Alguns Filmes da Semana (17 a 23/02)

Blackpanthers

Black Panthers, de Agnes Varda

Estou bem atrasado aqui devendo 3 semanas, então tentarei nos próximos dias subir todos estes posts.

A Dançarina de Izu (Heinosuke Gosho, 1933)
Melodrama do Heinosuke Gosho a partir de um livro do Yasunari Kawabata. Muito fluido, muito direto no seu tratamento dessas figuras deixadas para trás pela marcha do progresso. Como frequentemente nestes filmes japoneses o olho para tapeçaria social é espantoso na sua eficácia e economia. O final com a separação inevitável dos amantes é tão previsível como efetivo.

Black Panthers (Agnes Varda, 1968)
Política como ação e como performance. Varda passeando pelos EUA e aterrissando no centro do furacão. Filme direto sem mediações. Como gesto político muito forte, ainda mais quando consideramos a criminalização do partido dos panteras negras à época. Um dado curioso é a maneira como Varda se aproxima de muitos registros de convulsões do “terceiro mundo” por parte de documentaristas europeus. Se é um movimento estético consciente ou mero reflexo de eurocentrismo desconheço (no As Praias de Agnes tem 30 segundos pelo filme quase turísticos), mas é muito eficaz. E pensar que a diretora capaz de documento tão impactante, seja hoje memificada por uma lógica cultural que no fundo é muito mais confortável com este olhar de puro consenso, a vovó bacana melhor ser humana, Varda é isso, mas é muito mais como este filme nos lembra.

Golden Exists (Alex Ross Perry, 2017)
Como nos últimos filmes do Perry temos a sensação de estar diante de uma sensibilidade particular insegura sobre como se mover em meio ao mainstream. Muita tradição relida (no caso Bergman pelo viés de Allen) de forma superficial e questionável, o que não deixa de ser interessante pois leva a um particular. Excesso de verbosidade autoconsciente que precisa se explicar o tempo todo. São sete personagens centrais, mas desconfia-se que é no fundo um só, dado o solipsismo do cineasta. Tenta-se escapar, mas termina-se sempre no mesmo lugar. O filme busca seguir a acessibilidade crescente dos filmes de Perry, mas não consegue a escapar da sensibilidade tóxica dele, algo positivo já que esta toxicidade segue a real contribuição dele ao cenário independente americano.

Happy End (Michael Haneke, 2017)
The Square (Ruben Ostlund, 2017)
Dois filmes horrorosos irmãos. Aquele cinismo burguês calculado do Haneke encontrando um herdeiro ideal em Ostlund. The Square são duas horas e meia de metralhadora giratória calculada para não ofender ninguém enquanto finge o contrário. É o pior do mundo da arte que ele supostamente crítica. Haneke é muito mais talentoso que Ostlund, as vezes é até capaz de produzir um bom filme no meio da piadinha malvada, mas diante deste Happy End, uma espécie de sequência vagabunda de Amor, tem-se a sensação que ele terminou de perder o viço. É uma repetição de procedimentos sem nenhum tesão, até as provocações encontram de vez a banalidade. Minha única reação foi no final quando nas palavras do Marcus Martins, o Trintgnant se oferece a Iemanjá, admito ri muito, tem horas que é impossível resistir a babaquice do cara. Devo dizer que só cheguei até o fim para descobrir qual era a ironia do final feliz do título. No fundo Happy End me lembrou o Manderlay, do charlatão dinamarquês, a aguardar se este também anuncia o fim de Haneke como cineasta viável. O que seria uma pena, já que gosto de ficar puto com os filmes dele, neste o que dominou foi o enfado. Como a palma anuncia Ostlund vai longe, o circuito de arte está sempre pronto para abraçar um arrivista com jeito de mal.

Pantera Negra (Ryan Coogler, 2018)
Uma operação mais que um filme como frequentemente são estes filmes da Marvel. Redobrada dada ao excesso de atenção que recebeu. Dentro destes termos me parece um sucesso, certamente o melhor filme da Marvel desde o primeiro Vingadores, não que isso signifique muita coisa. É sempre um passo a frente e outro atrás, por exemplo o filme é bem imaginado visualmente, mas limitado por uma completa falta de interesse de imaginar Wakanda para além das intrigas de poder palacianas da nobreza local. Coogler tem méritos de imaginar o filme em termos políticos, mas previsivelmente não tem muito como soluciona-los dentro dos termos dele. O grosso do que resta são sobras da conciliação dos anos Obama, um filme a frente e perdido no tempo, talvez. O que tem de melhor é Michael B. Jordan, ator exuberante como sempre, na pele do vilão, lá para complicar como pode esta lógica de consenso.  A parceria anterior entre ele e Coogler, Creed, no seu esforço de apropriar a iconografia ítalo-americana de Rocky para a cultura negra local era um filme muito mais radical e bem superior. Deixo dois textos antagônicos em tudo, mas que creio no seu choque dão conta de muita das possibilidades e conotações do filme, Bernardo de Oliveira na Cinética e K. Austin Collins no The Ringer.

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