40) Gamer (Mark Neveldine/Brian Taylor)
Há uma considerável grosseria em Gamer a começar pelo montagem ADD que caracteriza todos os filmes da dupla Neveldine/Taylor. São duas coisas porém que tornam este de longe o melhor filme B do ano: primeiro os cineastas tem aquele talento à Tashlin/Verhoeven de observar as vulgaridades do seu tempo sem nenhum sinal de superioridade (pelo contrário Gamer é precisamente o filme que Neveldine e Taylor assistiam aos seus 13 anos no VCR entre sessões de filmes pornô e videogame). Segundo o filme tem o futuro sci-fi mais ricamente imaginado em muito tempo e não simplesmente na direção de arte/efeitos mas sobretudo em pensar como cada elemento deste futuro funciona. Eu iria fechar dizendo que se trata da melhor mistura de Paul Verhoeven, Takashi Miike e Tony Scott imaginável, mas eu fiz esta comparação numa outra discussão ontem e o Ignaty Vishnevetsky melhorou ela muito respondendo que “se Miike é Ruiz sem óbvias inclinações artísticas, Neveldine e Taylor são Miike com o coração de Verhoeven e o olho do Scott”. Qualquer filme que faça um cara inteligente soltar uma frase dessas mais que merece um olhar atento.
39) Accident (Soi Cheang)
A Milkway de Johnnie To segue a melhor fabrica de thrillers ambiciosos do mundo. Este Accident dirigido por Soi Cheang que nos últimos anos fez alguns filmes de baixo orçamento bem interessantes parte do seu superconceito (grupo de assassinos especializados em disfarçar seus crimes como acidentes se vê as voltas com a possibilidade de que alguém planeja eliminá-los do mesmo jeito) para criar um filme sempre intenso e criativoseja imaginando os diversos assassinatos, seja se perdendo na paranóia do seu protagonista.
38) Kinatay (Brillante Mendoza)
Todo o cinema de Brillante Mendoza é baseado num único talento: uma grande capacidade de instalar o espectador num ambiente e traduzir todo o peso de presenciá-lo. Kinatay se beneficia disso mais do que qualquer um dos seus filmes anteriores, no que pese sua sociologia boba (e as legendas que aos poucos revelam os dizeres irônicos da camisa da academia de policia devem ser a pior idéia de um bom filme em 2009) trata-se de uma experiência muito forte e a afirmação vale por exemplo tanto para as cenas do assassinato do titulo como para a longa viagem do protagonista até a casa afastada.
37) Irene (Alain Cavalier)
Outro filme capaz de conjurar um peso enorme. O último dos filmes em primeira pessoa que Cavalier vem realizando nos últimos 10 anos é na verdade um filme de fantasmas assombrado tanto pela primeira esposa morta muitos anos atrás, pela mãe recém falecida como pelo fragilidade que o cineasta vetarano localiza em si mesmo.
36) Casting a Glance (James Benning)
Um filme complexo justamente pela diferença do que ele aparenta ser e o que ele é. Trata-se da biografia da Spiral Jetty escultura natural que Robert Smithson criou em um lago em Utah que passou boa parte dos anos 80/90 submersa. Da série de planos da escultura no lago Benning constrói toda uma ficção de passagem do tempo. Ficção mesmo já que o filme se apresenta como material colhido deste o começo dos anos 70 quando na verdade foi todo filmado nos últimos anos.
34 ) A L’Aventure (Jean-Claude Brisseau)/ O Rei da Fuga (Alain Guiraudie)
Talvez nenhum filme este ano tenha um título tão apto quanto este de Guiraudie de um grande frescor e liberdade a cada novo plano. Faz com que nos lembremos de alguns dos melhores filmes anárquicos do Carlão Reichenbach. A L’Aventure me parece um tanto mais abstrato do que a dupla Coisas Secretas/Anjos Exterminadores, mas estão ali a mesma dedicação ao drama, a mesma crença século XIX no romanesco e a mesma preocupação com desejo que marca o cinema recente de Brisseau. Não conheço outros filmes do Guiraudie e L’Aventure provavelmente é um Brisseau menor, mas são ambos filmes de grande vitalidade.
33) Montanha do Abandono (Soo Yong-Kim)
Pode-se dizer que não existe à primeira vista nada demais num filme como este, o que da força ao trabalho de Soo Yong-Kim é a precisão do seu olhar. De um lado a uma riqueza de detalhe (a informação de que o filme é semi autobiográfico não surpreende em nada), mas sobretudo uma aproximação com olhar infantil raro, tanto no trabalho com as duas atrizes mirins como em como o filme sabe por a camera onde melhor valorizar o ponto de vista delas.
32) By Comparison (Harun Farocki)
Na superfície um documentário sobre a construção de tijolos, na prática um ensaio fascinante sobre industrialização e suas aplicações. Farocki viaja o mundo localizando os mais diferentes modelos de produção dos mais artesanais até os 100% mecanizados e depois os redimensiona em termos práticos. Só tem uma hora de duração, mas apresenta mais idéias do que toda a seleção do É Tudo Verdade não dirigida pelo Coutinho.
31) Coal Money (Wang Bing)
Outro documentário de uma hora, este sobre os hábitos dos caminhoneiros chineses que transportam carvão. Feito sobre encomenda para televisão francesa, mas jamais um trabalho menor. Como sempre no cinema de Wang Bing não há “informações”, mas um mundo inteiro que ele nos apresenta.
E “Gamer” nessa lista deve ser a maior surpresa da história desse blog. Está na minha lista de piores do ano.
Realmente, uma lista bem particular. Vou ter que ver ‘Gamer’ e ‘A trilha’, então?
Deveria, mas pode deixar que não tem mais filmes B estranhos nas primeiras 30 posições.