
Pedicab Driver
Fight Zatoichi, Fight (Kinji Misumi, 1964)
Entre os 9 filmes da série Zatoichi que eu assisti, este oitavo é o melhor e por ironia o que tem menos ação. O grosso do filme é só Ichi viajando em companhia de um bebê para entregar-lhe ao pai após o assassinato da mãe. Zatoichi é sempre melhor quando lida com a relação de Ichi com a responsabilidade e aqui ele tem que cuidar de um recém-nascido, mas também formar uma família alternativa e uma ladra que ele coleta como babá pelo caminho. Misumi, que dirigira o primeiro da série e era um especialista no filme de ação, tem um toque surpreendente e sensível para o material. E o filme tem uma cena maravilhosa em que o bebê faminto não para de chorar, e Ichi oferece seu mamilo para acalma-lo, é engraçado e trágico em igual maneira.
Engraçadinha Depois dos Trinta (JB Tanko, 1966)
Nunca vi o Asfalto Selvagem que Tanko dirigira dois anos antes com o primeiro ato trágico do romance do Nelson Rodrigues, mas quando se filma só esta segundo parte gira-se um pouco em falso, pois as motivações da protagonista existem no vácuo. Engraçadinha é quase uma espectadora do próprio drama (uma das poucas, mas capitais alterações que Tanko faz é justamente eliminar o papel da prima lésbica na conclusão, isolando ainda mais a ação). O que sobra é o vigor da encenação do Tanko, que tem uma pegada insuspeita quando pensamos nas suas comédias. As imagens têm grande força, mesmo quando drama sofre do mesmo mal da abstração que as versões de O Beijo no Asfalto e Bonitinha, mas Ordinária do período.
O Arco (Cecile Tang, 1968)
Um prazer rever este para o catálogo da Mostra de Hong Kong. Fabula feminista sobre estratificação e repressão. Um pé na modernidade e outro na tradição. Mizoguchi relido pelo víes dos cinemas novos. O trabalho de montagem e na construção de espaço coloca cada gesto e movimento sobre um peso simbólico muito forte e o filme tem uma ciranda de sentimentos que transbordam, mas permanecem sempre não completamente correspondidos, pessoas para as quais sentir e expressar é algo muito difícil.
Malícia Atômica (Nicolas Roeg, 1985)
Um dos usos mais curiosos da nostalgia pela iconografia dos anos 50 dos anos 80. Roeg tem particular dificuldade de articular o DiMaggio do Gary Busey, mas existe algo muito forte nesta leitura da fundação da sociedade ocidental moderna sob o signo da bomba. O material alusivo serve bem a montagem de Roeg. E no último rolo o filme faz um movimento retórico óbvio, mas muito eficaz da palavra a imagem, resolvendo pela encenação apocalíptica todo o falatório que articulara até então.
Pedicab Driver (Sammo Hung, 1989)
Um dos melhores filmes do Sammo Hung. Tem um pouco de tudo romance, comédia, cenas de ação incríveis, tragédia, uma raiva pela exploração e uma apreciação pelas capacidades de expressão do corpo humano. Como sempre em Sammo estamos no terreno do balé de corpos, mas aqui sobre a luz de um mote masoquista, a punição constante das cenas de ação interligadas ao caráter romântico do filme. Estão todos dominados pelos meios de produção contra os quais Sammo se revolta uma cena de porrada por vez. Claro, tem aquele momento quando o filme todo para e Sammo Hung pode prestar uma homenagem ao Lau Kar-leung, e se você se interessa pela história das artes marciais no cinema, não dá para não se emocionar.
Bom dia.
Onde encontra esses filmes? Torrent?
Obrigado
Depende alguns eu tenho, alguns são torrents, o Engraçadinha por exemplo vi no Canal Brasil.