Anos 2000

Vai e Vem, de João Cesar Monteiro

Vai e Vem, de João Cesar Monteiro

A Liga dos Blogues vai fazer uma lista dos melhores da década passada e pediu minha colaboração. Como curto a pratica de organizar listas, especialmente porque me faz pensar e sistematizar os meus favoritos de alguma forma (e também porque se tenho somente uma curiosidade histórica por listas coletivas, adoro explorar listas individuais), gastei mais tempo do que habitual nesta muito porque o período coberto nela é o da minha primeira década como crítico.

Duas coisas me saltaram aos olhos depois do exercício. Primeiro é que a despeito do chorume habitual sobre a pobreza do cinema contemporâneo a quantidade de filmes que deixei de fora mesmo com duas listas de apoio foi enorme. A outra é como a lista se concentrou entre 2000 e 2003, nenhuma ideia se é reflexo de um momento especialmente rico na produção ou simplesmente efeito pessoal de coincidir com o momento em que me mudei para São Paulo e passei a ter acesso mais fácil a um numero maior de filmes.

An Injury to One, de Travis Wilkerson

An Injury to One, de Travis Wilkerson

Curtas e médias: L’origine du XXIème siècle (Jean-Luc Godard/Anne-Marie Mieville, 2000), Outer Space (Peter Tscherkassky, 2000), Teenage Hooker Become a Killing Machine in Daehakno (Gee-woong Nam, 2000), Uma Hora a Mais Com Você (Alina Marazzi, 2002), An Injury to One (Travis Wilkerson, 2002), Lifeline (Victor Erice, 2002), Mods (Serge Bozon, 2002), Chat Perches (Chris Marker, 2004),  man.road.river (Marcellvs L., 2004), Homecoming (Joe Dante, 2005),  Phantom Limb (Jay Rosenblatt, 2005),  Capitalism: Child Labor (Ken Jacobs, 2006),  Rapace (João Nicolau, 2006), At Sea (Peter Hutton, 2007),  Profit Motive and the Whispering Wind (John Gianvito, 2007), Suicidal Variations (Gok Kim/Sun Kim, 2007),  Visitors (Giulio Questi, 2007), Correspondances (Eugene Green, 2008), Le Genou D’Artemide (Jean Marie Straub, 2008), L’Idiot (Pierre Leon, 2008).

Domino, de Tony Scott

Domino, de Tony Scott

Menções honrosas: Esther Kahn (Arnaud Desplachin, 2000), The House of Mirth (Terence Davies, 2000), O Tempo e a Maré (Tsui Hark, 2000), From the Queen to the Chief Executive (Herman Yau, 2001), A Inglesa e o Duque (Eric Rohmer, 2001), Pistol Opera (Seijun Suzuki, 2001), Eternamente Sua (Apichatpong Weerasethakul, 2002), Femme Fatale (Brian De Palma, 2002), Adeus Dragon Inn (Tsai Ming Liang, 2003), O Prisioneiro da Grade de Ferro (Paulo Sacramento, 2003), A Dama de Honra (Claude Chabrol, 2004), Domino (Tony Scott, 2004), Kung Fu Hustle (Stephen Chow, 2004), Oh Uomo! (Yervant Genikian/Angela Ricci-Lucchi, 2004), Marcas da Violência (David Cronenberg, 2005), Maria (Abel Ferrara, 2005),  Miami Vice (Michael Mann, 2005),  O Hospedeiro (Bong Joon-Ho, 2006),  Lady Chatterley (Pascale Ferran, 2006),  A Short Film About Indio Nacional (Raya Martin, 2006),  When the Levees Broke (Spike Lee, 2006),  Não Toque no Machado (Jacques Rivette, 2007), United Red Army (Koji Wakamatsu, 2007), O Canto dos Pássaros (Albert Serra, 2008), Diário dos Mortos (George Romero, 2008), Gran Torino (Clint Eastwood, 2008), Histórias Extraordinárias (Mariano Lliñas, 2008),  Un Lac (Philippe Grandrieux, 2008), A Familia Wolberg (Axelle Ropert, 2009), Let Each One Go Where He May (Ben Russell, 2009).

As I was Moving Ahead Ocasionaly I Saw Brief Glimpses of Beauty, de Jonas Mekas

As I was Moving Ahead Ocasionaly I Saw Brief Glimpses of Beauty, de Jonas Mekas

As I was Moving Ahead Occasionally I Saw Brief Glimpses of Beauty (Jonas Mekas, 2000)
É o título mais bonito da história do cinema, e o filme mais do que o justifica. O cotidiano como política, uma lição sobre viver.

Caminho sem Volta (James Gray, 2000)
James Gray retoma o drama, acredita que o único caminho possível para tratar do mundo contemporâneo é contar histórias morais sobre família e comunidade. Caminho sem Volta é novo e vital justamente por ser a primeira vista um filme tão velho.

As Coisas Simples da Vida (Edward Yang, 2000)
Sempre detestei o título nacional do filme, já que nada nele é simples e do aparentemente banal Yang sempre chega ao fantástico. É uma pena que o sucesso do filme na época não levou a uma redescoberta maior da obra de Yang, ainda o grande cineasta desconhecido da sua geração.

Plataforma (Jia Zhang Ke, 2000)
O que Jia Zhang-ke promove é um corpo a corpo físico com a história com poucos equivalentes. Mais do que a história vista pela porta dos fundos, uma história sentida, uma experiência.

Cidade dos Sonhos (David Lynch, 2001)
Lembro-me de que vi o Lynch em pré estreia num fim de semana e que por grande coincidência Crepúsculo dos Deuses passava na Cinemateca e assim como o filme do Wilder, Lynch realiza o perfeito melodrama de horror sobre a Hollywood de sua época.

La Libertad, de Lisandro Alonso

La Libertad, de Lisandro Alonso

La Libertad (Lisandro Alonso, 2001)
Provavelmente o filme mais influente da década. Muitos se reaproveitaram do exercício de auto-ficção de Alonso, mas nenhum dos imitadores tem algo tão expressivo quanto o lenhador Misael sorrindo cumplice para a câmera.

Onde Jaz Seu Sorriso? (Pedro Costa, 2001)
O documentário de Costa sobre o casal Straub a remontar Sicilia!  é meu favoritos entre seus filmes. O romance mais tocantes da última década, uma das suas comédias mais engraçadas e uma lição de cinema.

A Hora da Religião (Marco Bellocchio, 2002)
No cinema de Bellocchio fica a pergunta constante “como manter um olhar progressista numa sociedade eminentemente conservadora?”. Se Olhos na Boca tratava de repensar De Punhos Fechados no começo dos anos 80, A Hora da Religião faz o mesmo com os filmes anteriores em 2002.

Dez (Abbas Kiarostami, 2002)
Dez foi um filme tão importante para mim à época que escrevi quatro textos diferentes sobre ele no espaço de um ano, uma década depois permanece para mim não só uma das melhores expressões do gesto de Kiarostami de chegar depois do terremoto, como um dos filmes mais essências e politico sobrea imagem cinematográfica na virada do século.

Pulse (Kiyoshi Kurosawa, 2002)
O fim do mundo é só um jovem solitário desaparecendo nas sombras. Aterrador como pouquíssimos filmes de horror pois seu mal estar está tão próximo de nós.

A Oeste dos Trilhos, de Wang Bing

A Oeste dos Trilhos, de Wang Bing

A Oeste dos Trilhos (Wang Bing, 2003)
De A Oeste dos Trilhos mencionasse sempre a longuíssima duração, mas o que mais me fascina é a forma como acha imagens únicas em que ocaso daquele distrito parece menos um documentário do que uma ficção cientifica. Por sinal um belo filme a se retornar dada a cada vez mais tacanha lógica desenvolvimentista do nosso governo.

Um Filme Falado (Manoel de Oliveira, 2003)
Entre as muitas obras primas que Oliveira produziu na década passada, a minha favorita. O cruzeiro civilizatório de Oliveira vai da permanência das ruinas fazer a arqueologia de uma Europa muito contemporânea.

Los Angeles Plays Itself (Thom Andersen, 2003)
O melhor trabalho crítico sobre cinema dos anos 2000. Todos aqueles que desejam fazer cinema deveriam ver o filme de Andersen ao menos uma vez, porque ao final dele saímos com uma consciência muito maior sobre a nossa responsabilidade sobre os espaços que filmamos.

Vai e Vem (João Cesar Monteiro, 2003)
Creio que não haveria sessão dupla mais afirmativa do que uma formada pelos filmes de Mekas e do Monteiro, ambos testamentos de grandes artistas e ambos filmes em que sua essência procuram uma imagem que traduza um modo de vida. Vai e Vem é um filme que diz assim viveu este homem, nada mais justo.

Amantes Constantes (Philippe Garrel, 2005)
De certa forma é mesmo um filme de Garrel para quem não tem muita paciência para o cinema de Garrel, mas cada imagem, cada rosto e gesto permanece conosco muito depois da projeção, memória pessoal dissolvida no plano cinematográfico.

Conto de Cinema, de Hong Sang-soo

Conto de Cinema, de Hong Sang-soo

Conto de Cinema (Hong Sang-soo, 2005)
Do Poder da Provincia de Kangwon até A Visitante Francesa, Hong segue o mais consistente grande cineasta dos últimos quinze anos. Conto de Cinema me parece o ponto exato de equilíbrio entre a crueza inicial dos seus primeiros longas e o cada vez mais consciente jogo de espelhos dos filmes posteriores.

Eleição 2 (Johnnie To, 2006)
O jogo político como uma descida desenfreada para o barbarismo. Merecia seu lugar na lista nem que fosse por aquele momento magnifico em que um homem é apunhalado enquanto assisti ao filho correr em direção ao crime.

Medos Privados em Lugares Públicos (Alain Resnais, 2006)
De certa forma o ponto limite de todo o impressionismo realista da fase pós Melo de Alain Resnais. Seus personagens perdidos em meio a espaços de um artificio cartunesco tão grandiosos a sua maneira quanto às externas de um western.

Na Cidade de Sylvia (José Luis Guerín, 2007)
O cineasta em transito viaja ao coração da Europa para refilmar Vertigo pela perspectiva dos Lumiere.

RR (James Benning, 2007)
Não há nada mais cinematográfico do que um trem em movimento.

7 Comentários

Arquivado em Filmes, Listas

7 Respostas para “Anos 2000

  1. Acho que você sempre soube que não concordava com o chorume…

  2. Gostei bastante da lista, acho que é, de longe, a mais pessoal que já vi desta década. Tem muitos filmes que ainda não vi e muita coisa que eu gostei não está ai, mas não é algo que eu ache de alguma forma ruim.
    E adorei ver que meu favorito da década está presente. Acho que Cidade Dos Sonhos já é quase obrigatório. rs

  3. Rodrigo Miranda

    Oi, tudo bem?

    E “A Vila”? Como classificaria em relação aos anos 2000?

    abs

    • Filipe Furtado

      Gosto do Shyamalan e do A Vila, mas não mencionaria um filme dele numa lista dessas (e se mencionasse seria provavelmente Sinais).

  4. Cadê o Coutinho? e demonlover?

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