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Mais Chantal Akerman

Algumas observações rápidas sobre 4 filmes da Akerman vistos neste final de semana.

Hotel Monterrey (72)

Documentário silencioso sobre o hotel do título me trouxe a memória o Act of Seeing with One’s Own Eyes do Brahkage, talvez pelo silêncio desconfortável na sala, talvez por que a maneira como a câmera da cineasta opera sobre o hotl (especialmente na segunda metade) traga a mente uma autopsia. Me parece sobretudo um filme esboço de muito da relação com lugar que Akerman desenvolve em outros filmes. O mesmo espaço fantasmagórico que já havia mencionado a respeito de La-bàs. Já que mencionei Brahkage, admito que em algumas cenas me veio a mente O Illuminado (Akerman dirigiria um grande filme de.terror se quisesse, se bem que A Prisioneira me dá muito mais medo do que qualquer filme terror recente).

Os Encontros de Anna (78)

Boa idéia de quem programou este filme logo depois de Hotel Monterrey já que muito da sensação de desconforto que a cineasta levantava sobre aquele hotel é transportado aqui para toda a Europa. Primeiro filme com orçamento de Akerman (e por conseqüência um roteiro mais narrativo), é bem mais fácil de ver que outros filmes dela (até porque permite encaixá-lo facilmente como um sub-Antonioni, olhar que limita bastante o filme). No lugar de Antonioni talvez seja melhor aproximá-lo de alguns filmes de mal-estar que estavam em voga no cinema europeu da época (o Rivette mais paranóico, alguns dos filmes alegóricos de Garrel, Claro do Glauber). A parte do filme passada no trem é especialmente forte na maneira como transborda esta impressão de desacerto, assim como toda a seqüência com a mãe no que ela tem de mais aberta e acalorada tanto contrasta como aprofunda o conceito do filme.

Jeanne Dielman, 23 Quai Du Commerce, 1080 Bruxelles (75)

Um filme ao qual certamente retornarei, mas ficam duas observações sobre paradoxo do suposto minimalismo realista de Jeanne Dielman: 1) trata-se de um filme de ação. Não só tudo no filme é uma questão de tarefas executadas, com Jeanne em constante movimento e sempre realizando algo, mas o filme é editado com um controle muito grande de ritmo. A última hora (ao menos para quem sabe como o filme termina) funciona como um thriller. 2) é um verdadeiro filme de estrela. Jeanne não existiria sem Delphine Seyrig e a presença que ela impõe sobre cada sequência. Por vezes parecemos estar diante do que seria um filme de Warhol caso ele tivesse uma grande estrela a sua disposição. Eu poderia passar 6 horas vendo Seyrig lustrar sapatos ou dobrar panos.

Noite e Dia (91)

Chega a ser um choque seguir de Jeanne Dielman para este filme. De longe o filme mais tranqüilo que vi da diretora até hoje, com muito pouco do clima carregado que tende a marcar seus filmes. Fabula romântica que a primeira vista parece se propor uma homensgem a Demy, mas que depois segue por outros caminhos (e provavelmente foi ponto de referencia para Rivette no Haut Bas Fragile). O uso de cores é ótimo e entre Paris e o apartamento do casal de protagonistas percebemos que Akerman não precisa de sentimento de mal estar para fazer grande uso de suas locações.

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Là-bas (Chantal Akerman,06)

Muito curioso ver este filme alguns dias depois do filme da Kathryn Bigelow. Há em comum entre eles o mesmo paradoxo: uma imagem clara e objetiva que vai ganhando aos poucos um peso de abstração e estranhamento, como se mesmo a mais límpida das câmeras depositasse sobre elas todo um peso do desconhecido. Não deixam de ser exercícios em cinema fantástico. Akerman esta deslocada em Israel e foca sua câmera sobre as janelas dos vizinhos para evitar sair de casa ou para evitar ter de filmar Israel. Ocasionalmente ouvimos algum off da diretora que pouco explicam para alem de um contexto mínimo. Là-bas não é um filme minimalista tanto quanto é um filme escorregadio. Há uma força nos pequenos momentos da vizinhança ali capturados que encontram complemento no contra plano sugerido mas sempre negado do movimento dentro do próprio apartamento da cineasta. É um filme de sala tanto quanto de janela (desta forma próximo de outros filmes da diretora em que o cômodo existe como espaço privilegiado), não é por nada que a janela é quase sempre filmada com as cortinas baixadas. Akerman permanece ali em suspenso no meio destas imagens banais, mais fantasmagóricas. Grande filme.

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