
A Cidade Escondida, de Victor Moreno
Bimi Shu Ykaya (Isaka Huni Kuin, Siã Huni Kuin, Zezinho Yube, 2018)
O centro do filme é Bimi, avó de um dos cineastas que ascendeu ao comando da aldeia. Há uma tensão ali pois a liderança costuma ficar com homens e há uma segunda que é a presença da câmera de cinema a registrar tudo. O filme faz este movimento de ida e volta entre Bimi e a comunidade no seu entorno. As imagens dos três realizadores captaram rostos, gestos, os ritos, a natureza no entorno da aldeia. Há uma eminencia da presença nas imagens que é bem própria. E tem essa relação bem particular da negociação o da câmera e espaço que acho bem forte.
Indianara (Aude Chevalier-Beaumel, Marcello Barbosa, 2019)
Filme retrato sobre a ativista trans Indianara Siqueira. Os realizadores tomam uma decisão clara desde o princípio de acompanha-la de perto, o mundo exterior é aquele com qual ela se digladia o tempo todo. O filme segue Siqueira pelos anos de 2017 e 2018, período de algumas alegrias para ativista (como o seu casamento) e muitos desastres (o assassinato da amiga Marielle Franco, sua expulsão do PSOL, o fim da ocupação para LGBTs necessitados que comandava, as eleições). Este recorte tem um peso especifico e o filme mantém as relações do extracampo com a retratada abstratas e isso enfraquece-o pouco, o bloco próximo ao final que começa a contagem regressiva para o fim da casa e resulta na expulsão dela em particular sofre da ausência de mais contexto. A Indianara do filme é uma figura de grande força politica, mas o filme ganharia mais se também abraçasse as contradições no lugar de se acomodar inclusive pois reforçaria ainda mais tudo que torna a sua personagem uma figura incomoda para o mainstream dos movimentos LFBT e feminista. Os melhores momentos são aqueles no qual se fechasse no retrato intimo nos dois espaços privilegiados de Indianara, a casa que divide com o marido e o cotidiano na ocupação.
A Cidade Escondida (Victor Moreno, 2018)
A cidade sob a cidade. O diretor Victor Moreno lança um olhar de grande força sensorial sobre os subterrâneos de Madrid. Encontra ali todo uma sociedade de maquinário e atividades, transporte, animais, esgoto, por vezes, muito poucas, até um rosto humano. Há uma qualidade conspiratória para a peregrinação da câmera de Moreno, este clima de sociedade secreta que segue a vida debaixo da terra. Um clima de quase filme de horror com qual algumas situações são imaginadas. As imagens de Moreno sempre encontram novas configurações para o que ele filma, seja trem, maquinários, a luz refletida no esgoto tudo sempre se reconfigura pela lente do realizador. O projeto do filme é de uma grande intervenção todos esses elementos da mão humana na cidade secreta reimaginados como uma abstração que só pode pertencer ao filme experimental.