Sou muito novo para me lembrar dos tempos em que Clint Eastwood não tinha nenhuma reputação, minha cinefilia começa durante o trio Imperdoáveis/Mundo Perfeito/Pontes de Madison que sedimentou parcialmente sua imagem como cineasta de verdade, mas me lembro bem do longo período entre Poder Absoluto e Divida de Sangue quando ser fã de Clint Eastwood era tarefa difícil. Não porque os filmes fossem fracos. Bem longe disso, apesar de que com distancia e sem a necessidade de partir em sua defesa a cada filme é visível que não se trata do mais brilhante dos períodos (exceção feita ao ainda muito subestimado Crime Verdadeiro). E era preciso defendê-lo a cada filme porque o tom derrogatório sempre ressurgia em peso a cada lançamento (“o roteiro tem tantos buracos que parece até filme brasileiro”, a Set sobre Crime Verdadeiro). Acho fascinante como a transformação a partir de Sobre Meninos e Lobos e sobretudo como ela no final das contas foi só cosmética. Todos os últimos seis filmes de Eastwood chegaram até nós com toda pompa, circunstancia e prestigio possíveis. A Troca é um Clint Eastwood legitimo, mas a embalagem não deixa de estar muito distante dos tempos de Crime Verdadeiro quando defender Eastwood era tão trabalhoso quanto defender Carpenter (o Ruy até defendeu ao filme junto com Vampiros nos áureos tempos da Contracampo). Mas de alguma forma ser fã do Eastwood mudou muito pouco. Basta ver o tom um tanto defensivo de muitos sobre o filme. Não por conseqüência de alguns serem incapazes de abandonar velhas posturas outra tolice do tipo. Mas porque de alguma forma por trás de toda pompa em muitos meios permanece um desejo de desmascarar “a farsa Eastwood”, e ao cinéfilo que aprecia o seu trabalho cabe a cada filme recomeçar o mesmo esforço de justificar porque Eastwood é uma figura essencial. Já li barbaridades a respeito de A Troca, espero barbaridades ainda piores a respeito de Gran Torino (um Eastwood muito superior, mas com menos áurea de filme respeitável e uma perspectiva fulleriana muito distante das sensibilidades do bom cinema por volta de 2009). O paradoxo da recepção do Eastwood não tem muitos equivalentes com nenhum outro cineasta em nenhum outro momento.
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David Hudson, responsável pelo melhor apanhado de links de lingua inglesa da web, se mudou do Green Cine Daily para cá.
A Film Comment colocou no ar um bom podcast sobre Clint Eastwood aqui.
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