Festival do Rio


Deixo aqui links para todas as críticas que escrevi para o Festival do Rio e depois delas algumas observações sobre outros filmes que vi, não todos, mas daqueles que queria fazer algum comentário mais especifico.

Abrir Puertas y Ventanas, de Milagros Mumenthaler e Viola, de Matias Piñeiro
Diário da França, de Raymond Depardon e Claudine Nougaret
Dores de Amores, de Raphael Vieira
Éden, de Bruno Safadi
Elefante Branco, de Pablo Trapero
Escola Secundária, de Celina Murga
Fantasia Lusitana, de João Canijo
O Gosto do Dinheiro, de Im Sang-soo
Hoje, de Alain Gomis
A Negociação, de Nicholas Jarecki
Reconversão, de Thom Andersen
O Segredo da Cabana, de Drew Goddard
Shokuzai, de Kiyoshi Kurosawa
Simon Killer, de Antonio Campos
Starlet, de Sean Baker
Tabu, de Miguel Gomes
Turistas, de Ben Wheatley
A Última Vez que Vi Macau, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata

Argo (Ben Affleck)
Os dois primeiros filmes de Affleck eram sustentados no pendulo de um ótimo uso das locações em Boston com uma direção segura de atores, o que torna abandonar casa para fazer um filme cuja ação é essencialmente de estúdio e muito distante de Boston um risco (a cidade sempre servia com rede de apoio nos momentos que Gone Baby Gone e The Town fraquejavam).  Felizmente o outro elemento que sustentava estes filmes, o bom gosto do diretor para material, o carrega aqui novamente, Argo é baseado num excelente caso real e Affleck inteligentemente constrói a partir dele um filme sobre a arte de fabular. O filme existe entre dois modos de artifício hollywoodiano: a sátira inofensiva das sequencias em Los Angeles e a tensão de thriller nas passagens em Teerã. A confluência destas duas imagens artificiais e a convicções com que ambas são apresentadas garante energia constante que sustenta o filme.

Foxfire (Laurent Cantet)
Se Argo é o sucesso da fabulação, este novo longa do Cantet é o exato oposto, um filme que assusta justamente pela forma como fracassa em se articular minimamente. Diante de Foxfire, pensei em alguns filmes brasileiros que deram errados e que você topa com em festivais nos quais da para imaginar o cineasta e o montador olhando para o material na frente da ilha de montagem trocando aquele olhar cúmplice desesperado de quem reconhece que não tem filme nenhum ali. Não é nem que o filme é péssimo, ele simplesmente é tão frágil tão incapaz de se impor, que ele é destinado a jamais escapar da inconsequência.  Diante do filme você entende como Cantet foi de ganhar Cannes para no longa seguinte não ser selecionado em nenhum dos festivais de porte europeus.

Holy Motors (Leos Carax)
Daria uma grande seção dupla com o derradeiro filme do Saraceni, O Gerente.  Notável como Carax consegue ao mesmo tempo ser de uma melancolia muito dolorosa e de uma vitalidade imensa. Não é meu favorito dele, mas é certamente a melhor atuação de Denis Lavant ou as onze melhores, não tenho certeza. Vale dizer que o filme talvez seja ainda mais impressionante nas sequencias discretas como na que o pai vai buscar a filha do que nas passagens mais chamativas.

Hotel Mekong (Apichatpong Weerasethakul)
Menos um filme menor do que um sedutor trabalho “entre filmes”.  Sempre notável como Apichatpong lança mão de alguns poucos elementos de cena e conjura deles um encantamento, um desejo no espectador de se perder neles sempre muito envolvente.  Da para traçar um bom paralelo entre ele e o média do Raul Ruiz que passou na Mostra, que tem principio semelhante, mas é mais bem resolvido.  Haverá quem preguiçosamente vai usar aquela saída preguiçosa e descartar o filme como videoarte, mas Hotel Mekong me parece fazer mais sentido numa sala de cinema e esta mais próximo de Griffith que Bill Viola.

Jards (Eryk Rocha)
O filme anterior do Eryk Rocha Transeunte era um filme de personagem que só me parecia negociar com sucesso sua relação com a figura que se propunha observar nas suas sequencias musicais. Este seu novo documentário sobre Jards Macalé, não deixa de funcionar como uma extensão natural dos momentos mais fortes do filme anterior; inserindo o musico num projeto estético com muito pontos de contato com o de Transeunte. Jards transforma os duetos que Macalé grava ao longo do filme uma extensão natural da dança que a câmera de Rocha realiza com o arredio musico.

Killer Joe (William Friedkin)
De um modo geral tedo a preferir hillbillyexplotation em country rock do que em filme, mas Friedkin se aproveita bem do encontro entre a misantropia do texto e a sua própria sensibilidade. Não haverá aqui espaço para o trabalho de exploração formal sofisticado que o cineasta usara em Bug adaptado do mesmo dramaturgo, mas há uma intensidade na histeria do filme que lhe serve com força.  Há também um grande Matthew McChougney que carrega o filme por muito dos seus momentos mais frágeis.

Moonrise Kingdom (Wes Anderson)
Já estreou e muita gente já viu, mas aproveito a oportunidade para indicar o texto do Fabio e para dizer que é o meu Wes Anderson favorito em uma década.

Primeiro Dia de um Ano Qualquer (Domingos de Oliveira)
Não vi o outro filme de Domingos de Oliveira deste ano (Paixão e Acaso) que me disseram ser ainda mais desleixado, mas este Primeiro Dia de um Ano Qualquer segue o processo desta ultima década dele em direção ao completa preguiça na hora de transformar seus textos em filmes.  Se Domingos fosse capaz de encontrar alguma vitalidade no meio da pobreza o processo se justificaria, mas a parte um par de cenas em que os atores conseguem salvar não há nada aqui, e para piorar este é um dos piores e menos interessantes textos que ele filmou desde o seu retorno ao cinema em 98.

O Verão de Giacomo (Alessandro Comodin)
Deveria ter escrito um texto sobre O Verão de Giacomo para a Cinetica, mas na correria no retorno a São Paulo acabei sem tempo, o que é uma pena já que se trata de um dos melhores filmes que passaram no festival.  É um filme muiro em como gestos e sentimentos permanecem na história de cada um. É um dos mais bem resolvidos filmes de dispositivo recentes, no caso, os problemas de audição do Giacomo do titulo, um adolescente surdo que o cineasta conhece. O prazer com que Comodin filma este dia de verão e o sentimento de descoberta presente nele chegam a lembrar o Um Dia no Campo de Renoir e a ecos constantes tanto da segunda parte do Aquele querido Mês de Agosto, mas do trabalho de alguns outros cineastas italianos recentes com gosto por se localizarem na fronteira entre ficção/documentário (Michelangelo Frammartino, Pietro Marcello). O que realmente torna o filme marcante porém é como a abordagem táctil imposta por Comodin consegue levar este aparente dia banal entre aquelas duas pessoas (Giacomo e a irmã do cineasta Stefania, que serve de uma guia paciente para o protagonista) e revelar dali todo um sentimento de história pregressa repartida entre aqueles duas figuras, que é algo que se revela ainda mais forte quando da mudança de garotas no último rola (a única intromissão realmente radical de Comodin sobre seu filme) que reestabelece a ação como um todo como parte da história daquele rapaz.

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