Segunda parte dos meus favoritos vistos pela primeira vez ano passado cobrindo o período entre 1928 e 1967.
Crossroads (Teinosuke Kinugasa, 1928)
Kinugasa fez este filme logo na sequencia do Uma Pagina de Loucura,infelizmente ele não tem a mesma fama, mas é de uma densidade de imagens ede uma simplicidade arrebatadora.
Blackmail (Alfred Hitchcock, 1929)
O filme de transição de Hitchcock para o cinema sonoro. O uso do som fora de campo é especialmente bom. E o filme tem um bloco de ação entorno do assassinato principal que é precioso. Precisão de Lang, se muito menos punitivo na moral. E já esto ali quase todos os temas centrais do gordinho.
Eternal Love (Ernst Lubitsch, 1929)
Um Lubitsch nada típico. Seu último filme mudo. Uma fantasia romântica mais ao gosto der um Borzage. Imagino que a eficácia do filme dependa de como cada um se sente diante da canastrice do John Barrymore, a mim ela raramente incomoda e neste caso completa o romantismo destrutivo. O filme é puro sentimento.
Gardiens de Phere (Jean Gremillon, 1929)
É uma pena que esta maravilha só circule em cópias bem ruins, dop contrário talvez estivesse na lista da semana passada. Quase uma completa abstração de luz em cima de temas de vida e morte a partir do farol aludido no título.
The Doorway to Hell (Archie Mayo, 1930)
Proto gangster antes do trio Little Cesar/Inimigo Publico/Scarface solidificarem o gênero. James Cagney até está em cena como segundo em comando como se a aludir onde o gênero estaria em um par de anos.Um filme de gestos mais do que de atos violentos. Lew Ayres é o menos durão dos gangsteres, mas há uma inteligência em ação na performance dele que localiza o filme além do seu tempo. E quase tudo que podia ser genérico tem um toque inesperado.
La Petite Lise (Jean Gremillon, 1930)
O futuro e o tremor. As possibilidades de um novo começo para a Europa engolidas pela tragédia determinista. O homem livre em questão.
Marius (Alexander Korda, Marcel Pagnol, 1931)
Já comentei Fanny com qual Pagnol deu sequência a este Marius e me parece um filme que avança muito do que este primeiro filme propõe. Mas aqui já está o drama essencial, o cuidado na textura social da sua Marselha, os bate papos cieculares entorno do conflito central.
Police Officer (Tomu Uchida, 1933)
Uma crônica policial que começa acompanhando o dia a dia do protagonista e a medida que desenvolve uma trama se torna mais paranoica e opressiva. Me fez pensar muito em Ford.
Le Grand Jeu (Jacques Feyder, 1934)
Tudo que você sempre quis de um melodrama decadentista de danação: legião estrangeira, duplos sem memória, leituras de cartomante a anunciar um destino inevitável, um bordel marroquino de cenário. Em algum lugar entre o fatalismo francês da linha Prevert/Carne e o delírio de Sternberg/Dietrich.
Le Bonheur (Marcel L’Herbier, 1935)
A expressão incólume e sedutora do jovem Charles Boyer. Cinema como uma série de atrações e distanciamentos. Um curioso prenuncio do Estrangeiro de Camus.
Bonne Chance (Sacha Guitry, Fernand Rivers, 1935)
Primeira incursão de Guitry pelo cinema, um pouco mais teatral, mas com um domínio de ritmo e olho para as possibilidades do seu elenco que prenunciam seus filmes posteriores.
César (Marcel Pagnol, 1936)
O argumento contra César é que se trata de uma sequência desnecessária. Regurgita-se o drama que Marius e Fanny já desencadearam, anos mais tarde. Verdade, mas está me parece a força do filme. Tudo que se fala nele reflete as decisões do filme anterior, revistas por vinte anos de arrependimentos e ressentimentos. Lida-se ai no limiar do efeito dessas escolhas boas e más que nos formam.
Faison um Reve… (Sacha Guitry, 1936)
Basicamente três longas cenas a dois entre Guitry, Raimu e Jacqueline Delubac sobre seu triangulo amoroso. Ótimos atores, mas sobretudo um veiculo para a precisão da decupagem de Guitry.
Les Bas-Fonds (Jean Renoir, 1936)
Eu revi (e em alguns poucos casos como este cobri as últimas lacunas) toda obra do Renoir ano passado para o curso que dei na retro dele no CCBB e neste exercício algumas coisas ficam explicitas como a maneira que estes filmes do período do front popular expõe ainda mais a dicotomia entre o seu otimismo e seu gosto pelo destrutivo. Assistir Bas Fonds e Crime do Senhor Lange lado a lado expõe como filmes que a princípio tem temperamentos radicalmente diferentes, não poderiam ser mais complementares.
Desiré (Sacha Guitry, 1937)
Imagino que pessoas melhores do que eu tenham desenvolvido isso bem maisa fundo mas é fascinante pensar em como o gosto pelo teatro, um formalismo com gosto pelo simbolismo social e no uso da sua persona como mediadora, Guitry sugere uma ponte entre Chaplin e Welles.
Stage Door (Gregory LaCava, 1937)
Certamente um dos melhores filmes sobre teatro e sobretudo da nudez emocional do colocar-se em cena.
A Marselhesa (Jean Renoir, 1938)
O processo da história e a história como processo.
Le Dernier Tornant (Pierre Chenal, 1939)
Primeira versão de O Destino Bate a Sua Porta, feito no auge do realismo póetico francês mas despida de tudo para além do mais cruel e direto dos fatalismos. Não há Deus ou política, somente as engrenagens do destino numa corrida até um final inevitável.
Earth (Tomu Uchida, 1939)
Corpos se perdendo enquanto carregam seus papeis sociais. O filme sobrevive hoje de forma truncada (e a copia que existe online é ainda menor que a já reduzida que muito raramente é exibida), seus sentidos nem sempre claros, mas as imagens e aforeça descritiva da imersão sobre os fazendeiros japoneses é inegável.
De Mayerling a Sarajevo (Max Ophuls, 1940)
Enquanto a segunda guerra explode Ophuls retoma as origens da primeira. È um contraponto fascinante com A Grande Ilusão, novamente o forte sentimento da aristocracia do século XIX apodrecendo diante do barbarismo do século XX, mas o olhar de Ophuls segue fiel a uma ideia de romantismo que ele associa a mesma.
Menaces… (Edmond T. Gréville, 1940)
O que era subtexto no cinema francês do fim dos anos 30 explode como texto puro. A Guerra inevitável emergindo sobre o filme, de um país partido e pronta para ser presa. Atmosfera tão oporessiva quando a textura social cuidadosamente arquitetada. Lá no centro está Von Stroheim, sem meia face, um signo de uma outra Europa, cidadão de lugar algum.
Remorques (Jean Gremillon, 1941)
Uma afirmação sobre as potencialidades dos primeiros filmes de Gremillon desaguando sobre o fatalismo francês do fim da década anterior. A sedução do presente contida no quadro e a promessa de algo mais logo fora dele.
Era uma vez um Pai (Yasujiro Ozu, 1942)
Vidas incompletas. O pendulo da responsabilidade que vai e vem. Procurando-se por algo que nunca esta exatamente ali.
Miyamoto Musashi (Kenji Mizoguchi, 1944)
Só 53 minutos, mas cada plano conta. A arte de Mizoguchi no que ela tem de mais essencial.
Discurso de um Propretário (Yasujiro Ozu, 1947)
Oshima gostava de reclamar de todos os cineastas japoneses que vieram antes dele, então é muito engraçado encontrar um Ozu do imediato pós guerra que parece prenunciar de forma tão direta o cinema de Oshima.
Dawn at Socorro (George Sherman, 1954)
Tempo e geometria. Basicamente três longas sequencias (a espera de um tiroteio, um cerco a diligencia e um novo jogo de espera num cassino). 80 minutos de perfeito faroeste B.
A Estrada (Oswaldo Sampaio, 1956)
Sentimento de mundo: da comunidade e trabalho, das noites na estradas e dos barzinhos a beira dela.
The Assignment (Ko Nakahira, 1959)
Sociedade e indivíduo. Econômico, direto e cheio de compaixão pelo dilema moral de ambas as partes do casal de amantes.
A Chegada do Outono (Mikio Naruse, 1960)
Um pouco do que eu disse sobre Discurso de um Propretário vale aqui também. É um contraste bem interessante com Oshima outro drama atormentado e formalmente preciso sobre proeza no Japão do pós-guerra.
The Tale of Zatoichi Continues (Kazuo Mori, 1962)
Natureza e violência. O Segundo e melhor dos filmes da série Zatoichi que eu assiste. Os últimos vinte minutos em especial são um primor de cinema de ação.
Five Minutes to Love (John Hayes, 1963)
Primeiro e um dos melhores filmes de John Hayes, o Elia Kazan da sarjeta (neste caso literalmente, se passa num ferro velho). Quando você descobre que o título se refere a como uma prostituta se apresenta aos clientes, você sabe que está num filme de Hayes. Uma ferida aberta protagonizada por gente que o mundo a muito deixou para trás.
Le Doulos (Jean-Pierre Melville, 1963)
Os homens de violência típicos de Melville contando os minutos para o fim. Morte a credito.
Assassination (Masahiro Shinoda, 1964)
Um homem e seu tempo. Uma serie de gestos, ações, tramas que se complementam e se negam. De como registrar a história e suas impossibilidades.
Fort Graveyard (Kihachi Okamoto, 1965)
Um faroeste de cavalaria do Ford reimaginado como teatro do absurdo. Empatia, humor, horror.
Hit and Run (Mikio Naruse, 1966)
Mencionei semana passada o último filme de Naruse, Nuvens Carregadas, este é o penúltimo e como aquele o ponto de partida é um acidente de carro. Só que naquele ele servia de ponto de partida para um melodrama de renovação, aqui ele leva a pura destruição.
Three on a Couch (Jerry Lewis, 1966)
Jerry Lewis vai ao psiquiatra e os resultados não poderiam ser mais horripilantes (se engraçadíssimos). A sequência da festa está entre os maiores feitos formais dele, o que não é pouco.
Le Depart (Jerzy Skolimowski, 1967)
Primeiro filme de Skolimowski na Europa ocidental e no lugar de liberdade ele encontra mais paranoia e neurose. As superfícies da Nouvelle vague pervertidas para fins Skolimowskianos.
Inflatable Sex Doll of the Wastelands (Atsushi Yamatoya, 1967)
Yamatoya escreveu muito dos melhores filmes de Seijun Suzuki e seus temperamentos se complementam bem. Este aqui poderia ser um lado B de Branded to Kill. A psicologia do homem de acordo com os filmes, a certa altura alguém solta “eu não acredito que você prefere uma arma a uma mulher”.
Japanese Summer: Double Suicide (Nagisa Oshima, 1967)
A impotência japonesa diante da crescente ocidentalização e sua tentativa fálica de compensar trancados numa caverna.
Portrait of Jason (Shirley Clarke, 1967)
Do ato de dar corpo a uma presença.
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