Mostra (6): 3 Faces

mostra3faces3 Faces se diferencia dos outros que Jafar Panahi fez depois da sua prisão. O drama e a encenação são mais elaborados, a própria figura do diretor mais marginal, um observador da ação no lugar de protagonista. A revolta típica dos seus filmes é um pouco mais resignada, com a observação se sobrepondo ao confronto. Há uma influencia clara de Kiarostami, em particular nos filmes da trilogia de Koker, como não se via desde os seus primeiros longas. Os temas são aqueles que sempre figuram de alguma maneira no seu trabalho: o lugar da artista na sociedade, o machismo iraniano, poder, representação, classe. Estão ali três atrizes de gerações e posições distintas e as margens da ação o próprio Panahi, tentando representar um patriarcado benigno. Essa talvez seja a maior novidade do filme ao contrário de outros filmes de Panahi que lidam mais diretamente com a mulher na sociedade iraniana, aqui ele não se permite a mesma distância, a sua presença encena te relembra o tempo toda das próprias vantagens, mesmo que o filme nos relembre que o diretor ainda seja um homem com suas liberdades limitadas. A atria veterana, “aposentada depois da revolução”, é mantida fora de campo pelo que seria uma opção própria, mas também pela sua desconfiança para com os diretores “todos iguais”. A investigação e a incerteza do terço inicial vai dando lugar a um jogo de espelhos e poder. Um jogo de cinema, sem saídas fáceis, enfim.

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