Meus Filmes Favoritos de 2018

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O Outro Lado do Vento

Lembrando como sempre que o críterio são filmes vistos pela primeira vez em 2018 realizados nos últimos três anos.

Primeiro, uma menção a parte para O Outro Lado do Vento, o filme póstumo de Orson Welles que Frank Marshall, Peter Bogdanovich e Bob Murawski nos apresentaram este final de ano. Um evento e uma assombração que pertence ao mesmo tempo a primeira metade dos anos 70 quando foi filmado e a este 2018 quando finalizado, que caiba em ambos é parte do que o torna único e especial. Não me parece fazer sentido colocado lado a lado com os outros filmes do ano, mas não houve acontecimento maior no cinema em 2018.  A ele ainda pretende voltar aqui no blog.

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Como Fernando Pessoa Salvou Portugal

Antes de passar para os longos um pequeno balanço entre os curtas-metragens. Meu favorito do ano foi Como Fernando Pessoa Salvou Portugal (Eugene Green), mas também queria destacar Blue (Apichatpong Weerasethakul), Fajr (Lois Patiño), Flame (Sami van Igen), Gens du Lac (Jean-Marie Straub), The Green Ray (Scott Barley), Noir Blue (Ana Pi), Optimism (Deborah Stratman), Rocas em Forma de Viento (Eduardo Makoszay), Vent d’Ouest (Anônimo). Lembrando sempre que meu critério são menos de 45 minutos.

 

2018mh100

O Cobrador de Dívidas

Menções honrosas : (100-76) A Pé Ele Não Vai Longe/ Don’t Worry, He Won’t Get Far on Foot (Gus Van Sant), Autocrítica de um Cachorro Burguês/ Selbstkritik eines bürgerlichen Hundes (Julian Radlmaier), Bodied (Joseph Kahn), O Cobrador de Dívidas/The Debt Collector (Jesse V. Johnson), Comeback (Erico Rassi), Cump4rsit4 (Raul Perrone), Dovlatov (Aleksey German Jr), Os Estranhos: Caçada Noturna/The Strangers Prey at Night (Johannes Roberts), Os Fantasmas de Ismael/ Les fantômes d’Ismaël (Arnaud Desplechin), Gente de Bem/The Land of Steady Habits (Nicole Holofcener), Imagem e Palavra/Le Livre d’Image (Jean-Luc Godard), Inferninho (Guto Parente, Pedro Diogenes), Love and Other Cults (Eiji Uchida), Love Education (Sylvia Chang), Mare Nostrum (Ricardo Elias), Meio Irmão (Eliane Coster), The Misandrists (Bruce LaBruce), Mohawk (Ted Geoghegan), A Noite do Jogo/Game Night (John Francis Daley, Jonathan M. Goldstein), A Noite nos Persegue (Timo Tjahjanto), Paris 8/Mes Provinciales (Jean-Paul Civeyrac), O Plano Imperfeito/Set It Up (Claire Scanlon), Steel Rain (Yang Woo-seok), Uma Temporada na França/Une Saison en France (Mahamat-Saleh Haroun), Werewolf (Ashley McKenzie)

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O Conto

(75-51) 12 Jours (Raymond Depardon), 15h17: Trem para Paris/ The 15:17 to Paris (Clint Eastwood), Angels Wear White (Vivian Qu), Calypso (Lucas Parente, Rodrigo Lima), O Conto/The Tale (Jennifer Fox), Desejo de Matar/Death Wish (Eli Roth), Diamantino (Daniel Schimdt, Gabriel Abrantes), Uma Escala em Paris/Thist Street (Nathan Silver), Gemini (Aaron Katz), Um Homem Integro/Lerd (Mohammad Rasoulof), Os Incriveis 2/Incredibles 2 (Brad Bird), Jogador No.1/Ready Player One (Steven Spielberg), Lar Ideal/Ideal Home (Andrew Fleming), El Mar Le Mar (J.P. Sniadecki, Joshua Bonnetta), Maya (Mia Hansen-Love), Missão Impossivel Efeito Fallout/Mission Impossible Fallout (Christopher McQuarrie), Ponto Cego/Blindspotting (Carlos López Estrada), A Prece/La Priere (Cedric Kahn), Projeto Flórida/The Florida Project (Sean Baker), Que le diable nous emporte (Jean-Claude Brisseau), Small Town Crime (Eshom Nelms, Ian Nelms), Os Sonâmbulos (Tiago Mata Machado), The Tokyo Night Sky is Always the Densest Shade of Blue (Yuya Ishii), Unrest (Philippe Grandrieux), La vendedora de fósforos (Alejo Moguillansky)

 

50) O Passageiro/The Commuter (Jaume Collet-Serra)
201850O que o filme tem de melhor é a forma como ele relaciona o que tem de rotineiro com a mecanização da vida. A lógica do capital e Hollywood tardios unidos com este estado policial conspiratório servindo de mediador. O trabalhador classe média americana não tem um encontro marcado com o paraíso, mas com um trem desgovernado. A lógica do trem de O Passageiro, é nossa lógica da vida mecanizada. A formula hollywoodiana contaminada por uma dose considerável de ansiedade econômica (isso, e claro, Liam Neeson a arrebentar um maluco com uma guitarra, pois os simples prazeres pulps merecem ser preservados).

49) Your Face (Tsai ming-liang)
201849Os mistérios da presença. O dispositivo deste trabalho novo do Tsai tem algo de James Benning e outro tanto de Eduardo Coutinho. Filma-se encontros, mas eles são entre câmera e os rostos de cada um dos personagens livres para se expressarem como quiserem.

48) Bitter Honey (Gakuryu Ishii)
201848A carne aos poucos falece. Gakuryu “Sogo” Ishii envelheceu e já não tem o mesmo pique contestador dos seus anos punk, mas a sua maneira na sua dedicação aos detalhes mais inesperados e variações radicais de humor, permanece um artista radical. Aqui num ensaio sobre a relação entre arte, desejo e morte com a ajuda de duas atuações inspiradíssimas de Ren Osugi e e Nikaido Fumi.

47) Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas/Professor Marston and the Wonder Women (Angela Robinson)
201847Desconsiderado por ai como uma biografia convencional, mas fascinante justamente por ser um filme sobre exposição de ideias e não uma dramatização da vida privada dos Marstons.

46) Conquistar, Amar e Viver Intensamente/Plaire, aimer et courir vite (Christophe Honoré)
201846Assim como nos melhores filmes de Honoré, estamos diante da morte e para contrabalancea’lo construímos novas ficções e novos mundos para nos perdermos. Um filme bem irregular, mas que narra a vida privada de um grupo de homossexuais durante os anos mais intensos da crise da AIDS com uma grande vitalidade.

45) Mãe e Pai/Mom and Dad (Brian Taylor)
201845Caricatura grotesca da dinâmica familiar, uma nova ideia por minuto e se uma não funcionar pouco importa pois duas novas vão ser enfileiradas na sequência. Traz mais incidentes e sacadas em 80 minutos que muitos outros filmes em 150. E sua lógica demente é defendida por m grande dupla em Nicolas Cage e Selma Blair.

44) Belmonte (Federico Veiroj)
201844Um retrato modesto de um artista através de seu ambiente e relalaçoes familiares. Uma miniatura muito precisa. Veiroj segue um dos melhores cineastas latinos dos quais pouco se fala.

43) All Square (John Hyams)
201843Certamente não o filme que se esperaria de John Hyams após os dois Soldado Universal que dirigiu. Se lá ele lidava com o desgaste dos corpos dos avatares de ação levados ao limite do uso pela indústria, aqui temos um bookie loser a montar um esquema de apostas com jogos de beisebol infantil e todo uma comunidade pronta para ser levada a exaustão por essa lógica de capital e competitividade. Comédia bem amarga, se um tanto senrimental, muito bem observada e com Michael Kelly bastante inspirado no centro.

41) Under the Silver Lake (David Robert Mitchell) e Unfriended: Dark Web (Stephen Susco)
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Sobre ficções paranoicas americanas em meio aos detritos da sua indústria cultural. Um óvni pensado como futuro film cult e um found footage de franquia de horror. Visões terríveis de uma cultura de falso pertencimento e desraizamento que sabem muito bem usar suas lógicas conspiratórias a seu favor.

40) Amor Até as Cinzas (Jia Zhang-ke)
201840Jia segue seu projeto de ao mesmo tempo cartografar as contradições da China contemporânea e fazer odes a presença da Zhao Tao. Amor até as Cinzas lembra uma versão mais amor louco do Still Life e o filme revisita muito do que ele produziu nos últimos 10 anos ao longo dos seus três movimentos.

39) Uma Casa a Beira Mar/La Villa (Robert Guédiguian)
201839Como muito do que Guédiguian produziu na última década o subtexto sugere uma indagação com a própria complacência e aburguesamento, os desejos estão ali, mas o olhar é bem diferente do cronista das classes populares francesas dos anos 80/90 e por isso mesmo há algo de tocante quando notamos que a dedicação do cineasta a Marselha e aos seus atores principais (Ascaride, Derroussin e Meylan) é tamanha que o filme possa ser tomado por um flashback extraído de um longa pouco visto do meio dos anos 80. Acima de tudo Uma Casa a Beira Mar é uma ala de quadro, montagem e modulação dramática.

38) Sollers Point (Matthew Porterfield)
201838Assim como Belmonte, trata-se de um filme retrato modulado a imagem do seu protagonista (um jovem recém saído da prisão) com um cuidado muito grande para imaginar a topografia da comunidade no seu interno. Aqui acrescido de uma dose considerável de narrativa panela de pressão.

37) Jovem Mulher/Jeune Femme (Léonor Serraille)
201837Um trem desgovernado de emoções exacerbadas deixando no caminho uma destruição Pialatiana. Me identifico bem mais do que admito seria saudável. Laetitia Dosch numa das grandes atuações recentes. A prestar a atenção na diretora estreante Léonor Serraille que trabalha aqui num registro que o cinema francês contemporâneo, mas com uma precisão que ele raramente apresenta.

36) 120 Batimentos por Minuto/120 battements par minute (Robin Campillo)
201836Uma das minhas gratas surpresas do ano, se podemos dizer que um filme tão elogiado desde a estreia possa ser uma surpresa, mas o grosso do que eu li me deixara com uma preguiça enorme e quando finalmente vi a imersão física do filme me pegou de jeito. O filme do Campillo e do Honoré oferecem, ambos passados no mesmo meio a mesma época mas com personagens com atitudes radicalmente opostos aos mesmos dramas, retratos muito complementares. Sobre viver como uma forma da resistência.

35) Phantom Islands (Rouzbeh Rashidi)
201835Do gesto da fabulação. Do mínimo de elementos Rashidi constrói todo um mundo, todo um risco e uma possibilidade. Algo entre Epstein e Tourneur. Uma ilha assombrada.

34) Madame Hyde (Serge Bozon)
201834O ato de ensinar ao outro como ponto de partida para a transferência de personalidades ao qual tantos filmes são construídos. Como quase todo o Bozon é ao mesmo tempo muito reconhecível e muito distante. Belo uso da persona da Isabelle Huppert.

33) Sem Rastros/Leave no Trace (Debra Granik)
201833Assim como em Winter Bone temos um trabalho de descrição de um interior americano esquecido e um desejo de lidar com a intersecção entre família e sociedade, mas esse é um filme menos fechado, mais curioso e as questões se resolvem com bem mais força no universo que o filme constrói.

32) Infiltrado no Klan/BlackkKlansman (Spike Lee)
201832Catarse parece ser a primeira coisa que todos pensam a respeito de BlackkKlansman e é inegável a força das imagens documentais que encerram o filme, mas me parece justo pensar em como ele consegue esse efeito. Pois é um filme suspenso no tempo, que é sobre a permanência da história, mas é também sobre como esse discurso histórico é construído e como se age sobre ele. O que me pega aqui é como trata-se de um filme transparente, ele coloca em campo uma contradição de discurso e assume que não tem como resolve-lo, assim como assume que é produto de uma indústria fundada sobre o supremacismo racial, que um filme político como esse só tem como vir de lá em meio a um festival de concessões, sobre como não dá para lidar sobre essas questões sem uma boa dose de intersecções, que seu diretor é uma figura assimilada demais para se sentir completamente à vontade entre os revolucionários, e é um filme bem honesto sobre como o reformismo lento e gradual com o qual a sociedade americana tenta dar conta da questão racial é um projeto que no final das contas deu muito errado. Se é um grande filme de terror é porque mesmo sem resposta é capaz de se expor e nos expor desse jeito.

31) 3 Faces (Jafar Panahi)
201831É o filme mais elaborado do Panahi desde a sua prisão com uma pegada ficcional mais forte. Estão ali a maior parte das questões que sempre acompanham a obra dele: o lugar do artista, o sexismo da sociedade iraniana, poder, as relações de classe. Um diferenciar é que ele vem de um lugar de auto interrogação maior, como se o cinema em primeira pessoa que ele realizou ao longo dessa década permitisse a ele se posicionar mais diretamente como parte dessas mesmas estruturas de poder.

30) Shoot the Moon Right Between the Eyes (Graham L. Carter)
201830Um musical de gangster de 70 minutos. Filme B perdido dos anos 40 que de alguma forma surge como óvni no cinema americano independente contemporâneo. O único filme recente vindo de lá com quem ele dialogo é o último do Alan Rudolph cujo uma das virtudes é justamente existir a parte. Há um misto de fantasia romântica e resignação notáveis, assim como a forma com que ele explora a sua estrutura musical.

29) Over the Fence (Nobuhiro Yamashita)
201829Nobuhiro Yamashita, o artista dos pequenos gestos numa cartografia das mais justas sobre as diferenças entre o desejo de estar com alguém e de tudo aquilo que pode existir de distância entre eles.

28) Ta’ang (Wang Bing)
201828Sobre corpos deslocados e como construir uma relação intima com eles.

27) Purge This Land (Lee Anne Schmitt)
201827Das dificuldades ideológicas de se confrontar as manchas do supremacismo espalhadas pelo tecido social. É um bom contraponto experimental ao filme do Spike Lee, inclusive porque a Lee Anne Schmitt coloca todas as angustias dela bem expostas.

26) Temporada (Andre Novais Oliveira)
201826A arte do retrato dos gestos cotidianos que André Novais Oliveira vem desenvolvendo desde os seus primeiros curtas mais despida como nunca aqui, talvez porque o ponto de partida mais ficcional menos proximo da auto fabulação e com a Grace Passô inspiradíssima no centro. Um filme sobre os intervalos que geralmente passam em elipses, sobre aquela conversa fora que jogamos para tornar o trabalho mais suportável. Melhor filme já feito sobre o funcionalismo público brasileiro.

25) Fall Equinox e Spring Equinox (James Benning)
201825b201825Dois filmes que são como um só porque existem na triangulação do espaço entre eles e o nosso imaginário. De uma precisão matemática de construção e de uma entrega lúdica na experiência. Tudo isso a partir de um estudo de como a luz cai sobre a vegetação de um má montanha ao longo de um dia nas duas estações.

24) Ilha (Ary Rosa, Glenda Nicácio)
201824Da potência da ficção, o que fazemos com ela e todas as histórias que nos são negadas porque não permitimos que seus olhares se desenvolvam. Sobre o cinema brasileiro, algo tão frágil e ao mesmo tempo tão necessário.

23) Grass (Hong Sang-soo)
201823Hong Sang-soo num musical de vozes a beira da mesa de bar. Uma série de pequenos movimentos unidos pela presença da Kim Min-hee como testemunhas e as pequenas picuinhas e auto centrismo com que o homem toca suas vidas e dramas pessoais.

22) Em Chamas ((Lee Chang-dong)
201822Um quase thriller sobre ressentimento e patologia social. Usa com precisão a habilidade do Lee de colocarmos dentro da subjetividade do seu protagonista e joga muito bem com a relação entre a falta de distanciamento nosso diante da perspectiva dele e as lacunas e ambiguidades do mistério central. E tem duas das melhores atuações do ano com Yoo Ah-in e Steven Yeun.

21) Un Couteau Dans le Cœur (Yann Gonzales)
201821Tão deliciosamente descompassado quanto uma variação sobre Argento/De Palma passada no meio do pornô gay francês dos anos 70 poderia ser. Estetica de giallo revivida em toda a sua gloria, grosserias inclusas. A pulsão entre sexo e morte como expressão de um erotismo cinematográfico liberado. Como 100 minutos prazerosos e descompromissados acho que nada me deixou com um sorriso tão grande.

20) A Câmera de Claire (Hong Sang-soo)
201820Cinema como uma ponte entre passado e presente, ação e consequência, leveza e drama. Huppert como diretora e plateia de um triamgulo amoroso mediado por uma terceira língua e um espaço transitório. Melhor retrato de Cannes como uma feirinha de filmes numa estação de férias jeca mas pretensiosa.

19) Sedução da Carne (Julio Bressane)
201819Porque só o olhar animal e a musica da luz podem nos permitir uma porta de saída.

18) I Tempi Felici Verranno Presto (Alessandro Comodin)
201818Uma fabula muito italiana sobre o desejo de liberdade dos homens, o espaço imperdoável da natureza e o esforça da sociedade em doma-los. Político porque livre.

17) Train de Vies ou les Voyages d’Angélique (Paul Vecchiali)
201817O mais simples dos meios de encenação, tanta vida, tanta angustia. Toda uma existência ali num vagão de trem. Encenação essencial.

16) Detetive Dee: Os Quatro Reis Celestiais (Tsui Hark)
201816Tsui Hark num mergulho selvagem na imaginação e paranoia de uma China autocrática, passado e presente. CGI usando com uma criatividade e radicalidade únicas. A fantasia de Tsui se diferencia de todas as outras pela alta dose de horror que ele acrescenta.

15) Ray Meets Helen (Alan Rudolph)
201815Sobre o amor e o cinema. Da mais completa entrega romântica. Belo filme testamento de Rudolph com atuações deliciosas do Keith Carradine e Sandra Locke.

14) Estação do Diabo (Lav Diaz)
201814Diaz já fez esse filme algumas vezes a esta altura, mas como lhe negar este direito quando nenhum outro cineasta contemporâneo está disposto a confrontar de forma tão direta as forças fascistas? Em dias estamos sempre diante de uma condição violenta, doente e imutável e na descrição de como ela ganha força. Estação do Diabo é um filme cantado o que torna todas as trocas ainda mais teatrais e simbólicas e de alguma forma consegue deixar o exército ainda mais assustador.

13) Trama Fantasma/Phantom Thread (Paul Thomas Anderson)
201813Uma grande comédia sadomaso sobre o poder na esfera privada. Reverso/complemento ideal ao Embriagado de Amor.

12) Support the Girls (Andrew Bujalski)
201812Num pendulo muito delicado entre ternura e claustrofobia. Impressionante pelo quanto ele consegue cobrir tanto do ponto de vista dramático quanto de observação. Possivelmente melhor elenco do ano.

11) Belle Dormant (Adolfo Arrieta)
201811Um ato de renovação das formas ficcionais. Um pequeno sopro de vida sobre bases bastante conhecidas. O maior conceito dramático aqui é que esta bela adormecida dormiu justamente o século XX, século do cinema, século da destruição da aristocracia europeia, em Arrieta essas duas ideias se complementam. O filme se move na mesma direção, carrega nos significantes deste tempo perdido e ao mesmo tempo a sua imagem chapada sobrecarrega essa existência digital. Qual o imaginário possível dessa nova imagem? O que sobra para ela quando passamos batido por este século XX.

10) Almas Mortas (Wang Bing)
201810Wang Bing registra por oito horas os depoimentos de sobreviventes de campos de reeducação maoísta do fim dos anos 50 durante a grande fome chinesa. A duração existe não pela acumulação, mas para encontrar o tempo certo para cada personagem. Um grande arquivo, mas também uma reflexão sobre a importância política de um arquivo como ele.

9) Asako I & II (Ryūsuke Hamaguchi)
201809Conto de Inverno do Rohmer para um mundo tocado pelo capital e não por Deus. O amor, este mais cruel dos sentimentos.

8) First Reformed (Paul Schrader)
201808Da exaustão do materialismo. Schrader fazendo um pastiche de todas as suas influências para um mergulho num mal-estar contemporâneo que existe para além de todos elas.

7) Sol Alegria (Tavinho Teixeira)
201807Precisamos resistir.

6) Deixe a Luz do Sol Entrar/Un Beau Soleil Intérieur (Claire Denis)
201806Crepúsculo do desejo. Imaginar o humano no que tem de potente, mas também no que tem de tolo e mesquinho. Sempre esperançoso, sempre projeto uma futura completude, mas incerto. De uma inventividade nas situações da cena a cena.

5) A Valsa de Waldheim/Waldheims Walzer (Ruth Beckermann)
201805A sociedade ocidental é sempre muito hábil em negar nossa cumplicidade para com o barbarismo.

4) Transit (Christian Petzold)
201804Por falar em negações em barbarismo, eis o último filme do Petzold. Há muito em comum entre ele e Infiltrado no Klan, em ambos existe o mesmo movimento de pegar um texto antigo, aqui da Europa da segunda guerra, ali dos EUA dos anos 70, e reimaginar ele numa ponte constante  com o presente. Petzold é mais radical encena um texto integral sobre deslocamento e fuga durante a II Guerra, nas ruas de uma Europa contemporânea, passado e presente unidos no só, um mesmo passeio pelas ruinas de uma ideia de Europa. Como quase todo Petzold, uma história de fantasma conceitual.

3) O Hotel as Margens do Rio (Hong Sang-soo)
201803Hong Sang-soo diante da finalidade do mundo.

2) Amanda (Mikhaël Hers)
201802Diante da tragédia, viver é uma forma de resistir. Da cidade e do espaço público, do privado ao existir em sociedade.

1) La Flor (Mariano Lliñas)
201801Quando se fala de La Flor, o foco tende a ser de escala e de experiência. São 14 horas (15 contando os intervalos), 3 noites, 6 episódios (mais os créditos que são um episódio a parte), 10 anos em produção.  Um filme sobre o prazer da ficção, sobre o ato de por em cena uma história. Um filme de Lliñas, mas também das suas quatro atrizes Elisa Carricajo, Valeria Correa, Pilar Gamboa e Laura Paredes, ao mesmo tempo co-autoras e tema maior do filme (e ele não deixa de ser sobre essa briga constante entre as partes). O terceiro episódio que toma todo o segundo dia é certamente o filme do ano mesmo se existisse separado de todo o resto, mas ainda bem que é parte de algo ainda maior. É bom dizer que a despeito da longa duração, La Flor é o contrario de um teste de paciência, sempre com uma informação nova, um outro incidente,m outros espaços, um filme que não para, o anti-slow cinema. La Flor não deixa de ser um filme irregular (o filme de terror não é de todo equilibrado, idem para a refilmagem do Renoir), mas isso pouco importa, ficaremos todos com a experiência de ver La Flor, de ir aqueles três dias ao CineSesc (e desde o Um Dia na Vida do Coutinho alguém não resignificava tanto o gesto de ir ao cinema), de compartilhar com o resto da plateia o que acontecia na tela. Prova maior de como La Flor nos transporta para o seu mundo, boa parte da plateia no CineSesc ficou até o fim dos quarenta minutos de créditos, mesmo na altura que estava claro que nada mais ia acontecer, no desejo de partilhar o filme por uns minutos a mais. Da minha parte acompanharia Lliñas, Carricajo, Correa, Gamboa e Paredes por mais uns outros tantos causos tivessem mais 14 ou 50 horas.

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