Durante boa parte dos ultimo 50 anos coube a Henry Hathaway o papel injusto da figura que invariavelmente é desenterrada sempre que alguém precisa de um cineasta para contrapor a um Hawks ou Walsh, uma saída fácil para contra argumentar os supostos excessos da politica dos autores. Hathaway evidentemente não é Hawks ou Walsh (ou sequer Richard Fleischer), mas isto não é propriamente um crime. Seu melhor filme provavelmente é Peter Ibbetson, uma fantasia romântica que ocasionalmente aparece nos livros de história do cinema por ser um favorito dos surrealistas parisienses por conta dos mesmos excessos românticos que tornam o filme um tanto difícil para as plateias de hoje. O curioso é que parte da força de Peter Ibbetson deriva justamente de como o filme se relaciona com o próprio romantismo. Trata-se de um conto metafisico sobre amor louco que acompanha o personagem titulo e seu amor de juventude da infância até a velhice, uma relação condenada a só se consumar nos sonhos do casal. Andrew Sarris desconsidera o filme em The American Cinema como um filme romântico dirigido por um diretor não-romântico, mas longe de ser um defeito, pode-se argumentar que a grande qualidade do filme é justamente como ele encara todos os grandes gestos românticos e mergulhos no artificio com o mesmo tom direto e sem rodeios. Peter Ibbetson não trata seu romantismo com uma distancia ou ironia – é um filme bastante sincero – mas ao mesmo tempo não conta com os mesmos arrombos de um filme como Man’s Castle. Ao tratar todo seu conto romântico com grande seriedade, Peter Ibbetson faz juz a intensidade se nem sempre a paixão inerente a ele. No final das contas pode-se dizer que o pragmatismo hawsiano de Hathaway é fiel ao gesto, se não ao sentimento romântico contido ali. Se nas mãos de um diretor com inclinação mais romântica como Max Ophuls, um material como Peter Ibbetson seria visto pelo ponto de vista do sacrifício dos amantes, o tom direto de Hathaway coloca em primeiro o plano o conto de danação contido ali. O momento mais marcante do filme é justamente o último plano com Gary Cooper desaparecendo em meio as sombras quando descobre que já não lhe resta motivos para existir, uma imagem que ao mesmo tempo e com a mesma força consegue sugerir um último gesto romântico, o do homem que vai encontrar a amada em outra vida, e o suspiro final de uma vida desperdiçada. Movimento que encapsula perfeitamente este filme tão particular.
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Frederico, é só me contatar em filipefurtado@uol.com.br
Quem me indicou assistir ao filme foi um senhor que foi diretor da Columbia em BH por mais de 50 anos. Se vivo for, deve estar beirando 90 anos. Hoje tenho em dvd e, é um de meus filmes prediletos, Vejo e revejo sempre!…Parabéns pela abordagem!….