Ornamental Harpin (Hiroshi Shimizu, 1941)
Um filme de projeções e incertezas. Desejos e supressões. As coincidências dão partida a trama, mas o filme da forma com que Shimizu empresta encantamento aos menores momentos. Um romance onde as duas partes pouco fazem além de dividir espaços e desejos. Há uma graça muito grande em como o filme se desvia por digressões. Não estamos muito longe do universo de um Ozu, mas com mais liberdade. Os prazeres do viver aqui muito próximos do espectador de cinema. E tem aqueles planos finais que são arrasadores.
No More Comics! (Yojiro Takita, 1986)
A certa altura dessa sátira ao jornalismo televisivo nosso intrépido reporte invade o velório de uma garota de 14 anos enfia um microfone na cara da mãe e na ânsia de fazer uma matéria com cunho social pergunta “é verdade que a sua filha estava envolvida com prostituição?” e pergunta de novo e de novo e de novo e de novo após ser agarrado pelos parentes e ser empurrado para fora. É engraçado, depois constrangedor e finalmente muito engraçado, tudo isso ao longo de uns 5 minutos que de distendem bem além do que seria aceitado. É o momento mais cristalino dessa espécie de Rede de Intrigas reimaginado por Takeshi Kitano. Raivoso, super óbvio, mas cheio de desvios inquietantes e muito engraçado. O próprio Kitano aparece no último ato com uma ponta essencial e violenta. O arco dramático do filme com seu auge tenso seguido de queda precipitosa na cobertura da noite com suas boates de strip e prostibulos sugere um microcosmo da trajetória do cinema japonês e o filme fruto da era das vacas magras dos anos 80 é muito marcado por este contexto.
The Death of Stalin (Armando Iannucci, 2017)
No outro extremo da sátira óbvia esta este filme do Iannucci que recebera muitos elogios por ser um filme do momento nesta ascensão do totalitarismo. Sem dúvidas a risadas, mas existe uma falta de especificidade no humor no filme que mina a sua eficácia. No final das contas é seguro sobre nada e ninguém. Os atores seguram um mínimo interesse, sobretudo Steve Buscemi como Kruschev. Mas salvo pela eficaz mudada de rumo nas sequencias finais do humor ao horror, suspeito que Iannucci pouco faz além de tornar o totalitarismo trivial. Até Trump ou Erdogan dariam boas risadas.
Mowhawk (Ted Geoghegan, 2017)
Neowestern brutalista com toques sobrenaturais. Em algum lugar entre Romero e Bone Tomahawk, ou um Mel Gibson que tem certeza que as américas são uma terra amaldiçoada por um massacre suprematista. Um ménage a trois entre um casal indio e um rebelde inglês fugindo de um bando de trogladitas brancos para quem o escalpo deles significa o retorno ao exército. Falta de grana limita o mundo do filme em alguns momentos, mas os atyores são bons e o filme tem uma grande força ressonante. Geofhegan tem uma das sensibilidades mais interessantes do horror de baixo orçamento contemporâneo.
Annihilation (Alex Garland, 2018)
Hibrido de ficção cientifica e filme de horror de encantamento filmada por uma pessoa que pensa cinema a partir da lógica e não da imaginação. Um Predador despirocado que pede por um Apichatpong e recebe um Villeneuve. Como artista Garland sempre teve um pé nas estrturas de gênero como quebra-cabeça e um desejo de desaparecer no visceral. Este filme segue nesta toada, mas infelizmente nunca vai longe demais. Até o último ato no qual o filme entra de vez na metafisica sofre de ser literal demais. Existem momentos nos quais Garland produz uma imagem perturbadora no limite do mistério da proposta original e o filme conta com boas atrizes, mas é pouco.
Oi Felipe. Vejo que o blog esta mais movimentado. Fico muito contente com isso, serve como referência. Também te acompanho na cinética, mas, gosto do tom pessoal que tem o blog. Estou sempre por aqui.