Melhores de 2012 (50-26)

Como nos últimos anos o critério da lista é a de filmes lançados nos últimos três anos vistos por mim pela primeira vez em 2012.

Menções honrosas: 21 Jump Street (Phil Lord e Chris Miller), Abendland (Nikolaus Geyrhalter), Abrir Puertas y Ventanas (Milagros Mumenthaler), Aprés Mai (Olivier Assayas), Argo (Ben Affleck), Boa Sorte, Meu Amor (Daniel Aragão), Buenas Noches España (Raya Martin), Djailoh (Ricardo Miranda), Dredd (Pete Travis), Eden (Bruno Safadi), Flying Swords of Dragon Gate (Tsui Hark), A Guerra Esta Declarada (Valerie Donzelli), Hotel Mekong (Apichatpong Weerasethakul), The Inkeepers (Ti West), J Edgar (Clint Eastwood), Killer Joe (William Friedkin), Margaret (Kenneth Lonergan), Mientras Duermes (Jaume Balagueró), Missão Impossivel 4 (Brad Bird), La Noche de Enfrente (Raul Ruiz), O que se move (Caetano Gotardo), Pa Negre (Augustin Villaronga), The Raid (Gareth Evans), White – The Melody of a Curse (Got Kim e Sun Kim), The Woman Knight of Mirror Lake (Herman Yau)

50) Ballet Aquatique (Raul Ruiz)
1250
O penúltimo filme de Ruiz não poderia ser mais simples construindo-se a partir de material alheio e alguns poucos elementos de cena e atores. É uma homenagem a Jean Painlevé, mas é sobretudo um filme de Ruiz que na sua simplicidade não deixa de ser uma declaração de princípios:  tudo no cinema permite um novo mergulho no imaginário. Ruiz é um maluco do qual sentiremos muita falta.

49) Lockout (James Mather e Stephen St. Leger)
1249

Entre os filmes desta lista Lockout deve ser de longe o menos ambicioso. Basicamente uma desculpa para os diretores estreantes Mather e Leger e o produtor Luc Besson reimaginar Fuga de Nova York numa estação espacial. Tudo aqui é perfeitamente genérico e dispensável, mas Lockout possui algo que uma bomba inflada como Skyfall jamais terá: uma compreensão total do seu material e dedicação a ele que evita trata-lo como mais ou menos do que é. Nenhuma tentativa envergonhada de se justificar ou tentar soar espertinho e irônico (para um filme que procura tanto se aproximar do cinema de ação dos anos 80, Lockout não demonstrar nenhum fetiche auto referencial).  Alem disso o filme se beneficia muito da presença de Guy Pearce (apesar de duas sessões do filme depois eu ainda não ter certeza se ele estava a se divertir horrores ou horrorizado que seu agente lhe colocou num filme como este).

48) Les Mains en l’air (Romain Goupil)
1248

Um filme sobre a política de imigração francesa do ponto de vista de um grupo de crianças que trata o olhar infantil com respeito e sem nenhuma condescendência ou exploração.  Les Mains em L’air faz um trabalho notável de combinar história nos rituais infantis (incomporavelmente melhor do que a maioria dos filmes sobre olhar infantil sobre história). Goupil é um ótimo diretor que merecia ser mais conhecido.

47) Vamps (Amy Heckerling)
1247

Bem longe da sátira sobre vampiros  que inevitavelmente será vendida/vista, mas uma muito pessoal e agradável comédia sobre passagem do tempo.  Tem uma série de ótimas ideias e sobretudo um olhar muito claro e forte sobre seu tema central. Alem disso os últimos dez minutos são consideravelmente mais envolventes do que uma comédia ligeira sobre vampiros lançada direta em vídeo deveria ser.

46) Sightseers (Ben Wheatley)
1246

Wheatley segue seu tour pelo ficção cinematográfica inglesa com sua contribuição para o mais inglês dos gêneros: a comedia de humor negro de serial killer. Se há algo terrível na Inglaterra de Sightseers é que o mal dela é um dado que o filme reconhece como existindo antes dele, só um fato a mais dentro da sua construção, com o qual simplesmente se deve conviver.  É um filme a principio muito mais ligeiro do que Kill List, mas que faz o mesmo movimento de naturalismo para um mal estar assustador.

45) 4:44 Last Day on Earth (Abel Ferrara)
1245

O fim do mundo por Abel Ferrara. Contraponto ficcional para algumas das soluções caseiras que Ferrara buscou nos seus documentários recentes, 4:44 é não só um dos filmes mais intimistas já feitos sobre a ideia, mas um dos melhores imaginados, cada detalhe do último dia de Willem Dafoe sentido e vivido como poucos filmes são capazes de expor.

44) Les Eclats (Ma Gueule, Ma Revolte, Mom Nom) (Sylvain George)
1244

Les Eclats não deixa de sugerir um sub produto do excepcional Qu’ils reposent en révolte (des figures de guerres) (que estava no meu top 5 do ano passado), outro catalogo de corpos resistenttes e violência institucional sobre eles. Se não tem o impacto da surpresa do filme anterior, Les Eclats retoma e expande seu projeto com força inegáveis e reafirma que o cinema político de George é dos mais essenciais produzido na Europa nos últimos anosw.

43) Estudante (Darezhan Omirbayev)
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Omirbayev segue com seu projeto recente de confrontar a moral da literatura russa do século XIX com a paisagem cazaque do século XXI.  O conceito aqui é um pouco mais redutivo do que em Chouga (a excepcional versão de Anna Karenina que o diretor fizera alguns anos atrás), mas o diretor extrai dele tudo que pode incluindo alguns dos planos externos mais evocativos do cinema de 2012.

42) É a Terra, Não é a Lua (Gonçalo Tocha)
1242
É na Terra, Não é na Lua sugere uma aprazível decantação épica lusitana de algumas ideias muito em voga no cinema de arte contemporâneo na chave de autoficção e etnografia (Alonso, Castaing Taylor,Dvortsevoy, Gonzales-Rubio, etc.) . A principio, sua grande contribuição é justamente detectar certo elemento de absurdo que a Ilha do Corvo empresta à câmera descritiva. Se muito desses filmes sugerem a busca por uma comunidade essencial, um desejo político de uma retomada do comunitário e de uma outra sociedade marginalizada e esquecida, Tocha por vezes busca quase o oposto disso. A Ilha do Corvo fascina, mas não deixa de sugerir o sentimento muito português de ser um espaço naufragado na história. Essa ilha se afirma como um espaço que existe à parte, mas o cineasta e sua equipe (que não à toa surgem no filme como verdadeiros turistas) menos se entregam a este ambiente do que seguem constantemente removidos dele.

41) Scabbard Samurai (Hitoshi Matsumoto)
1241

A cada novo filme o humor absurdo de Matumoto se revela mais a vontade e inventivo. Esta comédia sobre as 30 tentativas de um samurai deprimidor fazer um garoto ainda mais deprimido rir (do contrario o pai do moleque fará ele cometer harikiri) é ao mesmo tempo engraçadíssimo, sentimental na medida certa e formalmente envolvente e cheia de momentos assombrosas. O mais próximo de Jerry Lewis quanto o cinema contemporâneo chega hoje.

40) Mulberry St (Abel Ferrara)
1240
Ponto final da série de excelentes documentários mitológicos que Ferrara realizou nos últimos anos voltando seu olhar de vez para o universo do seu autor, sua vizinhança e também o espaço em que começou a filmar nos anos 70.  È um retrato comunitário tão assombrado a sua maneira quanto a Napoles de Napoli Napoli Napoli com o processo de reurbanização do fim dos anos 90 fazendo as vezes da Camorra.

39) Starlet (Sean Baker)
1239
Provavelmente um filme mais enganosamente simples do ano com o diretor Baker seguindo adicionando problemas que ele desarma logo a seguir. È um ótimo filme sobre percepção (do espectador, mais do que dos personagenbs) e o raro filme que genu8inamente merece ser elogiado pela sua generosidade.

38) Domestica (Gabriel Mascaro)
1238

Conhecendo a obra anterior do Gabriel Mascaro era fácil imaginar que Domestica se revelasse simplesmente  uma denuncia básica da pretensa intimidade entre as personagens principais e seus jovens patrões a registra-las, mas o que Domestica consegue é justamente desarmar esta a ideia simples e realizar um filme muito mais abrangente e contraditório sobre todo o escopo do tema e fazer isso justamente por abraçar o seu dispositivo de colaboração e confiar na força que surge das imagens captadas.

37) Universal Soldier Day of Reckoning (John Hyams)
1237

O que acontece quando cineasta talentoso que curte igualmente John Carpenter e Michael Haneke recebe um cheque em branco para fazer o que quiser com um filme de ação.  Os dois filmes anteriores de Hyams tinham uma facilidade com coreografia realista de ação e um tom melancólico muito próprios, mas este Day of Reckoning reconfigura-os na direção de um triste filme de horror sobre personagens de cinema descartáveis. Alem disso o filme conta com duas das sequencias mais memoráveis do ano, a abertura (que é o melhor curta de terror em um bom tempo) e a briga entre Scott Adkins e Andrei Arlovski que é um primor de coreografia bruta com arco dramatico.

36) Red Hook Summer (Spike Lee)
1236

Como o melhor Spike Lee um filme notável inclusive pelas suas imperfeições que tenta cobrir mais espaço do que é capaz de abarcar, mas é marcante sempre que funciona. É o seu filme mais relaxado desde a virada da década passada, e sempre que o filme se concentra na figura do pastor do Clarke Peters é dos mais potentes também.

35) The War (James Benning)
1235

James Benning realiza um tipo muito diferente de retrato do que geralmente se espera dele buscando material de registro do grupo russo anarquista Voina para elaborar uma paisagem sobre ação/pensamento radical num espaço autoritário contemporâneo e a forma como tais ações e representadas e colocadas dentro e fora de contexto.

34) Na Carne e na Alma (Alberto Salva)
1234

Como representar o desejo no seu estado mais nu e embaraçoso.  Direto, grosseiro e honesto como poucas coisas realizadas por aqui nos últimos anos. Daria uma grande sessão dupla com La Captive da Chantal Akerman.

33) Moonrise Kingdom (Wes Anderson)
1233

O cineasta moleque se diverte na sua casa de bonecas. Que de todo este artifício apareça um filme tão emocionalmente especifico é só outra lembrança de que Anderson é bem melhor que seus críticos.

32) Two Years at Sea (Ben Rivers)
1232

Ninguém domina tão bem a arte de transformar a observação do banal numa fabulação que parece sempre pronta para embarcar num imaginário que é tudo menos banal quanto Ben Rivers. Two Years at Sea é nominalmente uma peça de auto ficção centrada num homem excêntrico que vive isolado numa cabana no meio do nada, mas sobre o olhar do Rivers é um exercício de fabulação tão grande quanto Moonrise Kingdom.

31) A Simple Life (Ann Hui)
1231

O melhor filme de Ann Hui em uma década é um melodrama seco sobre uma mulher que passou 6 decadas trabalhando para a mesma família. A despeito da sua disposição de trabalhar com materiais diversos, Hui sempre esta no seu melhor em dramas observacionais e sobretudo em filmes como este, Summer Snow e July Rhapsody em que ela pode sugerir toda uma história de experiências repartidas entre seus personagens.

30) Reconversão (Thom Andersen)
1230

Mais um capitulo do olhar de Andersen para a história dos espaços e da relação do homem com ele. Em Reconversão, a arquitetura é uma arte passageira, perdida em meio à eternidade da história: nasce da ruína e para ela esta destinada a retornar.

28) Cosmópolis e Um Método Perigoso (David Cronenberg)
1229
1228
Dois excelentes filmes de Cronenberg ambos um tanto mal entendidos por ai muito por serem igualmente julgados pelas suas qualidades mais superficiais, são ambos adaptações de prestigio muito particulares que se não chegam a figurar entre os melhores do cineasta por alguns problemas de elenco (excesso de Keira Knightley em Método, excesso de atores perdido com dialogo de Delillo em Cosmopolis), reconfifuram o materilç original em visões políticas muito fortes.  Acho que prefiro ligeiramente Um Método Perigoso por conta de alguns senões com o original de DeLillo que Cosmopolis adapta (e melhora, diga-se).

27) Bleak Night (Yoon Sung-Hyun)
1227

Este filme de estreia de Yoon Sung-Hyun é o melhor filme coreano não dirigido pelo Hong Sang-soo que vi nos últimos anos e um dos retratos mais fortes de um grupo de adolescentes em muito tempo. Bleak Night consegue até tornar sua excessivamente complicada estrutura não-cronológica significativa. Yoon tem um olho muito bom para como seu grupo de jovens se comporta, especialmente quando nada de significativo parece acontecer, e também para os ocasionais rompantes de crueldade que se intromete entre eles.

26) Damsels in Distress (Whit Stillman)
1226

É só quando retrógados excêntricos com bom ouvido para dialogo desaparecem por 13 anos que o tamanho do buraco que deixam para trás ficam claros. Damsels in Distress não é o melhor filme que vi em 2012, mas talvez seja o mais prazeroso.

15 Comentários

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15 Respostas para “Melhores de 2012 (50-26)

  1. João Paulo

    Suas lista de final de ano são tão indispensáveis quanto o especial de fim de ano do Roberto Carlos rs; muito boa a lembrança Lockout e de Soldado Universal 4, e aproveitando que vc citou esse filme do John Hyams queria perguntar se viu e gostou de Dragon Eyes, merecia ao menos entrar nas menções honrosas, não?

    Esperando seu comentário pra Tabu.

  2. Maravilhosa lista!
    Pesquisa cinéfila impressionante, apresentações muito boas dos filmes.
    Antes vinha aqui vez ou outra, mas agora já estou seguindo o blog regularmente.

    Mas e o resto? E os 25 primeiros?

  3. Zé Luiz

    Resolveu diminuir a lista esse ano, Filipe?

  4. Carlos

    Ótima lista, como sempre. Certeza que irá me acompanhar pelo ano inteiro. Pena que o acesso será bem restrito para alguns. A propósito de dificuldade, Filipe, você consegue pensar em alguns filmes raros que só são possíveis de se encontrar no KG? Queria aproveitar o freeleech da melhor maneira possível. Abraço e obrigado por esse espaço!

    • Filipe Furtado

      Dificil escolher só alguns Carlos, mas por exemplo quase todos os filmes daquela minhya lista de cinema italiano tem lá e vários são bem dificeis de achar.

  5. Suas listas sempre estão cheias de curiosidades. Estou baixando Soldado Universal 4!

  6. Suas listas são as melhores. Aguardando a segunda parte.

  7. Djailoh andou sendo exibido no Canal Brasil no primeiro semestre do ano passado, em horário ingrato da madrugada, quase sem divulgação e sem ter passado pelos cinemas antes. Me surpreendeu positivamente. Mas legal mesmo é ver Killer Joe, bom filme mas que o pessoal tem colocado nas alturas, apenas nas menções honrosas.

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