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Um Passeio pela obra de Johnnie To – Parte I: Introdução

Johnnie-To

Um projeto novo aqui para blog: um passeio cronológico pela filmografia de Johnnie To. Algo que torna To uma figura fascinante para um exercício do tipo é que ao contrário da maioria dos autores contemporâneos, ele trabalhou aos poucos dentro da indústria até construir uma obra, incluindo muitos trabalhos relativamente anônimos no começo da carreira. É uma trajetória bem mais comum a cineasta pré-1960. Vou dividir a série em 10 posts:

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Drug War (Johnnie To,2012)

Uma espécie de filme de golpe no qual Johnnie To e sua equipa da Milkyway viajam a China para tentar realizar um filme policial nos seus termos diante dos olhar austero da censura chinesa e sobrevivem com poucas feridas. A imagem do gangster da China continental solta nas ruas de Hong Kong rebatida muitas vezes desde o The Long Arm of the Law (1984) é revertida com várias figuras carimbadas de To adicionando cor num filme de investigação e procedimento ademais muito sóbrio. É o filme mais hawksiano de To da maneira como personagem é visto através de ação (nenhum dos policiais chineses é permitido qualquer história, existem somente para o trabalho e destinados a desaparecer tão logo sua função no filme seja cumprida) e como de forma bem consciente o filme retoma partes distintas da obra do cineasta dos filmes de grande equipe policial (o fantasma de Expect the Unexpected assombra toda a ação) e da série Eleição. Drug War adia sua ação ao máximo substituindo por umasériede cenas que apostam no acumulo de detalhes para elevar tensão até que a violência finalmente emerge levando consigo cada corpo que passou diante do olhar na câmera na hora anterior. Uma narrativa de infecção, depois que que a guerra do título esta na suas veias não a saída possível mas a da morte violenta. Pode-se até dizer que o filme é um longo pesadelo do condenado a morte (o filme todo se sustenta no fato que o trafico de drogas seja punido na China com a pena de morte). To sucede porque ele e seus atores (e aqui vale uma menção extra ao grande Sun Hong-lei numa das melhores atuações físicas do cinema contemporâneo, o homem literalmente faz de tudo no filme) recém um painel pálido e regido e consegue encontrar nele uma série de espaços e variações inesperadas (há, por exemplo, uma cena muito peculiar em que um personagem quase tem uma overdose que parece existir  somente para puxar ao limite o que um filme como este pode registrar) e também encontram o balanço certo de ambiguidade moral.

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Vengeance (Johnnie To,09)

Mais que qualquer outro dos seus filmes recentes Vengeance nos diz muito sobre o porque Johnnie To é um grande cineasta. O filme não tem a graça de Sparrow, o olhar apurado de Eleição 2, a energia de Exilados ou a criatividade de Mad Detective. Claro que há um pouco de todas essas coisas (todos estes filmes tem afinal), mas é na superfície um filme mais genérico (a começar pelo nome), uma “reles” homenagem a Melville (cineasta que eu não gosto por sinal). Mas ali na história do homem que chega a Macau para vingar a família assassinada da filha, ele encontra algo que fala a ele de tal modo que o filme acaba alcançando uma potencia própria. Esta dedicação não deixa de existir em paralelo com a própria idéia principal do filme (o homem com uma bala na cabeça aos poucos perde a memória, mas segue propolado a cumprir sua missão). Podemos dizer que tudo em Vengeance é decalque (o uso icônico de Johnny Holyday, a relação de honra entre os pistoleiros, o peso da palavra empenhada, os tiroteios, o sacrifício, etc.) de que se trata só de um outro filme-filme, só que não é assim que To vê as coisas, o empenho dele é outro muito maior e porque ele acredita em Vengeance, por duas horas nós acreditamos também.

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Sparrow (Johnnie To,08)

Tão leve que parece pedir para ser encarado como um filme menor de Johnnie To, trata-se de um dos seus mais elaborados e cuidadosos trabalhos já realizados por ele. Um musical sem números musicais visivelmente influenciado por Demy (para muito mais que a trilha à Michel Legrand) sobre ladrões de carteira e uma série de pequenos golpes e trapaças. Para muito mais que a coreografia e o tom de doce melancolia que marca o filme, a influência de Demy se dá na maneira que toda leveza do filme nunca disfarça o que está em jogo em cada troca em que os personagens se envolvem. No meio do caminho To nos apresenta a algumas das mais precisamente coreografadas seqüências do cinema em especial o duelo dos batedores de carteira e o interlúdio entre Simon Yam (perfeito como sempre), Kelly Chen e um cigarro que consegue superar qualquer coisa que Kar-wai tenha feito em termos de cinema fetichista. Mas Sparrow trata-se sobretudo de uma magnífico filme de cidade onde To vai aos poucos catalogando as mudanças de Hong Kong nos últimos anos (razão pela qual ele gastou 3 anos filmando este filme aparentemente muito simples e a ênfase no hobby de Yam ser fotografia). Sparrow respira a cidade e a câmera do cineasta sempre a lerta para descobrir um novo ângulo e uma nova maneira de entregar ação a locação. Seria o melhor filme tanto do Festival como da Mostra caso estivesse na programação.

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