afinidade pelo universo que Felipe descreve, devem manter a mesma ambivalência com o retrato que ele traça. Felipe já há muito assumiu para si o manto de ideólogo da sua geração. Me parece importante notar isso e, ainda mais, perceber que, se existem pontos de contato entre o filmes do Felipe e da Marina Meliande com os filmes do Bruno Safadi ou do Gabriel Mascaro ou ainda dos Pretti, Parente & Diógenes, existem também grandes distâncias que são apagadas quando Felipe assume um papel político. Se há um limite claro no artigo, é justamente distanciar-se por completo da especificidade dos filmes em função de uma mensagem de que este cinema existe e precisa ser reconhecido.

Semana passado o Carlos Alberto Mattos respondeu ao artigo de Felipe com um contra-manifesto cujas respostas me deixaram bem perturbado.  Como disse acima, acho o texto do Felipe Bragança tem propostas e limites bem claros dentro das suas qualidades e equívocos, que por si só não me fariam comentá-lo aqui. O tom do texto do CAM é de uma indulgência enorme: “vamos com calma meninos, que há uma ordem de valores do bom cinema brasileiro e não podemos atropelá-la”. É um artigo tão ideológico quanto o do Felipe, e é por isso mesmo que ler os elogios nos comentários do blog dele – inclusive vindos de pessoas que eu respeito muito como o Carlosmagno Rodrigues e a Tatiana Monassa – me deprimem muito. Não há ponto mais significativo acerca dos limites dos dois textos do que o modo como retomam a suposta importância de O Céu de Suely para a cena atual do nosso cinema. A idéia do Felipe, de que se trata de uma virada do cinema brasileiro, é bem absurda. O filme do Karim Ainouz certamente não significa nada em termos de formatos de produção (como significariam filmes como Ainda Orangotangos ou Meu Nome é Dindi) e em termos estéticos está bem abaixo de outros trabalhos de cineastas que estrearam na década (como Madame Satã do próprio Ainouz ou O Prisioneiro da Grade de Ferro, para ficarmos em dois filmes um pouco anteriores). O que O Céu de Suely efetivamente tem a seu favor dentro da narrativa do Felipe – para além de ser um filme central para a trajetória individual dele – é ser bem representativo de um diálogo mais aberto com o “cinema contemporâneo de festivais”, mas isto não é necessariamente o que o filme tem de melhor. Se há um limite claro em muitos dos filmes que o texto do Felipe pretende consagrar, é justamente que eles acabam soando como trabalhos de esforçados estudantes de tendências contemporâneas. Eleger O Céu de Suely como marco é ressaltar este cinema por algumas das suas características menos interessantes.  Já o CAM é mais direto: desautoriza a historiografia do Felipe não indo até os filmes para achar as contradições dela, mas ao dizer “Felipe parece desconsiderar o caminho aberto por Terra Estrangeira, de Walter Salles”, e assim voltamos quinze anos no tempo para elogiar como porta voz do bom cinema brasileiro um bem intencionado e competente sub-Wim Wenders feito por Walter Salles no auge do caduco conceito de retomada.

Se falamos de dois textos políticos, o olhar de Mattos não podia ficar mais claro ali: a idéia de bom cinema brasileiro está nas mãos dos nossos grandes cineastas de sucesso, como Salles ou Fernando Meirelles, passando por alguns outros nomes já reconhecidos, como o próprio Ainouz. À garotada cabe o elogio distante e a espera pela sua vez de sentar na mesa do bom cinema brasileiro: “os recentes longas da turma da Alumbramento (Ceará) trazem uma simpatia e uma busca estética a suprir parte do enorme vazio que ocupa o seu centro. Alguns mineiros têm seu charme e propõem radicalidades embasadas em talento plástico e escolhas bem definidas.”. “Uma simpatia” o “tem seu charme”: a escolha de palavras é das mais significativas. Vale dizer que quem conhece a obra do Carlos Alberto Mattos sabe que ele tem um olhar muito claro para o cinema. Basta pensarmos em alguns filmes que ele agraciou recentemente com a cotação mínima no blog dele, como Filme Socialismo ou White Material. O maior mérito de Mattos como crítico é justamente não estar preocupado com o que acham das preferências dele (e ele já disse que não liga se o chamamos de careta). Pois bem: o subtexto do texto dele não deixa de apresentar uma notável caretice. Se o olhar do Felipe pode ser visto com a desconfiança de certo deslumbramento com o “cinema contemporâneo” (como a ênfase do seu texto na aceitação nos festivais internacionais), o do Carlos Alberto Mattos não deixa de mostrar uma certa fobia do mesmo. Eu vivo o cinema brasileiro há quase vinte anos e neste meio tempo ele (e por ele entendam o cinema oficial brasileiro) sempre foi um dos mais retrógados do mundo. O texto do Mattos é uma faceta bem intencionada do mesmo, e o que seu texto pede é que os pirralhos o deixem em paz com seus Terra Estrangeiras e no máximo apreciando um O Céu de Suely aqui, um Mutum ali. É um olhar digno e honesto, mas é muito distante do que eu acredito.

O que pega, porém, é o que está no centro do aspecto político do embate dos dois textos. O que CAM sugere é que estes filmes do tal novíssimo cinema brasileiro foram até hoje festejados por uma suposta rede de proteção, seriam filmes intocáveis, em suma. De certa forma, é um olhar aparentado ao lançado sobre este mesmo cinema num Cinema Falado da edição 96 da Contracampo. A versão original do artigo do Felipe era justamente uma resposta a este bate papo. E é interessante notar que a primeira fala da conversa parte justamente de uma crítica à lista dos melhores filmes brasileiros da década publicada pela Revista de Cinema, instituição maior da cobertura oficial do cinema brasileiro. O discurso pró-ordem estabelecida do Carlos Alberto Mattos e o discurso radical da Contracampo se encontram na mesma recusa aos “novíssimos”, vistos por sinal sobre o mesmo olhar generalizante. Existe ali a mesma crítica à tal celebração. Sem negar o risco inevitável do oba-oba, que celebração é esta?  Pois à parte a parca cobertura existente a estes filmes – o que por sinal aumenta o valor do texto do Felipe –, a resposta crítica que ocasionalmente existe está longe de representar a tal unanimidade denunciada. Sergio Alpendre, por exemplo, que já cobriu vários festivais que incluíram estes filmes, sempre foi cético, ao ponto de, quando elogiou esta última edição de Tiradentes, o fez nos seguintes termos: “Poucos filmes fracos, uma maior quantidade de filmes bons (ainda é pouco, mas é um sinal de que os diretores jovens estão se multiplicando, chegando ao longa com mais facilidade e, conseqüentemente, com mais qualidade).” E ninguém confundiria a cobertura do Luiz Zanin para o último festival de Brasília com uma afirmação celebratória, para ficarmos num exemplo da grande imprensa.  Quem não lê a Cinética imagina que, por conta da presença do Cleber Eduardo (curador de Tiradentes) e do Eduardo Valente (curador da Semana dos Realizadores), existe alguma adesão irrestrita aos filmes “novíssimos”, mas os dois redatores (Fabio Andrade e Francis Vogner) que mais freqüentemente escrevem sobre esses filmes são provavelmente os mais céticos e críticos.

Logo concluímos que, se há uma rede de proteção a estes filmes, ela é notoriamente incompetente. Talvez o grande diferencial de olhar seja geográfico: eu sou paulistano e CAM e a Contracampo são cariocas. O tal novíssimo cinema brasileiro não existe em São Paulo, é uma briga por vezes para conseguir uma exibição solta de algum desses filmes (tem dois ou três que me interessam muito e eu nunca cheguei a ver), ao passo que no Rio não só os espaços para circular estão garantidos, mas os cineastas são muito mais visíveis, o oba-oba localizado, mais notável. Se tomarmos a bolha como um todo (o que me parece que tanto a Contracampo como o Carlos Alberto Mattos fazem), pode-se sentir a necessidade de se insurgir contra o tal consenso, mas isto é um giro em falso dentro do próprio umbigo muito maior do que qualquer coisa no texto do Felipe. Alguns anos atrás, a Contracampo publicou um artigo polemico intitulado “A publicidade venceu”, e vendo hoje a reação ao artigo do Mattos não é difícil reconhecermos que tal artigo é mesmo premonitório. Parecemos todos confundir o falar sobre os filmes – algo mais que necessário – com o material de divulgação, os manifestos e contramanifestos com textos e filmes. Chegar a este cinema – irregular e imperfeito como todo o cinema – é detalhe. E terminamos com esta imagem estranha do cineasta radical e da crítica radical abraçando o discurso do auto-intitulado crítico careta porque por uma razão ou outra politicamente convém aos três.  Diante de toda essa retórica, prefiro ficar com os filmes, sejam os bons (Os Monstros, A Falta Que Me Faz, Belair etc.) ou os mais frágeis (A Alegria, Ainda Orangotangos etc.).

22 Comentários

Arquivado em Crítica, Observações

22 Respostas para “É, acho que a publicidade venceu…

  1. Milton do Prado

    Filipe, gostei muito do teu texto, acho que ele pensa os outros textos mencionados (o do Felipe Bragança e o do CAM) de forma bastante apropriada. Mas não se ainda digeri o teu “a publicidade venceu”. Ok, leio teu último parágrafo e está claro pra mim do que tu tá falando. Só acho que corre-se o risco de opor à “publicidade” o discurso do texto do Felipe. Aquilo pode ser uma oposição, entre várias possíveis, e acho que é essa redução que incomoda tanta gente e fez com que o texto do CAM surgisse também como uma espécie de desabafo.

  2. Milton, acho que dá pra resumir o texto do Filipe da seguinte maneira: pode ser que algumas pessoas sejam complacentes com os filmes que estão sendo feitos, mas a complacência mais comum e generalizada é com a incompetência de uma crítica preguiçosa que tem medo de falar de filmes. Se eu entendi direito, assino embaixo.

    Estou justamente começando a escrever um textinho pra defender a idéia de que, por ter tanto trauma do compadrio e da cordialidade, nosso meio cultural deu margem à crítica mais medíocre, aquela que é agressiva por natureza e preguiçosa por medo. Isso já virou uma instituição brasileira. Críticos abaixo da crítica – como Paulo Francis, Barbara Heliodora e José Ramos Tinhorão, por exemplo – fizeram suas carreiras com base nesse tipo de atitude. Infelizmente, só serviram para fulanizar e mediocrizar as discussões, além de terem cometido erros históricos realmente bizarros. Nesse sentido, entendo que o texto do Felipe tem muitos erros, mais do que acertos, mas tem esse acerto fundamental, que é chamar a atenção para uma certa mediocrização da crítica. Discordo muito de alguns alvos eleitos por ele, Felipe Bragança; mas sei que, infelizmente, ele atinge de forma muito certeira algumas das trajetórias de pessoas da nossa geração.
    Seria legal se os críticos malvadinhos fossem tão ou mais rigosoros consigo como são com os filmes. Mas os que tentam acabam do mesmo jeito: optando pelo silêncio.

  3. Felipe

    Gostei muito do teu texto, Filipe. Não li o artigo-resposta do CAM. Não me sinto porta-voz de ninguém. E por isso memos larguei oficialmente a escrita e pretendo diminuir minha presença em festivais e debates o máximo que eu conseguir. Cansei realmente das picuinhas e cinismos correntes – o da tapinha nas costas ou o do cupe na nuca. Assim como ja estava cansado dos criticos chaterrimos e deprimidos que vivem de resmungar em baes – nao é um defeito, é uma limitação que eles tem e tenho que aceitar. Se tudo der certo, em alguns anos, abandono tambem o cinema, meus frageis filmes, e vou viver de algo mais util e importante pra mim e pras pessoas perto de mim. Mas parabens pela problematização das coisas e pela capacidade. Só de provocar esse tipo de discussão com gente de seu nivel de argumentaçao, ja acho que meu texto tenha feito algum sentido de existir. Eu nao preciso me promover. Eu realmente nao estou interessado em ser “bem sucedido” em cinema e nem acho que eu tenha talento para tanto. Sigo, por pura teimosia e por hora, fazendo um filme fragil ali outro aqui. Dentor das minhas limitações, que sao muitas. um grande abraço.

  4. Milton, acho que o Filipe inclui texto do Felipe no Prosa & Verso – sem juizo de valor sobre – entre as estratégias de publicidade, na verdade. É algo extra-filme que tenta servir aos filmes ou ao cinema, e não há nada de ilegítimo nisso. O que o Filipe aponta, e que eu concordo, é que isso se tornou maior do que os filmes: os textos do Felipe e do Carlinhos são mais lidos e debatidos do que os filmes aos quais eles fazem (não mais que) referência, por vezes em cima de simplificações e generalizações necessárias aos manifestos, mas que acabam tomadas erroneamente como posicionamentos críticos sobre determinadas obras.

  5. Também estranhei a menção do Mattos a “Terra Estrangeira”, mas o texto do Felipe me pareceu um tanto obscuro (por exemplo, não entendi o que ele quis dizer com a crítica a uma “diversidade”, assim entre aspas _ ele está defendendo então uma “universidade”, também entre aspas?) e restritivo (como se afirmasse “os filmes que não são feitos do meu jeito são ruins e pronto”). Também não entendo a crítica generalizante ao cinema “narrativo” (ou “dramático, “aristotélico”, sejá lá o rótulo aplicado), isso me soa como “a poesia é sempre melhor que a prosa” ou “a tragédia é sempre melhor que a comédia”.

  6. Bernardo

    O engraçado é que comentar nesse seu texto é colaborar com o que você critica nele. Então, só me sobra dizer que eu concordo com várias coisas, mas também acho que alguns críticos da crítica chegaram a um ponto de contradição dentro dos seus próprios discursos e atos que pára de fazer sentido discutir o que eles dizem com muito afinco.

  7. Antonio

    Para uma rede de proteção (composta não só por amigos, como também por críticos e curadores) o contrário de “bom” é “frágil”. Em última instância, não tem filme ruim dentro dessa rede.

    Em Paulínia passam filmes bons e ruins. Em Tiradentes passam filmes bons e frágeis.

  8. Antonio

    Complementando: o filme ruim a gente pode ignorar. O filme frágil a gente leva em consideração. (A fragilidade não é também uma qualidade?) Ruim é o filme frágil dos outros.

    • Filipe Furtado

      Antonio, eu nunca fui a Paulinia, não sei se os filmes ruins de lá são tão ruins quanto dizem (sei que acho Malu de Bicicleta tão elogiado por lá, e que veja só passou em Tiradentes, uma bomba), minha duas experiencias em Tiradentes (2007 e 2011) foram mais positivas de que negativas e na media os filmes que não gosto são no minimo interessantes. O que não quer dizer que não se tenha exibido filmes ruins por lá, eu detesto Os Famosos e os Duendes da Morte que passou por lá ano passado, por exemplo. Mas filmes que me parecem realmente muito ruins, eu procuro esquecer mesmo.

  9. Parabéns, Filipe, pela pachorra em esmiuçar os subtextos dos dois textos. Não me importo de ser visto como crítico careta se isso significa de fato assumir uma atitude crítica perante filmes e textos correlatos. Apenas não gostaria de me ver reduzido a porta-voz deste ou daquele cinema que passa por “oficial”. Meu gosto e meus critérios são nutridos por cinefilia, honestidade comigo mesmo e amor pelas muitas acepções da beleza. Por isso é que, ao lado de alguns filmes do Salles e do Meirelles, também exalto “Serras da Desordem”, “Jogo de Cena”, “Santiago”, “Lavoura Arcaica”, “Sudoeste”, “Morro do Céu”, “Recife Frio”, “Os Famosos e os Duendes da Morte” (desculpe), “A Alma do Osso”, “Acidente”, “Nome Próprio”, “Árido Movie” e “Amarelo Manga” como alguns dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos, apenas para citar os que me lembro agora. São obras muito distintas entre si, de procedências as mais diversas, mas que têm em comum uma potência, uma integração de meios e propostas de diálogo com o espectador que me tocam e me interessam de maneira especial.
    De resto, não tenho nenhum interesse em projetar uma imagem de mim mesmo através das minhas escolhas. Não pertenço a nenhum grupo, embora não tenha nada contra grupos, ao menos enquanto eles não se tornam “corpos” para comunhão de gostos e interesses.
    Esse debate tem trazido à tona uma série de saudáveis revelações, além de necessárias afinações de discurso, de parte a parte. Bacana que o seu blog venha repercutir, prolongar e aprofundar essa conversa.

    • izabellafaya

      o mais legal desta discussão, pra mim, é ser apenas público.. Carlos, vc tem uma análise bem madura dos filmes e do contexto histórico.. felipe, vc deve viver mais os 10 anos antes dos 40 para ser crítico de uma geraçao, e para ser crítico e realizador ao mesmo tempo, sugiro que viva mais 30 anos para ver o que realmente o quanto os seus filmes contribuiram para a nossa cinematografia e para a “cinefilia” das futuras geraçoes…

  10. Ana Moraes

    Oi Filipe,
    muito interessante suas colocações. Existem outros textos sobre esse contexto que podem ajudarnos a desdobrar essas reflexões.

    http://cinema.cineclick.uol.com.br/noticia/carregar/titulo/a-mudanca-da-producao-brasileira-esta-so-no-comeco-afirma-autor-de-cinema-de-garagem/id/30081/

    http://www.revistacinetica.com.br/cinemaposindustrial.htm

    Saudações!

  11. Afrontamentos são fundamentais para a conclusão de uma idéia sobre o que está acontecendo. Assumo minha posição “sectária” e estou disposto a debater, muito conhoço a maioria dos “novos crítico” tenho uma relação amigável com a maioria dos “novíssimos” deste cinema extra – SP. Mesmo com equivocos todos os textos sub linkados ou super linkados revelam imposições desconfortos e “apadrinhamentos” (que infelizmente historicamente sempre sempre existiram, seja o Vaticano, os mecenatos, Peggy Guggenheim, Andy Warhol … sem falar no capitalismo do cinema). Lendo os comentários sobre seu texto, encontrei cada figura, até o Paulo Ricardo da Moviola, e senhor é de arrepiar, ele que te elogia sempre posta imagens em suas matérias preguiçosas de filmes os quais ele vai apedrejar e elege o lugar comum como maraviloso, sua crítica não existe como a de muitos outros apenas descreve cenas, elogia e desqualifica de maneira feroz e apaixonada o cinema que ele odeia. Tá aqui te parabenizando. que ele aprenda com seu texto. Mas não faça como os outros não replique sobre Terra Estrangeira que também considero lixo menor de um cinema importdado e mediocre. Historicamente vivemos um processo de restituição do realizador- pensador, que foi esmigalhado aqui pela ditadura e em outros países pela guerra fria e a absorção da contracultura com mercadoria, o que os marxistas chama de dicotomia. Foi distanciado o fazer do pensar, hoje temos uma nova atmosfera de criação onde temos quase uma obrigatoridade de realizadores engajados em pensamentos filosóficos, políticos, libertários, céticos, mercantilistas. O que firou lugar comum há 20 anos no Brasil, nas artes pláticas, hoje dão novas perspectivas ao atrasado cinema brasileiro em todas suas instâncias.

    A exposição de posicionamento crítico e político dá dinâmica à transformação do imaterial, do pensamento, do bem cultural, dos aprelhos ideológicos. Muitos filmes e muitos pensamentos tornados públicos, mesmo que seja neste microcosmo do jornalismo, das curadorias, dos críticas da produção cinematográfica e das artes, poderá surgir trabalhos que sobreviveram ao momento rescente/presente.

    Viva Paulo Ricardo que tem toda liberdade de se posicionar como os demais mesmo que eu como homem púbico o recrimine por sr também. Viva Cezar Migliorim mesmo não mensionado aqui, viva Fabio Andrade, Cid Nader também distante desta discussão provinciana. Viva as boas imgens, pensamentos e sentimentos em conflito. Viva o conflito e sua conclusão. Nada é perpétuo.

    • Paulo Ricardo Gonçalves de Almeida

      Ao dispor.

      • carlosmagno

        Vc me ajuda com minha dislexia? O resto tá bom… e posso ir mais adiante mas na tela, não aqui. Aqui tudo está de passagem, está fadado a desaparecer , desmagnetizar, perder a cor, até o nada…
        A ainda bem que Ilustrada , caderno B, revista BRAVO, seja o que for, não segura mais ninguém. . . fique à vontade a tela é sua. . . é de todos.

  12. Pingback: Minha resposta a Filipe Furtado « …rastros de carmattos

  13. Tatiana Monassa

    Filipe, eu acho que vc tem toda a razão. É o que o Alpendre sempre fala: sobram os filmes, por fim. E ele talvez seja a pessoa da “nossa” geração que cultiva o melhor esforço crítico dentre todos nós: aquele de não se deixar ofuscar pelo entorno, de seguir tentando ao máximo se focar nos filmes e em sua experiência com eles. Eu confesso estar meio “trapped” em meio a tudo isso e, no fim, agir um tanto mais politicamente do que outra coisa. Mas é preciso lembrar também que “política” não é “publicidade”, e é aí nesse embaralhamento que mora o grande perigo com que “nossa” geração não sabe lidar a contento. Reflexo dos tempos?

  14. Joao Gabriel Paixao

    Vou tentar sistematizar minhas ideias. Excelente texto, Filipe.

    1. Sim, filme-a-filme é o único caminho certo. Eu, por exemplo, gosto de A Alegria.

    2. Filme-e-filme é um caminho, como eu disse, mas não necessariamente um fim. Fazer a síntese com o material apreendido é um dos trabalhos do crítico e é o que o diferencia de um cinéfilo-“criança”. Se não se alcança essa síntese, se até se recusa a isso, me parece que se fica menos implicado, confortavelmente distanciado. Pode-se até se tornar um “critic machine”, uma máquina decifradora de filmes, mas isso é um trabalho por demais individualizado e, no fim das contas, uma perda de tempo.

    3. Síntese não é generalização. Aí cabe diferenciar o bom e o mau crítico; ou melhor, o crítico do polemista ou do fofoqueiro.

    4. Tenho a impressão que o texto do CAM é por demais factual e genérico; não gostei do texto. Não gosto nunca quando a coisa do novíssimo fica em se acusar nomes ou filmes. Achei o seu texto muito bom por querer sair dessa.

    5. Estamos vivendo um momento saudável de ambiente crítico, de discussões e euforias. Parabéns a todos, porque foram vocês que construiram isso.

    6. Mas acho que, se limitando no filme-a-filme, pode-se sair covardemente deste ambiente crítico. O ambiente crítico precisa ser estimulado e desenvolvido, ao invés de ser pleonástico pela generalização ou dissimulado em uma suposta cegueira que, entre um filme e outro, existe somente o vazio. O ambiente crítico não se reduz a um mero gosto/não gosto do novíssimo.

  15. Marcelo Lyra

    Filipe, achei que sua colher caiu bem nessa discussão. Eu do meu lado, tendo a ver elementos importantes em cada uma das colocações, Felipe, Carlos, Filipe. A discussão toda está sendo mais que oportuna e vejo que ela se espalhou pela internet e mesas de bar como um rastilho de pólvora. De longe a melhor discussão do cinema brasileiro recente. Que não se torne um Fla-Flu, mas uma boa reflexão que leve a mais filmes. Abração meu caro.

  16. Raul Arthuso

    Filipe, gostei muito do seu texto exceto por um sintoma que me incomoda muito: o momento em que você meio que “justifica” a crítica que fará ao texto de Felipe Bragança dizendo que é amigo suficiente dele para fazer a crítica. Me pareceu uma conciliação. É uma questão de abordagem que me incomoda muitas vezes em debates e mesas de críticos/cineastas, uma idéia de afagar antes de bater, como se estivéssemos todos juntos em torno de algo cuja discordância é coisa de celerados.
    Entendo que seu texto em geral não tem esse tom. Ele tenta ser ponderado antes de tudo. Mas essa única frase, um “apêndice” àquele momento, me soa como se você dissesse: posso dizer isso porque o conheço o suficiente E eu posso dizer isso porque sou amigo o suficiente. Fica um ruído de abordagem, de postura.
    Lembrei da “mesa redonda” da Contracampo em que eles discutiam em dado momento essa questão conciliatória que está no ar no meio cinematográfico.
    A minha questão é: o que muda você ser amigo o suficiente ou não do Felipe Bragança? Quero dizer conciliatória nesse sentido: esse ruído do texto desautoriza uma crítica que não seja amigável.
    Não se trata de criar um Fla-Flu de idéias, mas se não se pode mais criticar pelo simples ato da discordância – e precisamos mediar o pensamento a partir das relações pessoais – temos um problema.
    Abraços.

  17. Pingback: É, acho que a publicidade venceu… (via Anotacões de um Cinéfilo) | Beto Bertagna a 24 quadros

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