Um objeto estranho. Cuidadosamente construído e tão inerte e passivo a sua maneira como seu protagonista. Como Zodíaco é um filme sobre o tempo, mas se o filme anterior se propunha como uma agonizante escavação materialista sobre os efeitos do mesmo, Benjamin Button existe num tempo muito mais abstrato e mitológico. Ignore-se com a mesma firmeza tanto a história – difícil compreender como as comparações com Forrest Gump começaram – quanto o que há de grotesco na premissa básica, de forma a restar um bastante teórico romance mitológico. Teórico na medida em que Fincher só consegue olhá-lo a distancia. É justamente esta distancia que mantém o filme fascinante e mesmo um tanto tocante. Fincher faz excelente uso do carisma (e especialmente) da forma contida que freqüentemente transparece na presença de Pitt para que o filme permanece banhado nesta atmosfera de mito hollywoodiano e bastante distante do espectador (da mesma forma a presença glacial de Cate Blanchett que tornaria errada para a versão que 99% dos cineastas filmariam, funciona muito bem aqui). Só as cenas com Tilda Swinton sugerem uma experiência legítima e vivida, mas mesmo assim o filme avança com grande facilidade. Benjamin Button é menos a conseqüência natural de Zodíaco, e mais o filme mecânico que Fincher há muito tateava. Frustrante talvez, eficaz e perfeito a sua maneira.
Film Comment
Saiu a edição nova da Film Comment e com ela o novo conteúdo online que cada vez inclui mais material exclusivo (pelo visto a revista infelizmente decidiu relegar toda a cobertura de festivais para site, por exemplo) como uma entrevista com David Fincher. Do conteúdo da revista imprensa incluso no site esta a lista de melhores do ano (mais ampla que aquela que eu já havia postado aqui) e um artigo sobre Luz Silenciosa (pena que a entrevista com James Toback conduzida pelo Tarantino que promete ser um clássico esteja só na edição impressa).
O melhor mesmo é a entrevista com Efe Cakarel dono do muito interessante site The Auteurs (sobre o qual o Leonardo Cruz já tinha escrito lá no Blog da Ilustrada). Muito boa tanto porque a proposta do site é de uma ambição sem muito paralelos e também porque Cakarel trata do lado prático de como montou seu projeto de distribuição online com refrescante falta de rodeios.
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