Muito curioso ver este filme alguns dias depois do filme da Kathryn Bigelow. Há em comum entre eles o mesmo paradoxo: uma imagem clara e objetiva que vai ganhando aos poucos um peso de abstração e estranhamento, como se mesmo a mais límpida das câmeras depositasse sobre elas todo um peso do desconhecido. Não deixam de ser exercícios em cinema fantástico. Akerman esta deslocada em Israel e foca sua câmera sobre as janelas dos vizinhos para evitar sair de casa ou para evitar ter de filmar Israel. Ocasionalmente ouvimos algum off da diretora que pouco explicam para alem de um contexto mínimo. Là-bas não é um filme minimalista tanto quanto é um filme escorregadio. Há uma força nos pequenos momentos da vizinhança ali capturados que encontram complemento no contra plano sugerido mas sempre negado do movimento dentro do próprio apartamento da cineasta. É um filme de sala tanto quanto de janela (desta forma próximo de outros filmes da diretora em que o cômodo existe como espaço privilegiado), não é por nada que a janela é quase sempre filmada com as cortinas baixadas. Akerman permanece ali em suspenso no meio destas imagens banais, mais fantasmagóricas. Grande filme.