Favoritos de 1967

1967

Post especial no blog hoje com meus filmes favoritos de 1967. O formato é o mesmo dos posts de fim de ano, mas com 100 filmes. Único critério é que todos os filmes tenham mais de 45 minutos, o que derrubou Wavelength do Michael Snow e alguns curtas.

Menções Honrosas: Os 26 do Expresso Postal/Robbery (Peter Yates), The Affair (Yoshishige Yoshida), Les Caifanes (Juan Ibañez), Cara a Cara (Julio Bressane), O Cérebro de um Bilhão de Dólares/Billion Dollar Brain (Ken Russell), Col Cuore in Gola (Tinto Brass), A Dança dos Vampiros/The Fearless Vampire Killers (Roman Polanski), Diabolicamente Tua/Diaboliquement Vôtre (Julien Duvivier), Um Dolar para Matar/Bandidos (Massimo Dallamano), Don’t Look Back (D.A. Pennebaker), O Golpe do Século/The Jokers (Michael Winner), A Grande Cilada/A Time for Killing (Phil Karlson, Roger Corman), I, a Man (Andy Warhol, Paul Morrissey), King Cat (Hsu Tseng-hung), A Lagrima Secreta/Poor Cow (Ken Loach), Lobo Samurai 2/Samurai Wolf II (Hideo Gosha), Love Affair (Dusan Makajanev), A Mulher de Meu Pai/La Mujer de Mi Padre (Armando Bo), On Paper Wings (Matjaz Klopcic), Os Onze Samurais/Eleven Samurai (Eichi Kudo), Operação Irmão Caçula/Ok Connery (Alberto de Martino), Quem Bate a Minha Porta?/Who’s That Knocking at My Door? (Martin Scorsese), Texas 1867/Payment in Blood (Enzo G. Castellari), Velvet Hustler (Toshio Masuda), Vou, Mato e Volto/Any Gun Can Play (Enzo G. Castellari).

100) Capricho/Caprice (Frank Tashlin)
1967100
No final da carreira o humor cartunesco de Frank Tashlin se revela mais contido quase civilizado porém não menos caustico. Doris Day e Richard Harris são um casal bem improvável mas muito bem aproveitado.

99) A Morte Não Conta Dólares/Death Does Not Count the Dollars (Riccardo Freda)
196799
O velho oeste não é o espaço mais natural para um mestre do gótico italiano como Freda, mas este é um Spaghetti perverso e cheio de soluções inventivas.

98) Breves Encontros/Brief Encounters (Kira Muratova)
196798
Filme de estreia de Muratova prenunciando muito do que ela viria fazer depois, se menos radical e mais mergulhado nas tradições dos cinemas dos países comunistas do período.

97) O Incerto Amanhã/Hurry Sundown (Otto Preminger)
196797
Um filme sobretudo para fãs de Preminger com um trabalho de encenação dos mais vigorosos a serviço de um melodrama épico sobre disputas de terra no sul dos EUA bem irregular. Uma das vantagens de se falar sobre filmes de mais de 50 anos é que aquilo que à época poderia ser só um problema, como a incapacidade de Preminger de imaginar as cenas com a família negra, ganham em retrospecto muito de interesse.

96) …E o Bravo Ficou Só/Will Penny (Tom Gries)
196796
Dos melhores faroestes revisionistas americanos do período. Charlton Heston possivelmente nunca teve oportunidade melhor de ir além da imagem de astro de ação. Tom Gries é uma figura irregular, mas muito curiosa desse período que tende a terminar soterrada diante de figuras mais chamativas da Nova Hollywood.

95) Depois que Tudo Terminou/ I’ll Never Forget What’s’isname (Michael Winner)
196795
Das varias sátiras conservadoras que lançaram a carreira do Michael Winner, com sua combinação de apropriação da cultura jovem da época e completo pavor dela, esta é certamente a melhor. Oliver Reed e Orson Welles, inspiradíssimos (no caso do segundo em parte por odiar estar ali). É mais ou menos o que Mad Men seria se fosse mais honesto sobre seu próprio olhar.

94) Zatoichi’s Cane Sword (Kimiyoshi Yasuda)
196794
Na altura que Ichi, o samurai cego, alcança sua 15º aventura ele estava afundado numa crise de identidade sobre seu papel violento aqui externalizada pela ideia de que a sua espada está prestes a se romper. É um dos filmes mais rotineiros da série, mas Zatoichi é uma das melhores series do cinema e há muita tensão e o final é impecável.

93) O Terceiro Tiro/Games (Curtis Harrington)
196793
A tentativa de Curtis Harrington de chegar ao mainstream americano deve ser o seu filme mais acessível. Um pastiche de Clozout com direito a presença de Simone Signoret. James Caan e Katherine Ross, perfeitamente escalados, como a imagem do novo cinema americano acossado pelas sombras europeias.

92) A Louca Missão do Dr. Schaefer/The President’s Analyst (Theodore J. Flicker)
196792
O cinema mainstream da década de 60 esta cheio de sátiras de espionagem, parte reflexo da popularidade de Bond, parte da paranoia da época. Este com James Coburn como o analista do presidente americano se afundando na conspiração é uma das mais engraçadas e agudas.

91) La Vent des Aures/Rih Al Awras (Mohammed Lakhdar-Hamina)
196791
Na hora de colocar os títulos aqui meu método costuma ser combinar os títulos em português quando eu os conheço com o título que ajude os leitores a localizar o filme se quiserem ir atrás (então um filme francês ou espanhol eu incluo o original mas um russo ou japonês o americano). Menciono isso pois me pareceu errado suprimir o título original deste filme argelino mesmo que ele de pouco ajude o leitor, seria uma traição colonialista num film que é todo sobre a paisagem da Argelia no momento da liberação após dura guerra da independência. O diretor Mohammed Lakhdar-Hamina viria vencer a palma de ouro em Cannes alguns anos depois e provovelmente merece uma redescoberta.

90) Com 007 Só se Vive Duas Vezes/You Only Live Twice (Lewis Gilbert)
196790
Entre os filmes que seguem mais a risca a formula da série 007, este talvez o melhor. Mais inventivo e menos camp e o uso do Japão produz um constraste dos mais eficazes.

89) A Chinesa/La Chinoise (Jean-Luc Godard)
196789
Um dos meus modos favoritos dos filmes de Godard é quando ele assume o papel de bobo da corte trágico completamente envolvido com seu momento mas ao mesmo tempo capaz de encontrar o humor e o que há de crepuscular nele.

88) Mineirinho Vivo ou Morto (Aurélio Teixeira)
Mineirinho Vivo ou Morto
Filme de gangster tirado do calor do momento da crônica policial. Paranoico e raivoso. Um grande casamento, Aurélio Teixeira, cineasta de gênero vigoroso, com Jece Valadão, astro e produtor de inteligência ainda muito subestimada. A ideia central do bandido construído pela imprensa avança sobre muito do que Roberto Farias estabeleceu em Cidade Amraçada e Assalto ao Trem Pagador.

87) O Massacre de Chicago/The St. Valentine’s Day Massacre (Roger Corman)
196787
Uma das produções mais caras e respeitáveis de Corman. Realizada bem no momento do boom dos filmes de gangsters da grande depressão, mas um instate antes de Bonnie & Clyde solidificar a formula. É mais cru que a maioria deles, mais apto a reconhecer na nostalgia pela época seus aspectos mais doentios.

86) A Morte Anda a Cavalo/Death Rides a Horse (Giulio Petroni)
196786
Dos melhores Spaghettis e um daqueles mais diretos sobre seus interesses operísticos/mistificantes talvez porque o diretor Giulio Petroni abordasse o gênero de forma menos complicada do que os Sergios. Lee Van Cleef poucas vezes tão bem utilizado.

85) O Dia Mais Longo do Japão/Japan’s Longest Day (Kihachi Okamoto)
196785
Um dos filmes mais fascinantes aqui da lista por ser um poço de contradições. A Toho resolveu comemorar o seu aniversário de 35 anos produzindo um épico sobre a negociação da rendição japonesa na segunda guerra. De um dos países mais orgulhosos do mundo, um elogio a derrota. Uma dessas recriações minuciosas que se orgulha de se aproximar ao máximo dos fatos que ao mesmo tempo que precisa oferecer espetáculo. Akira Kurosawa, diretor estrela do estúdio, originalmente dirigia mas quebrou o pau e abandonou a casa após 25 anos. Provavelmente foi bom que a tarefa terminou nas mãos de Kihachi Okamoto que muito mais do que Kurosawa se dedicou a guerra e a mentalidade do japonês engajado nela. É uma espécie de contracampo dos seus outros filmes sobre o assunto no lugar dos soldados dementes a matar e morrer, temos o alto comando a tomar as decisões que lhes custariam a vida.

84) Los traidores de San Ángel (Leopoldo Torre Nilsson)
196784
A alma latina durante o auge conspiratório da Guerra Fria é um grande deserto existencial. Torre Nilsson diretor de tendências hiperformalistas transforma cada plano numa jaula do qual é impossível fugir.

83) Trapeze Girl (Ko Nahakira)
196783
Ko Nakahira inaugurou o Cinema Novo japonês com Crazed Fruit em 1956, mas pouco pode se beneficiar do seu pico de popularidade menos de uma década depois estava em exilio como diretor de contrato na Shaw Brothers. A maior parte dos seus filmes por lá misturavam bom gosto visual a serviço de material inócuo (muitos sub Bonds não mais que curiosos), mas este melodrama de circo foi uma oportunidade de mostar que o olhar do cineasta se guia firme, bem observado e cru.

82) Mouchette (Robert Bresson)
196782
Longe de um dos meus Bressons favoritos com uma inclinação masoquista que não compro de todo, mas Bresson é Bresson, e tem muitos momentos memoráveis.

81) O Samurai/Le Samourai (Jean-Pierre Melville)
196781
De certa forma é o filme que Melville sempre quis fazer e como mergulho nos gestos do crime e numa textura do submundo é notável. A melancolia do assassino de Alain Delon sempre me pareceu um pouco posta a priori, mas é um detalhe menor.

80) La Cotta (Ermanno Olmi)
196780
Media de Olmi sobre um jovem italiano apaixonado pela primeira vez. De uma graça e melancolia absurdas. Faria um belo programa duplo com Papai Noel Tem Olhos Azuis do Eustache.

79) Edipo Rei/Edipo Re (Pier Paolo Pasolini)
196779
Pasolini fazendo um filme de Straub/Huillet anos antes do casal estabelecer em definitivo o seu estilo.

78) Massacre Gun (Yasuharu Hasebe)
196778
Filme de guerra de Yakuza super estilizado bem aos moldes do que a Nikkatsu fazia à época (o protagonista é mesmo Jo Shishido da maioria dos filmes de Seijun Suzuki). Está aqui sobretudo pelo confronto final dos mais memoráveis e inventivos do gênero.

77) Subindo por Onde se Desce/Up the Down Staircase (Robert Mulligan)
196777
Uma série de vinhetas sobre as dificuldades do ensino público muito bem conduzidas por Mulligan que como sempre revela um olhar dos mais cuidadosos. A montagem e a direção de atores (tanto Sandy Dennis como os jovens alunos) são ótimos.

76) Flame and Women (Yoshishige Yoshida)
196776
Yoshida, sátiro trágico a observar a modernidade e masculinidade japonesa. O seu trabalho de câmera nesse aqui por si só justifica conhece-lo.

75) A Qualquer Preço/Grand Slam (Giuliano Montaldo)
196775
Filme de assalto passado no Rio muito bem conduzido por Montaldo alguns anos antes dos filmes políticos que lhe renderiam fama. A sequência de assalto com cerca de vinte minutos de imersão física é uma das melhores do gênero. E nenhum outro filme tem Klaus Kinski no seu modo mais psicopata a solta no Rio.

74) Os Saqueadores/Mise à Sac (Alain Cavalier)
196774
Mais filme de assalto. Aqui uma adaptação de um dos melhores livros do Donald Westlake com Parker planejando roubar toda uma pequena cidade. Como o golpe dura o filme quase todo e envolve muita gente e muitas vítimas a tensão para ver quando as coisas vão sair dos eixos não podia ser melhor. É o melhor dos filmes da fase mais narrativa de Cavalier e creio a adaptação mais fiel de um dos thrillers de Westlake apesar de mover a ação para a França.

73) O Magnifico Farsante/The Flim-Flam Man (Irvin Kershner)
196773
Um filme de golpista que sugere um Eastwood antes do tempo, engraçado porém bem amargo. George C. Scott excelente, mas vale sobretudo pela direção de Kershner, cuja carreira nos anos 60 e 70 segue das mais fascinantes e inclassificáveis e merecia ser visto como bem mais que o “diretor de O Império Contra Ataca”.

72) O Harém/L’Harem (Marco Ferreri)
196772
Um dos muitos experimentos de Marco Ferreri em reduzir o homem ao seu estado animalesco. Aqui a circular a figura de Carol Baker. Sátira bastante cruel.

71) Epoch of Murder Madness (Kihachi Okamoto)
196771
Okamoto satirizando os filmes de pistoleiro do cinema japonês do período e todas as fantasias de poder que eles representam. Cruel, amargo, engraçadíssimo e sempre muito inventivo.

70) Ó, Sol/Soleil O (Med Hondo)
196770
A Europa não é o berço da civilização, mas onde ela vai morrer.

69) The Orgy (Koji Wakamatsu)
196769
Após a orgia do capital, não restará nada. Wakamatsu no seu elemento mais apocalíptico com um pistoleiro amador e um dos seus grupos de revolucionários esvaziados. O uso de arquitetura é desolador. Um filme com a certeza de observar uma sociedade a beira do colapso.

68) O Caso dos Irmãos Naves (Luis Sergio Peron)
196768
Brasil este lugar que muda para permanecer sempre o mesmo.

67) Hong Kong Nocturne (Umetsugu Inoue)
196767
Vicente Minnelli vai a Hong Kong. Musical super neurótico com um paleta de cores apaixonante. O japonês Inoue era um dos melhores diretores de contrato da Shaw Brothers. Um dos pontos altos do gênero no cinema local e excelente veículo para as três maiores estrelas do estúdio à época Lily Ho, Cheng Pei-Pei e Chin Ping. Um bom retrato do cinema de Hong Kong um instante antes de Chang Cheh reimagina-lo sobre os termos do melodrama masculino.

66) Privilégio/Privilege (Peter Watkins)
196766
A grande ironia do cinema do Peter Watkins é que um dos grandes satiristas da história do cinema é também um homem completamente sem senso de humor. Deste contrassenso nasce boa parte do interesse dos seus filmes. Privilégio com sua visão de cultura de massa como porta de entrada do fascismo podia ser só datado e óvio mas muito por conta desse desarranjo segue um filme fascinante. Lembro-me de um professor recomendando-o para mim como “uma biografia de Roberto Carlos feita antes do tempo” e é uma maneira bem particular de vê-lo.

65) Zatoichi Challenged (Kenji Misumi)
196765
Zatoichi Challenged se beneficia de ter um dos melhores antagonistas da série e o filme toda ´esta espera pelo duelo inevitável entre Ichi e seu quase amigo. O intervalo entre o primeiro encontro e o duelo são uma série de ecos das aventuras anteriores em particular Fight, Zatoichi Fight dirigido pelo mesmo Kenji Misumi uns três anos (e 9 filmes) antes. Claro que o confronto justifica toda a espera reforçando que Misumi era provavelmente junto a Hideo Gosha, os melhores diretores de filmes de samurai ao menos no que cabe o espetáculo físico.

64) Proeza de Satanas na Vila de Leva-e-Traz (Paulo Gil Soares)
196764
Numa terra sem Deus só o sebestianismo salva. Muito mais engraçado do que o normal dos filmes do Cinema Novo, deveria ser mais lembrado no cânone do movimento.

63) A Man Vanishes (Shohei Imamura)
196763
Dois filmes em um: a exploração das fobias da sociedade japonesa e da fronteira entre ficção e não-ficção. A graça justamente namaneira que Imamura costura as duas neste “documentário encenado”.

62) …E Frankenstein Criou a Mulher/Frankenstein Created Woman (Terence Fisher)
196762
Um dos mais fascinantes exemplares da serie Frankenstein da Hammer. Entre outras  coisas o bom doutor faz as vezes de casamenteiro reunindo um casal após a morte ao colocar ao juntar um corpo e um cérebro. E Fisher segue um excelente encenador dos conflitos do conhecimento.

61) O Pocurado/Wanted (Giorgio Ferroni)
196761
Faroeste paranoico muito bem conduzido pelo subestimado Giorgio Ferroni. Ótimas cenas de ação. Um dos melhores veículos para Giuliano Gemma.

60) Como Viver com Três Mulheres/L’Immorale (Pietro Germi)
196760
Ugo Tognazzi amava as mulheres tanto que precisou se tornar trígamo agora com a outra outra gravida do filho numero seis só lhe resta entrar em parafuso. Comedia de costumes muito bem observada pelo Pietro Germi com Tognazzi inspiradíssimo na sua defesa da imoralidade.

59) Zatoichi the Outlaw (Satsuo Yamamoto)
196759
Ichi como um grande líder popular. Um dos filmes mais políticos da serie que se beneficie de um universo mais cuidadosamente construído.

58) A Certain Killer (Kazuo Mori)
196758
Um filme de Melville melhor do que O Samurai. Talvez ajude que o filme seja co-escrito pelo Yasuzo Masumura, mas ele passa de trama em trama com uma imersão melancólica no universo do seu assassino profissional. O diretor Kazuo Mori começou a carreira dirigindo filmes mudos de samurai.

57) Os Cruéis/Hellbenders (Sergio Corbucci)
196757
Faroeste dos mais cáusticos e tensos cortesia de Sergio Corbucci levando sua lógica até o limite. Um dos melhores papeis tardios de Joseph Cotten e com certeza o melhor que Norma Bengell teve na Itália.

56) En la Selva no Hay Estrellas (Armando Robles Godoy)
196756
A perdição do ouro nesta aventura de conquistador peruana muito amerga. Especie de resposta antes dos tempos dos filmes que Herzog viria a fazer na Amazônia.

55) Story of a Discharged Prisoner (Patrick Lung Kong)
196755
Mais conhecido como inspiração para Alvo Duplo do John Woo. È essencialmente o mesmo filme mas o melodrama de ação de Woo dá lugar ao social de Lung Kong com seu dilema moral construído nas dificuldades do ex-presidiário.

54) O Dia da Ira/Day of Anger (Tonino Valerii)
196754
Faroeste alegórico de ambições trágicas muito bem defendido por Van Cleef e Gemma. Valerii permanece um dos diretores mais subestimados a passar pelo gênero com um domínio muito grande das possibilidades expressivas dele.

53) The Trail of the Broken Blade (Chang Cheh)
196753
Chang Cheh e Jimmy Wang Yu no seu mais torturado e masoquista. De uma alguma forma só a terceira melhor parceria entre eles de 1967.

52) Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela/2 ou 3 Choses que je Sais d’Elle (Jean-Luc Godard)
196752
Perfeito exemplar do filme reportagem godardiano.

51) Os Doze Condenados/The Dirty Dozen (Robert Aldrich)
196751
As glorias do texto incoerente. Os Doze Condenados tem algo para todos. Um filme militarista anti-autoritário sobre um bando de grosseirões anarquistas indo atrás das linhas inimigas assassinar nazistas. O raro genuíno filme populista. Seria memorável mesmo que fosse somente os 40 minutos finais.

50) A Colecionadora/La Collectionneuse (Eric Rhomer)
196750
Rohmer filmando um filme de Chabrol de férias. O fascínio aqui é como ele ao mesmo tempo tem uma distância antropológica dos personagens e ao mesmo tempo tão inseparável entre autor e narrador.

49) O Fofoqueiro/The Big Mouth (Jerry Lewis)
196749
Jerry Lewis, o paranoico, usa de todos os seus poderes de cineasta para construir um mundo pronto para persegui-lo.

48) Vermelhos e Brancos/The Red and the White (Miklos Jancso)
196748
A ideologia é pouco mais que o motor para manter a maquina de guerra a promover o seu matar e morrer.

47) Garota de Ipanema (Leon Hirszman)
196747
A juventude carioca do pós golpe indo a passos rápidos para o precipício mórbido de Hirszman.

46) O Pecado de Todos Nós/Reflections in a Golden Eye (John Huston)
196746
Marlon Brando e Ellzabeth Taylor unidos pelo mais perverso masoquismo. Pura histeria reprimida que serve aos desejos suicidas de John Huston como poucos filmes que ele fez. Cinema se auto-aniquila.

45) Cruces Sobre el Yermo (Alberto Mariscal)
196745
Faroeste mexicano fascinante sobre os efeitos da violência de um patriarcado demente. Um filme sobre o que acontece depois que a ação termina e ainda mais violento por conta disso. Me fez pensar em alguns dos faroestes do Candeias.

44) Os Rifles da Desforra/40 Guns to Apache Pass (William Witney)
196744
A beleza do faroeste B sendo contaminada pelo seu tempo. Provavelmente o filme mais simples da lista, mas está tudo ali no rosto cansado de Audie Murphy.

43) A Caçada/Stranger on the Run (Don Siegel)
196743
Henry Fonda se juntando a galeria de desajustados desgarrados de Don Siegel. O penúltimo filme que o diretor realizou antes de encontrar Clint Eastwood, o que mudaria bastante o orçamento e tom da sua obra.

42) Sepultura para a Eternidade/Quatermass and the Pit (Roy Ward Baker)
196742
Meu filme favorito da Hammer não-dirigido pelo Terence Fisher. Um horror primitivo sobre o desconhecido. Não é acidente que o filme tenha servido de fonte para tantos outros trabalhos tanto em cinema como literatura.

41) Quando os Brutos se Defrontam/Face to Face (Sergio Sollima)
196741
O filme mais discursivo de Sollima. Um grande ensaio sobre a sedução da violência e do fascismo a partir dos duplos e das formas do faroeste spaghetti.

40) Three Poplars at Plyuschikha Street (Tatyana Lioznova)
196740
Basicamente As Pontes de Madison soviético. A liberdade das imagen contrastando com a posição da protagonista. Ainda não vi mais nada da diretora Tatyana Lioznova, mas com base nesse ela merece ser muito mais conhecida.

39) Um Colt é o Meu Passaporte/A Colt is My Passport (Takashi Nomura)
196739
Mais Joe Shishido contra Yakuza. Os ecos de faroeste (completos com uma trilha inspirada em Morricone e um duelo final) reforçam a impressão de estarmos num filme de um homem contra uma cidade, que aqui se transmuta em gangsters intermináveis. E no centro está Shishido, que mantem sempre o mesmo rosto de quem já viu toda a violência do mundo.

38) La Musica (Marguerite Duras, Paul Seban)
196738
A câmera de Duras, o rosto de Seyrig, a passagem do tempo.

37) Rebelião/Samurai Rebellion (Masaki Kobayashi)
196737
Um longo funeral para uma sociedade feudal pronta para asfixiar a todos. Todo poder é ilusório, no final cada um pouco faz além de cumprir à risca o seu papel. Só a morte liberta.

36) Galaxy (Masao Adachi)
196736
Um  mergulho profundo no mal estar. Sincronia improvável entre o Japão e a vertente mais desesperada do nosso cinema marginal.

35) O Baile dos Bombeiros (Milos Forman)
196735
Provavelmente o melhor filme de Forman. Engraçadissimo, mas tão amargo. Não surpreende que ele se exilasse pouco depois.

34) Inflatable Sex Doll of the Wastelands (Atsushi Yamatoya)
196734
Yamatoya é mais conhecido como o principal roteirista de Seijun Suzuki mas ele também dirigiu alguns pinkus muito particulares como este aqui. Uma série de imagens de sexo e vio0l~encia que se repetem num loop inescapável enquanto o filme ironiza toda a ideia da psique masculina reduzida ao contraste entre a mulher e a arma. Yamatoya escreveu A Marca do Assassino para Suzuki neste ano e ambos formam um belo duo satírico sobre falocentrismo.

33) Estranho Acidente/Accident (Joseph Losey)
196733
Melodrama de poder e privilegio para plateias que provavelmente se consideram acima dessas coisas mundanas. O que é parte do ponto. Pinter e Losey, um casamento ideal de sensibilidades.

32) A China está Proxima/La Cina é Vicina (Marco Bellocchio)
196732
Como quase todos os filmes de Bellocchio A China esta Próxima versa sobre a intersecção entre sua política de esquerda e o peso da instituição da família italiana. Ao contrário de outros dos filmes a força destrutiva deste choque chega até nós numa chave mais anárquica que amarga.

31) Le Depart (Jerzy Skolimoski)
196731
O primeiro filme que Jerzy Skolimowski fez na Europa ocidental no meio do caminho entre Walkower e Deep End. Os maneirismo da Nouvelle Vague sugerem uma liberdade que a atmosfera sinistra e paranoia aos poucos esmaga. A neurose de Jean-Pierre Leaud poucas vezes tão bem aplicada.

30) O Menino e o Vento (Carlos Hugo Christensen)
196730
O melhor dos filmes que Carlos Hugo Christensen fez no Brasil (apesar de Viagem aos Seios de Duilia e A Morte Transparente não ficarem muito atrás). A encenação é de tamanha convicção, poucas vezes se lidou tão bem com o fantástico por aqui. E tudo contrasta perfeitamente com a atmosfera mesquinha da pequena cidade.

29) Titicut Follies (Frederick Wiseman)
196729
O primeiro filme de Wiseman, certamente não o seu melhor, mas o mais incomodo e radical no seu exercício imersivo sobre um espaço determinado, no caso um sanatório.  A proximidade entre câmera e o universo retratado tornada ainda mais incomoda pela poição das personagens.

28) Não Faça Onda/Don’t Make Waves (Alexander Mackendrick)
196728
Mackendrick retorna aos EUA para umasatira a Califórnia do fim dos anos 60 tão caustica a sua maneira como A Embriaguez do Sucesso na década anterior.

27) Weekend à Françesa/Week-End (Jean-Luc Godard)
196727
apocalipsegodard. A sociedade burguesa europeia chegando no fim dos tempos. Muito próximo de alguns filmes de Buñuel, mas com a exaustão física de um Pialat. Formalmnte preciso, muito engraçado, com prazer sadista e completamente míope para além do espaço bem pré-determinado que resolveu olhar. Uma celebração do fim das coisas.

26) Japanese Summer: Double Suicide (Nagisa Oshima)
196726
Oshima vai a caverna curtir a ressaca da impotência japonesa frente a ocidentalização. Uma viagem de morte muito agressiva, com um desejo fálico de tentar super compensar a própria irrelevância.

25) Spider Baby (Jack Hill)
196725
Acredito que seja o filme mais importante da transição do cinema de horror americano moderno, no mínimo tão central quanto Psicose e Os Pássaros se muito mais modesto.  Lou Chaney Jr preside sobre o surgimento de novos monstros para outros tempos, sobre o próprio funeral. A direção de Jack Hill igualmente existe entre os últimos registros da AIP e os zumbis de Romero logo ao lado. Orgia dos mortos.

24) Uma Rajada de Balas/Bonnie and Clyde (Arthur Penn)
196724
Mito hollywoodiano entre o drive-in e o romantismo europeu. A sociedade do espetáculo explode num grito violento.

23) Django Vem Para Matar/Django Kill… If You Live, Shoot! (Giulio Questi)
196723
Este primeiro longa de Questi é de uma frontalidade radical. Completamente desinteressado nos elementos típicos do gênero, é um catalogo de ganância e violência que segue saltando de registro e alusões. A ambição do homem leva a mais destruição, o filme menos interessado em usar a constatação para o drama do que para uma série de representações de uma sociedade doente.

22) The Assassin (Chang Cheh)
196722
A morte em vermelho. Jimmy Wang Yu, o homem de Chang Cheh por excelência se coloca no movimento de ação e só pode ser parada com o fim da sua pulsão de morte. O filme de ação carregado até suas consequências mais perturbadoras.

21) Retrato de Jason/Portrait of Jason (Shirley Clarke)
196721
O cinema é uma máquina de retratos cruel pois versa o tempo todo sobre o poder.

20) Gunn (Blake Edwards)
196720
Como se algué, pegasse um bando de elementos de filmes policiais e arremessassem eles contra a paisagem de O Eclipse do Antonioni. Um dods mais originais filmes americanos e um dos mais assustadores. Homens violentos atravessando uma paisagem urbana infernal e confrontando a finalidade do mundo. Horror existencial puro disfarçado de escapismo estilizado.

19) Esta Noite Encarnarei em teu Cadáver (José Mojica Marins)
196719
Falando em horror lisérgico. A vingança do super homem na terra do cristianismo de botequim. A tragédia do Brasil é que Mojica é o nosso maior cronista e profeta, viu e entendeu tudo antes.

18) O Espadachim de um Braço Só/One-Armed Swordsman (Chang Cheh)
196718
O wu xia reduzido a sua essência. O masoquismo físico do corpo de Jimmy Wang Yu sendo testado ao limite e o prazer da liberação quando ele é colocado em ação.

17) A Condessa de Hong Kong/A Countess from Hong Kong (Charles Chaplin)
196717
Chaplin no fim, reimaginando a graça do próprio narcisismo para tira-lo do próprio corpo e expandi-lo pelo mundo. Crepuscular. Fim de cinema ao ao menos de um cinema que em 1967 já era impossível.

16) A Bela da Tarde/Belle de Jour (Luis Buñuel)
196716
As mais diversas prisões do desejo burguês.

15) Canções Lascivas do Japão/Sing a Song of Sex (Nagisa Oshima)
196715
Cançoes lascivas revelando uma história de violência. Sobre tudo que se esconde por trás de uma imagem social apaziguada. Tão violento e crepuscular quando o duplo suicídio japonês, outro grito suicida, mas um que tenta disfarçar sai natureza destrutiva.

14) Violated Angels (Koji Wakamatsu)
196714
A sociedade reprimida japonesa contempla o abismo. Num Japão cada vez mais ocidentalizado, Wakamatsu pega um crime real extremamente americano e se apropria dele como um gesto radical para reimaginar o mal estar japonês. Grotesco, niilista, hiper destrutivo, dura só 55 minutos se fossem 90 seria quase impossível de ver.

13) Love for an Idiot (Yasuzo Masumura)
196713
Masumura atualizando Amor Insensato do Tanazaki para o fim dos anos 60. Como a obra prima do Tanazaki já era sobre ocidentalização e ambos são mestres em ridicularizar o orgulho masculino ferido é um casamento dos mais felizes. Vertigo se todas as perversões de Hitchcock fossem expostas a nu.

12) David Holzman’s Diary (Jim McBride)
196712
A superfície é da sátira das regras do cinema verite, mas parte do que fascina é justamente como ele usa esses elementos como combustível para desenvolver drama e não como um fim em si mesmo. A contemplação narcisistica de David é mais atual do que nunca.

11) El Justicero (Nelson Pereira dos Santos)
196711
Comédia ligeira e a primeira vista sem grandes ambições, El Justicero não é só um dos melhores filmes do Nelson Pereira, mas entre os mais ácidos realizados no imediato pós-golpe, aquele que envelheceu melhor, justamente por ser um filme em qual esta acidez está toda voltada não só sobre a base que sustentou o golpe, mas para toda a encenação social que o manteve. Se é em Câncer que Glauber flerta diretamente com o primeiro Bressane e o Sganzerla da Belair, El Justicero não deixa de adiantar muitos elementos da parcela paulistana pop do cinema marginal: assim como O Pornógrafo ou A Mulher de Todos, trata-se de uma chanchada sobre a nossa boçalidade.

10) Playtime (Jacques Tati)
196710
O dia em que a sociedade de controle encontrou o cineasta ideal com todos os meios de produção para melhor representa-la. A cidade de Tati é um dos grandes triunfos do cinema e Playtime com seu humor triste um dos retratos mais amargos de um mundo em transição.

9) Nuvens Dispersas/Scattered Clouds (Mikio Naruse)
196709
Último filme de Naruse, um melo de contrastes, as imagens controladas do drama familiar japonês no qual o próprio Naruse realizou muito dos seus filmes e os sentimentos tempestuosos do melodrama.  Sirk vai a terra de Ozu se quiserem. Repressão japonesa como combustível para uma infelicidade tortuosa. O filme, porém, acena com um romantismo esperançoso no fim do túnel, uma última chance redentora para o drama de repressão

8) A Margem (Ozualdo Candeias)
196708
Nosso subdesenvolvimento na beira do Rio ou se Limite fosse um filme brasileiro.

7) Quando o Amor é Cruel/Incompresso (Luigi Comencini)
196707
Cinema italiano: emoção como música da luz.

6) Dragon Inn (King Hu)
196706
O que começa como uma serie de movimentos e contra movimentos ao redor da estalagem do título se move rumo a uma das mais raras afirmações do espirito coletivo no cinema ação. As imagens, coreografia e montagem de King Hu tem uma sincronia rara. E o duelo final é um dos pontos altos do gênero.

5) Terra em Transe (Glauber Rocha)
196705
Glauber Rocha vomitando as entranhas do populismo latino americano.

4) A Queima Roupa/Point Blank (John Boorman)
196704
John Boorman e Lee Marvin atualizando A Morte num Beijo dez anos depois. O gangsterismo enriqueceu e se finge de sofisticado (ou a fronteira entre capital e bandidagem se dissolveu de vez) e nosso único herói possível é o marginal troglodita libertário que vai quebrar cada cabeça que encontrar pelo caminho numa última revolta individualista suicida.

3) A Marca do Assassino/Branded to Kill (Seijun Suzuki)
196703
Um primor do gangsterismo farsesco com um bando de homens violentos competindo para ver quem tem a arma maior. Suzuki foi demitido porque a Nikkatsu reclamou que ele havia levado sua tendência ao incompressível ao limite, mas A Marca do Assassino está longe de ser um dos  seus filmes mais difíceis, mas é certamente um dos mais abrasivos. 34 anos depois Suzuki faria sua vingança numa sequência com toda a liberdade do mundo e com convidativo título Pistol Opera.

2) Um Caminho Para Dois/Two for the Road (Stanley Donen)
196702
Quatro variações sobre o progresso de uma relação. O filme de Donen é a história de dois casamentos, o entre Audrey Hepburn e Albert Finney (ambos nunca melhores), e de uma certa ideia de espetáculo holywodiano e cinema europeu. 1967 é um ano marcante no cinema americano por duas razões foi o único ano da história de cinema falado no qual não a indústria não praticou autocensura (o antigo código de censura caducou oficialmenre em 1966, o atual de classificação etária seria lançado em 1968) e foi momento no qual essa aproximação entre espetáculo e a apropriação de cinemas novos finalmente se tornou mainstream. Logo é um momento de possíveis experimentações bem incomum. Bonnie and Clyde, A Queima Roupa, Um Caminho para Dois, todos filmes essenciais desse processo e todos visões apocalípticas, mas nos outros dois tudo se resolve na violência do gangsteismo enquanto aqui a violência se resume a troca de olhares de duas pessoas com uma década de pequenos rancores nas costas.

1) Duas Garotas Românticas/Les Demoiselles du Rochefort (Jacques Demy)
196701
A felicidade sempre a um instante e uma conexão interrompida. Uma série de desencontros. Assim como Playtime uma cidade imaginada como representação de uma sociedade em movimento para quem o realizador só pode olhar como uma melancolia doce. É o único filme do Demy em que todas as personagens principais tem um final feliz (tirando os dois dançarinos americanos que estão lá para aproximar as pessoas), mas o que eu mais lembro dele são todos aqueles momentos em que o mundo conspira para mantê-los separados. Que o filme seja ao mesmo tempo tão exuberante (especialmente nas cores, atuações e na trilha do Legrand), tão tomado de vida e ao mesmo tempo tão triste. Precisamos de imaginação para sobreviver.

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