
Noite Sem Distancia, de Lois Patiño
Como sempre o critério aqui são filmes vistos pela primeira vez este ano que tiveram as primeiras exibições nos últimos 3 anos.
Primeiro um comentário rápido sobre curtas. Meu favorito do ano foi Noite Sem Distancia do Lois Patiño. Outros 9 curtas que gostei muito em ordem alfabética: Bitch Better Have My Money (Rihanna, MegaForce), Fort Morgan (Alexander Stewart), Hunter (Scott Barley), I Dalio (Mark Rappaport), Ihomtep (Leo Pyrata), Message de salutations: Prix suisse / remerciements / mort ou vif (Jean-Luc Godard), Um Século de Energia (Manoel de Oliveira), Sem Título #2: La Mer Larme (Carlos Adriano), World of Tomorrow (Don Hertzfeldt).
Vale apontar que optei por não contar Visita ou Memórias e Confissões do Manoel de Oliveira como um filme de 2015.
Menções honrosas (100-76) À Beira Mar (By The Sea, Angelina Jolie), The Airstrip (Heinz Emigholz), Aloha (Cameron Crowe), Being Boring (Lucas Ferraço Nassif), La Buca (Daniele Cipri), Da Sweet Blood of Jesus (Spike Lee), Daughters (Tochter, Maria Speth), Everest (Baltasar Kormákur), Experimenter (Michael Almereyda), Gangster Payday (Lee Biu-Cheung), Garotas (Bande des Filles, Céline Sciamma), Gett: o Julgamento de Viviane Amsalem (Ronit Elkabetz, Shlomi Elkabetz), Hill of Freedom (Hong Sang-soo), A Incrível História de Adaline (The Age of Adaline, Lee Toland Krieger), Mia Madre (Nanni Moretti), Ming of Harlem: Twenty One Storeys in the Air (Phillip Warnell), A Misteriosa Morte de Pérola (Guto Parante, Ticiane Augusto de Lima), Mountains May Depart (Jia Zhang-ke), Noite (Paula Gaitán), Pasolini (Abel Ferrara), Sabor da Vida (An, Naomi Kawase), Selma (Ava DuVernay), Temporary Family (Cheuk Wan Chi), Teobaldo Morto, Romeu Exilado (Rodrigo de Oliveira), Vício Inerente (Inherent Vice, Paul Thomas Anderson)
(75-51) Actress (Robert Greene), O Apostata (El Apóstata, Federico Veiroj), Bata Antes de entrar (Knock Knock, Eli Roth), La Beau Monde (Julie Lopes-Curval), Califórnia (Marina Person), Capital Humano (Il Capitale Umano, Paolo Virzi), O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, Andy e Lana Wachowski), Dois Casamento$ (Luiz Rosemberg Filho), Histoire de Judas (Rabah Ameur-Zaimeche), Mad Max Estrada da Fúria (Mad Max Fury Road, George Miller), Man From Reno (Dave Boyle), A Morte Diária (Daniel Lentini), Os Oito Odiosos (The Hateful Eight, Quentin Tarantino), Perdido em Marte (The Martian, Ridley Scott), Ponte de Espiões (Bridge of Spies, Steven Spielberg), O Prefeito (Bruno Safadi), Retratos de Identificação (Anita Leandro), Ricki and the Flash (Jonathan Demme), Sob Nuvens Elétricas (Aleksey German Jr), Stinking Heaven (Nathan Silver), Taxi (Jafar Panahi), Time Lapse (Bradley King), Top Five (Chris Rock), Women Who Flirt (Pang Ho-Cheung), Volta à Terra (João Pedro Plácido)
50) Ao Longo dos Anos (Über Die Jahre, Nikolaus Geyrhalter)
Nikolaus Geyrhalter filma um grupo diverso de trabalhadores de uma fábrica têxtil austríaca por cerca de uma década, enquanto ela fecha e cada um precisa se virar por si. Como close sobre a crise europeia e um olhar sobre o trabalho no momento em que ele está cada vez menos valorizado há poucos filmes iguais.
49) Creed (Ryan Coogler)
Um ato de apropriação cultural retomando boa parte da iconografia de Rocky para dar vazão a uma ideia de cinema popular negro. 2015 foi o melhor ano para produto hollywoodiano em mais de meia década e mesmo assim Creed é bem surpreendente considerando o quanto o ponto de partida aparenta ser cínico e o quanto ele chega a um ponto final tão emocionalmente justo como político.
48) Storm Children, Book 1 (Lav Diaz)
Primeiro do que promete ser uma série de documentários de Diaz sobre crianças após um dos vários tufões que assolaram as Filipinas. É um filme simples e pequeno (a equipe se limitou ao cineasta e seu filho, a duração de 150 minutos é quase um curta para os padrões dele) que majoritariamente abdica do vigor narrativo que lhe é caro por um cuidadoso olhar observador. Nessas crianças a brincar a partir do possível, ele encontra uma das melhores expressões para a ideia de vida após o desastre que sempre lhe persegue.
47) Ryuzo and his Seven Henchmen (Takeshi KItano)
Kitano retoma algumas das ideias do segundo Outrage em tom de comédia rasgada. O humor de Kitano segue dos mais peculiares assim como suas noções de ritmo. É filme de um mestre que ao mesmo tempo pratica cinema popular é completamente desinteressado em praticar qualquer concessão.
46) A Tale of Three Cities (Mabel Cheung)
Cinemão chinês no que tem melhor, romance épico com a Segunda Guerra de pano de fundo baseada=o na vida real dos país de Jackie Chan. Grandes gestos entrecortados pela necessidade de sobrevivência. Dois astros locais (Lau Ching-wan e Tang Wei) em atuações notáveis. De longe o melhor filme da Mabel Cheung desde os anos 90.
45) Tamako in Moratorium (Nabuhiro Yamashita)
Concebido como um veículo para a popstar japonesa Atsuka Maeda (que protagonizou O Sétimo Código do Kurosawa pela mesma época) e fazendo muito bom uso da sua opacidade expressiva. O ponto de partida é a paralisia de uma jovem que volta para casa após terminar a faculdade, mas ele se revela aos poucos uma bela atualização da tradição de filmes de pais e filhos tão centrais ao cinema japonês.
44) Missão Impossível Nação Secreta (MIssion Impossible Rogue Nation, Christopher McQuarrie)
Melhor episódio da série desde o inaugural de Brian De Palma. A melhor coreografia de ação do cinema americano de 2015 (não tão expressiva e barroca do que a da Mad Max, mas mais controlada e eficiente). O controle de ritmo e McQuarie espelhando o tom incestuoso que sempre dominou a série. É também, assim como o subestimado Edge of Tomorrow do ano passado, um estudo dos mais interessante do fascínio narcísico da presença de Tom Cruise.
43) Murmur of the Hearts (Sylvia Chang)
2015 no cinema chinês será lembrado em que Sylvia Chang voltou as telas depois de quase uma década de semi aposentadoria: ela foi co-autora do último Johnnie To, a melhor coisa do último Jia e voltou para trás das câmeras neste assombroso melodrama sobre o desraizamento chinês.
42) Sleeping with Other People (Leslye Headland)
Leslye Headland tem uma das vozes maus interessantes do cinema narrativo americano recente justamente porque tenta trabalhando dentro de estrutura mais do que conhecidas (no caso as da comédia romântica), mas de forma a permitir inserir nelas variações de comportamento e tom que não deviam caber neles.
41) Bone Tomahawk (S. Craig Zahler)
Como tornar a ideia do destino manifesto americano num texto sangrento e literal. Um faroeste brutalista do Richard C. Sarafian atualizado para os tempo pós Tarantino (e um híbrido faroeste/horror com Kurt Russell interpretando John Wayne melhor que o do próprio Tarantino).
40) A Assassina (Hou Hsiao-Hsien)
Existe na tensão entre o movimento do Wu xia e a placidez de Hou. Me fez pensar muito no Tabu do Oshima, outra obra tardia de mestre que retoma a tradição popular local e através da quase asfixia e academicismo produzir um retrato duro de rigidez social.
39) Rabo de Peixe (Joaquim Pinto e Nuno Leonel)
Uma das tendências mais curiosas do cinema recente é dos filmes que revisitam material antigo filmado pelos próprias realizadores na busca de extrair deles novos sentidos. Esta ideia é especialmente interessante neste documentário de Pinto e Leonel que retoma um média que filmaram no começo dos anos 2000 e transformam o que era um documentário descritivo num filme sobre memória.
38) A Travessia (The Walk, Robert Zemeckis)
Hollywood elogia a si mesma, mas com uma habilidade e imaginação que tais exercícios raramente alcançam. Cinema como ato de purgação da tragédia nacional. A sequência título com a travessia das duas torres é das coisas mais impressionantes realizadas este ano.
37) The Taking of Tiger Mountain (Tsui Hark)
Uma nação e uma herança de violência que nenhuma história oficial consegue dar conta. Tsui o inconciliável segue produzindo blockbusters dentro da lógica nacionalista que tanto agrada o governo chinês e segue lançados em direções pantanosas e inesperadas.
36) Sniper Americano (American Sniper, Clint Eastwood)
Um filme sobre ideologia numa era em que a mesma só consegui existir nos discursos pela suas caricaturas me parece um dos filmes mais mal visto (a favor e especialmente contra). Tentei dar conta dele aqui.
35) Chi-Raq (Spike Lee)
Essencialmente o que se espera de um filme de Spike Lee: discursos conflitantes permitidos colidir enquanto o filme colhe temas, personagens, ideias, tiques estilísticos e tudo mais que Lee acredita que cabe na tapeçaria dele. O filme mais preciso e raivoso dele desde She Hate Me.
34) The Thought That We Once Had (Thom Andersen)
Quando as imagens olham de volta. Uma pessoal releitura de imagens e ideias de cinema que são caras a Andersen usando os dois volumes do Delruze como parte de entrada, mas não de chegada. Troca o tom direto e pragmático que Andersen crítica usualmente pratica por uma mais especulativa vindo da tradição francesa.
33) Natural History (James Benning)
Fascinante exercício radical de Benning fazendo muito bom uso do espaço fechado tão pouco característico dos seus trabalhos. Um filme de paisagem sobre um museu explorando as possíveis contradições contidas nele.
32) Results (Andrew Bujalski)
O melhor filme do Bujalski em uma década, supostamente o filme mais convencional dele, mas na verdade uma habilidosa série de variações que ajudam a tira-lo da zona de conforto.
31) Três Lembranças da Minha Juventude (Trois Souvenirs de ma Jeunesse, Arnaud Desplechin)
De certa forma é o próprio Desplechin lidando com o fantasma das próprias imagens. Menos uma retomada do Comment je me suis dispute do que uma tentativa de ecoar algumas operações dele. Se todos os filmes de cineasta em crise de meio de carreira tivessem este vigor e vitalidade…
30) Unfriended (Levan Gabriadze)
Um beco sem saída estético provavelmente, mas faz algumas operações fascinantes com seu dispositivo. É um found footage passado no desktop de um computador e ele encontra ótimas soluções para funcionar como uma espécie de slasher literário para além da simples fascinação da mimese.
29) O Espelho (Rodrigo Lima)
Visualmente expressiva e delirante coleção de imagens que apontam de forma para o primeiro cinema fantástico sem abrir mão da atenção para os prazeres de paisagem e fisicalidade das atuações. Acho que é o longa d estreia mas interessante e inspirador do cinema brasilro em algum tempo.
28) É o Amor (C’Est L’Amour, Paul Vecchiali)
O Amor louco no século 21 é uma série de belas mentiras. Não tão bom quanto o Noites Brancas no Píer, mas o filme tem composições precisas, um número musical, Astrid Adverbe luminosa, uma cena sacaneado Um Estranho no Lago, uma ponta do Serge Bozon, cores maravilhosas, uma série de desvios encantadores e tudo entrecortado por uma constante tristeza.
27) Sara (Herman Yau)
Um complemento tardio as duas obras primas de Yau sobre prostituição (Whispers & Moans e True Women For Sale), mas se movendo entre o olhar de reportagem e uma atualização do melodrama de gueixa. Um filme sobre desejo deslocado/mercantilizado e as muitas maneiras que alguém pode ser comprado.
26) Beyond the Lights (Gina Prince-Bythewood)
Performance pop como uma forma teatral que precisa de uma emoção real para ressoar. Entre as necessidades de gênero e momentos de emoção crua, buscando o real no artificio e ajudado por umas das 4-5 melhores atuações do ano (Gugu Mbatha-Raw).
25) Kommunisten (Jean-Marie Straub)
Jean-Marie Straub redimensiona uma série de antigas imagens (mais uma sequência inéditada adaptada de Maraux) e no processo as recontextualiza para narrar o que significa ser um artista comunista nos últimos 50 anos e homenagear mais uma vez Danielle Huilet.
24) A Visita (The Visit, M. Night Shyamalan)
Sobre se acreditar no visível. Cinema como uma particular experiência religiosa, o real como um teatro social.
23) Blackhat (Michael Mann)
O El Dorado para o Rio Bravo de Miami Vice. Mann, o romântico noturno na sua paisagem mais desolada. Gasta um pouco de tempo para decolar, mas os últimos quarenta minutos estão entre os mais belos do ano.
22) Approaching the Elephant (Amanda Wilder)
Um documentário de cinema direto sobre uma escola livre no qual crianças de até 10 anos decidem o que aprender. Menos um filme sobre uma instituição do que sobre os sentidos da democracia observados no rosto e linguagem corporal de uma série de crianças pequenas.
21) John From (João Nicolau)
Adolescência, a paixão, a imaginação, se perdendo por ela, em casa, com os amigos. Eis aqui um belo filme. Melhor filme vindo da O Som e a Fúria este ano.
20) Heaven Knows What (Ben e Joshua Safdie)
Começa com uma experiência naturalista entre Cassavetes e Dardennes aos moldes dos filmes anteriores dos Safdie e pelo acumulo se torna um muto marcante anti-romance romântico sobre seguir no ritmo do momento.
19) Glass Chin (Noah Buschel)
Uma das mais gratas surpresas que tive este ano. Um neonoir sobre responsabilidade que existe bem distante das afetações habituais dos exemplares contemporâneos do gênero. Por uma vez ao menos crime e castigo parecem merecidos e não efeito de cinefilia pueril. A direção artificial e idiossincrática de Buschel é de um grande frescor no cenário habitual do cinema independente americano.
18) She’s Funny That Way (Peter Bogdanovich)
O mundo é um palco, tudo é um método de performance, uma farsa alegre interminável, múltiplos espelhos e papeis. Um presente no qual se sente o prazer de todos os envolvidos em cada sequência.
17) As The Gods Will (Takeshi Miike)
Yakuza Apocalipse recebeu toda a atenção por estar em Cannes, mas As The Gods Will é o grande Miike do ano. Um dos seus mais ruizianos exercícios sobre o toque do autor. Amável e perverso em igual maneira.
16) Don’t Go Breaking My Heart 2 (Johnnie To)
Assim como na primeira parte o amor é avaliado com o cuidado de uma transação dos negócios. É um dos romances mais da negativa já feitos, cada plano, cada gesto pensado para cancelar o anterior. Até sobrar a pura desolação (o último plano na verdade é de um ex- alcoólatra abrindo uma garrafa).
15) La La La at Rock Bottom (Nabuhiro Yamashita)
Um homem sai da prisão depois de uma longa temporada e é espancada, perde memória, descobri que tem uma bela voz. Um filme que existe dentro das possibilidades do plano que passeia entre os mais diferentes registros entre o futuro e o passado apenas para realçar a força do que acontece ali diante da câmera.
14) Pas Son Genre (Lucas Belvaux)
Até onde sei este segue inédito por aqui e mal passou no circuito de festivais provavelmente porque sua sinopse faz com que ele soe como uma comédia romântica genérico, mas poucos filmes franceses recentes são filmados com tamanho cuidado e precisão sobretudo na maneira com encena as possíveis relações de poder de um casal. Emile Duquenne e Loic Corbery são imensos e permitem a Belvaux ancorar a sua relação se forma a ela permanecer crível ao mesmo tempo ambígua. É tudo bem francês (um filme sobre classe e poder filtrado por questões de gosto) a ponto de ser meio surpreendente não ver ele no Belas Artes ou no Reserva Cultural. Que um filme desses possa ser quase totalmente ignorado diz muito sobre as limitações dos canais de difusão do cinema contemporânea (curadores, distribuidores, etc.).
13) Here’s to the Future (Gina Telaroli)
Numa tarde de verão um grupo de amigos se reune para refilmar uma sequencia de um pre code esquecido de Michael Curtiz (The Cabin in the Cotton). O que segue é um inventário de possibilidades de cinema de registros de comportamento, de luz, de montagem.
12) Os Campos Voltarão (Torneranno I Prati, Ermanno Olmi)
Um grupo de homens aguardam nas trincheiras pelo inevitável. Um grande panfleto anti-militarista, mas o que mais registra aqui são esta serie de rostos resignados. Se Il Villagio de Cartone era um filme sobre o fim do projeto humanista europeu, este é sobre como as luzes começaram a se pagar.
11) Do Outro Lado (Kiyoshi Kurosawa)
Sobre ver e viver. O mais Kiyoshi Kurosawa dos filmes. Lindíssimo.
10) L’Ombre des Femmes (Philippe Garrel)
Vem sendo descrito por alguns como uma comédia à Allen de Garrel, mas é mais um filme com algum humor sob o ego ferido e falta de noção do protagonista, ou seja bem mais próximo do Hong Sang-soo (e não será acidente que ele abriu mão do filho pelo Stanislas Merhar que antes protagonizara La Captive da Akerman). Fora isso é o que se espera de um Garrel maior todos os olhares e gestos perdidos, a forma como a foro preto e branca empresta a cada movimento uma força simbólica, aquela impressão de que estamos a ver um drama essencial que veio antes de todas coisas que foi determinado pelos deuses antes da câmera ligar, aquela certeza que a vida toda é como um filme do Garrel sem a certeza do suicídio.
9) João Bénard da Costa: Outros amarão as coisas que eu amei (Manuel Mozos)
Da transmissão e permanência das coisas através de um homem que dedicou a vida a dividir os filmes que amava com os outros, mas é bem mais do que um filme sobre cinema. Lição de vidam lição de mundo.
8) O Cheiro da Gente (The Smell of Us, Larry Clark)
Clark vai para a França e se livra de toda bagagem sociológica ques os EUA carregam para seus filme, o que resta é o corpo dos jovens que ele filma e a distancia deles para a câmera. Uma colaboração entre cineasta e seus jovens atores. Tem foda, tem suor, tem morte e vida, tem carne e tem a luz que cai sobre estes corpos.
7) Homeland: Iraq Year Zero (Abbas Fahdel)
Cenas da vida privada iraquiana nos meses logo antes e depois da ocupação americana de Bagda. Seis horas de cinema urgentes e essenciais. O diretor Fahdel filma família no antes e depois a primeira metade é mais lúdica, a segunda é uma pedrada, ambas juntas dão um retrato do desastre de perto e um olhar bem duro para sobre como em território nem mesmo dinheiro e status pode de fato te garantir privilégios.
6) Phoenix (Christian Petzold)
Speak Low.
5) Balikbayan #1: Memories of Overdevelopment Redux III (Kidlat Tahimilk)
O épico do conquistador revisto. A vingança do colonizado. Duro, brutal e belo. Um filme que se sabe livre.
4) Forget Me Not (Horie Kei)
Azusa tem um problema, ela acordou determinado dia e as pessoas começaram a se esquecer que ela existe horas depois de encontrá-la, Takashi promete que não vai se esquecer dela, um gesto romântico difícil de manter quando as regras arbitrárias conspiram contra ele. Poderia ser um filme espertinho, mas o diretor Horie Kei é de tamanha empatia e permite que a relação vá aos poucos ganhando tanto corpo e força nada que na poderia estar mais distante. Tão mais rico por permitir que seu conceito fantástico jamais possa ser reduzido a qualquer associação simples
3) SPL 2: A Time for Consequences (Soi Cheang)
O que os homens maus fazem. Cine3ma de ação de coreografia delirante repassado pela ideia de que o filme de artes marciais é antes de mais nada sobre homens a destruir o corpo de outros homens movidos por sangue. A primeira metade estrutura esta ideia de forma temática, a segunda metade permiti a ele explodir em um bale delirante após o outro. E quando você pensa que não a nada mais que ele possa fazer tudo se encerra na mais literal representação da ideia de heroic bloodshed posta num filme. E lá estão Wu Jing e Tony Jaa talvez os dois mais graciosos artistas marciais do mundo sendo utilizados com cuidado autoral que nunca receberam antes.
2) Garoto (Julio Bressane)
O mais essencial filme brasileiro desde sempre. Uma moça, um garoto, a paisagem, um crime, um casal em fuga. Todos os sentimentos, todas as expressões. Marjorie Estiano e Gabriel Leone ambos maravilhosos mesmo quando parecem pouco fazer. Como diria Godard cinema é a girl and gun, e tal ideia poucas vezes foi tão bela.
1) Office (Johnnie To)
Um musical sobre as agendas conflitantes de uma grande corporação as vésperas da queda da bolsa de 2008. Artefato popular sem igual em 2015. Sua inteligência visual espelha a dureza do seu registro. Um conto de traição pré-anunciada ao qual só cabe contar a si mesmo algumas mentiras agridoces para aliviar. Não consigo pensar em nenhum musical igual a parte alguns de Demy (e este não deixa de ser o contraplano de classe dominante de Un Chambre en Ville). O elenco (Sylvia Chang, que também escreveu o roteiro e a peça original e merece ser vista como tão co-autora de To aqui quanto Wai Ka Fai em vários filmes que fizeram juntos, Chow Yun Fat, Wang Zi-yi, Eason Chan, Tang Wei) é fenomenal. A última obra prima de To sobre a queda do mercado financeira se chamava Life Without Principle, este originalmente se chamaria Design for Living (ainda é o título cantonês imagino que foi mudado aqui para não confundir com a peça do Noel Coward) e me parece novamente um título dos mais justos, é um filme sobre a forma que nosso mundo é desenhado de forma que possamos seguir a parte de todos o bagaço emocional que ele vai deixando de lado. Quando vemos aquela última viagem de elevador ou o plano final de Tang Wei deixando o prédio o quanto o filme lança aquela indagação de como podemos encarar tudo isso como tolerável.
SPL 2 passou no MAX (um dos canais cinemax da HBO) com o título de Hora das Consequências … e passou tarde da noite mas valeu a pena porque é mais um filmão do Soi Cheang … e o que é aquela cena da rebelião no presídio? nossa …
Republicou isso em frame cahiers.