Alguns Filmes da Semana (21 a 27/4)

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Rio Zona Norte

Desculpem pelas semanas sem atualização, muita correria por conta da retrospectiva de Hong Kong. Para os leitores que não me acompanham em rede social, um link para o catalogo da mostra que ficou bem bonito. A programação de Brasilia está aqui.

Viver (Akira Kurosawa, 1952)
Existe cineasta menos sútil que Kurosawa? Que ele e Mifune trabalharam tão bem por tantos anos faz completo sentido, o grande ator de cena mais excessivo com o grande cineasta idem. Penso nisso revendo a Viver e buscando entender como um filme tão óbvio bater de forma tão forte junto a mim. No momento da virada do filme quando o senhor Watanabe finalmente decidi sair da sua depressão pós-diagnóstico terminal e pela primeira vez viver, um coro ao fundo começa a cantar feliz aniversário. Viver posto no papel de fato existe entre o banal e a moral de autoajuda, mas é um lembrete de que cinema é experenciado e não lido. E ali na performance do Takashi Shimura e na imaginação de Kurosawa este trajeto banal vira outra coisa, a dor do esquecimento de Watanabe ganha uma presença dura e sentida.

Rio Zona Norte (Nelson Pereira dos Santos, 1957)
Meu Cumpadre Zé Keti (Nelson Pèreira dos Santos, 2001)
Acho que comentei essas revisões no Facebook, mas sinto necessário mencionar aqui também. Revi Meu Cumpadre Zé Keti, uns 15 minutos depois de ler a notícia da morte do Nelson. Me pareceu a melhor homenagem possível. É um funeral feijoada lindo para seu compadre Zé Keti e devia ser sempre exibido em sessões duplas com o Di, seu exato oposto. Lembro-me de quando o filme estreou em 2001, e as muitas incompreensões ao seu respeito, sobretudo os comentários maldosos pelo filme ser um convite da Petrobras, foi o meu primeiro contato com a mediocridade reinante de certo pensamento de cinema no Brasil. O fato é que o filme é lindo. Zé Keti é claro ator, compositor e uma das inspirações do Rio Zona Norte, meu filme favorito do Nelson. Ele existe sempre a sombra de Rio 40 Graus, pois mais escrito e evidentemente melodramático. Não teria o mesmo frescor balela, a força aqui é igual ou maior, mas por caminhos diferentes. E esta lá Grande Otelo, nosso maior ator, inspiradíssimo como o sambista explorado. E tem aquele momento em que Otelo consegue falar com a Angela Maria e canta para ela seu último samba e no meio ela começar a cantar e a câmera do Nelson se foca na felicidade dele. Dos grandes momentos da arte brasileira, cinema, música e o que mais vocês quiserem. É para poucos.

Boxer Rebellion (Chang Cheh, 1976)
Um dos pontos altas da série de filmes históricos que Chang Cheh fez entre 1974 e 1976. Um relato ambicioso sobre a revolta dos boxers. A primeira metade é um pouco dura na necessidade de cobrir um painel histórico amplo entorno da revolta e o filme vai subindo a medida que se fecha sobre os temas de irmandade que lhe são claros. Tem muitas cenas de ação expressivas, mas tem um sentimento de revolta muito forte. É fascinante observar até onde Cheh consegue levar a estrutura da Shaw Brothers. Foi um dos filmes mais ambiciosos de Cheh, mas a versão integral só foi redescoberta nos anos 90, Boxer Rebellion foi muito cortado pelos britânicos, calha que quando se vive numa colônia fazer épico anti-colonial não é tarefa das mais fáceis.

Seeding of a Ghost (Richard Yueng Kuen, 1983)
Um dos subgeneros de Hong Kong que nao estão na mostra, mas que merecem uma observação são os filmes de magia negra que Shaw Brothers produziu entre os anos 70 e a primeira metade dos 80. Horror de imagens extremas, completamente desprovidos de preocupações com o bom gosto. Seeding of a Ghost é um filme de vingança que literaliza o princípio do gênero: não haverá ato vil que não produza outro. A segunda metade é uma sucessão de imagens grotescas e potentes e o clímax, que inclui o parto do maior feto maligno da história do cinema é inesquecível.

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