
Zatoichi’s Flashing Sword, de Kazuo Ikehiro
Ufa, terminando os posts atrasados.
The Big House (George W. Hill, 1930)
Filme de presidio de 1930 de muito prestigio na época, indicação ao Oscar, etc. Sempre tive grande curiosidade pois supostamente foi a principal fonte de inspiração do O Código Criminal do Howard Hawks. Bem surpreende vindo da MGM: físico, direto, sujo. Enquanto está dentro do presidio é de uma vivacidade, tem uma textura para os mecanismos internos dos presos inesperada. As poucas cenas fora de lá tem um enfado típico da MGM do período, mas elas são breves. A primeira surpresa já nas cenas iniciais, o jovem de classe média vivido pelo Robert Montgomery não é nosso protagonista mediador, mas pelo contrário um agente instigador de confusões. E no lugar o filme se fecha sobre os dois criminosos de carreira Chester Morris e Wallace Beery (como o brutamontes pagando prisão perpetua cheia de beerismos daqueles que se ama ou se odeia). O clímax com a rebelião inevitável é de uma imersão na ação notável. Filme de ambientação, descida a esta casa dos homens quebrados destinada a virar panela de pressão e explodir. O Diretor George W. Hill morreu em 1934, sem, portanto, chances de formar uma obra extensa, o que ajuda a explicar o esquecimento do filme.
Street Without End (Mikio Naruse, 1934)
Girl in the Rumor (Mikio Naruse, 1935)
Dois Naruses deste momento de transição do cinema japonês para o sonoro. Street Without End é o último filme mudo do diretor, o material dramático é bem conhecido dele, mas aqui a apresentação é mais segura e radical, o filme todo se movendo entre possibilidade e negação. Já Girl in the Rumor é impressionante, um dos seus melhores filmes, só 54 minutos e dentro dele tantas possibilidades dramáticas. É de uma densidade, um mundo inteiro, alegrias, tragédias, resolvido com imensa economia. Filme de um cineasta em pleno controle da sua arte. Há um belo texto na monografia online que o Dan Sallitt publicou sobre a obra do Naruse, recomendo a analise deste e de todos os outros.
Advance Patrol (Kazuo Mori, 1957)
Um pequeno filme de homens numa missão passado na guerra nipo-russa da primeira década do século passado. Kurosawa supostamente também pensou em filma-la no começo da carreira, mas o trabalho coube ao veterano Kazuo Mori que dirigiu filmes de samurai do fim dos anos 20 até os 70. Aqui o impacto é o enquadro em scope, um filme todas possibilidades do quadro, onde a aventura, o risco é definido pelos limites da imagem.
Zatoichi’s Flashing Sword (Kazuo Ikehiro, 1964)
Mais um filme da série, Zatoichi, mais um filme de muita invenção. A primeira hora é o nosso típico filme de samurai conduzido com firmeza e as vantagens da presença de cena do Shintarô Katsu, que como sempre domina o personagem. Ai chega a parte da ação final, com Ichi, o samurai cego, lançado com um desejo de violência que ele não demonstrara nos filmes anteriores, quase toda ela encenada no escuro, frequentemente pouco mais que silhuetas para nós e completa a ideia de que os membros da gang contra a qual ele se insurge entendendo que Ichi precisa que eles ataquem primeiro para escuta-los. Ação/paralisia, luz/sombra, sublime.
Madhouse (Ovidio G. Assonitis, 1981)
Cinema de horror italiano as vésperas da crise que varreria ele uns anos depois. Existem coisas porém que os excessos do horror italiano fazem que nenhum outro cinema consegue fazer igual. Aqui temos um conto demente e triste sobre família e religião como instituições opressoras que só poderiam vir de uma sociedade tão católica e conservadora como a da Itália e com um excesso de tintas barrocas que novamente pertence só a eles. É tão louco quanto destrambelhado, um andamento super irregular, mas tem um sentimento muito forte que acaba em primeiro plano.