
Sorelle Mai, de Marco Bellocchio, um dos destaques da 35o Mostra
É estranho partir em defesa da Mostra já que em muitas outras oportunidades critiquei decisões deles, mas a choradeira entorno da decisão do evento em se limitar a filmes inéditos no país é fora de propósito. Em si mesmo não é uma boa decisão já que é muito limitadora e deixa na mão o que deveria ser o principal público da Mostra: o cinéfilo paulistano que não tem disposições e/ou condições de acompanhar outros grandes eventos de cinema dentro e fora do país. Há por outro uma série de benefícios:
a) Reduzi r o tamanho da Mostra é algo muito bem vindo. Como a maioria dos eventos do gênero a Mostra a muito tempo sofre de certo gigantismo. Parece uma tendência inevitável, logo é muito bem vindo o esforço dos organizadores de colocar um freio no processo.
b) Tem o efeito de focar mais atenção nos filmes e menos na corrida para ver tudo antes.
O segundo ponto merece ser elaborado. Junto com a noticia do ineditismo veio também a informação de que a Mostra não exibiria mais filmes em DVCAM. Não me parecem informações independentes. Na hora que se aceita que não se poderá mostrar tudo a corrida desesperada para fazê-lo (principal razão pela qual Festival do Rio e Mostra de São Paulo a muito haviam aberto mão de um controle de qualidade nas cópias) perde a razão de ser. Por vezes a Mostra se reduz a pouco mais do que oportunidade de se dizer que já viu o filme do Almodovar ou a última Palma de Cannes, uma caríssima pré estréia para um ou outro filme badalado.
O maior mérito da decisão é justamente tornar explicito algo que deveria ser óbvio, mas geralmente não é: a Mostra é um excelente evento (o meu favorito aqui no Brasil), mas como painel da produção mundial ela vai ser sempre limitada já que é literalmente impossível trazer tudo de relevante e entre questões de logística e escolhas de curadoria muitos (muitos mesmo) filmes relevantes terminam não exibidos. Uma pequena história pessoal: ano passado, eu viajei ao Rio e assisti cerca de 50 filmes, acompanhei a mostra e vi outros 50 e em Abril fui até a Buenos Aires e assisti 40. Pouco mais de 140 filmes! Apesar de 3 eventos e esta quantidade absurda de filmes, Guest de José Luis Guerin que se me perguntassem em Janeiro de 2010 para listar os 5 filmes que eu mais aguardava no ano estaria fácil na lista não foi exibido em nenhum deles. Antes de reclamarem que Drive ganhou prêmio de direção em Cannes e não passou na Mostra tornando ela incompleta, vai um dado desde 2000 (meu primeiro ano aqui em São Paulo) nos seguintes anos o vencedor do premio de melhor direção do Festival de Cannes não participou da seleção da Mostra: 2001, 2002, 2004, 2009 e agora em 2011. Eu tenho quase certeza que em nenhuma oportunidade neste período a Mostra (ou o Festival do Rio, por sinal) exibiu a todos os vencedores de Cannes. Por mais que os organizadores desejassem, é simplesmente muito complicado garantir a exibição de todos os 7-8 filmes que levam prêmios.
Eu poderia continuar citando outros filmes que a Mostra falhou em trazer (nenhum filme do Eric Rohmer na última década de carreira dele, por exemplo), mas o interesse aqui não é enterrar a Mostra pelo que ela não fez e só apontar que por maior que seja a seleção, o desejo e o orçamento muitas lacunas inevitavelmente irão existir. É fácil listar os filmes que a Mostra não trouxe este ano e culpar o tal ineditismo quando se pode fazer esta lista em todos anos (há uma razão pela qual eu geralmente sempre vou ao Festival do Rio e muitos amigos cariocas fazem questão de vir aqui), olhando a lista do Festival do Rio para passar aos meus editores da Cinética o que eu poderia escrever sobre eu achei só dois filmes não comprados cujo histórico dos cineastas sugeriam como muito prováveis de vir a Mostra (Bonello e Canijo), certamente teriam outros mais, de um modo gera porém o grosso das exclusividades do Rio iam seguir exclusivas ou são de filmes cuja distribuidora decidiu priorizar o Rio. Ai esta o grande problema quando se reclama a seleção fraca na verdade, reclama-se da ausência de um Gus Van Sant ou David Cronenberg e não da seleção em si. O contrasenso evidente é que estes são filmes que tem a entrar em cartaz muito rapidamente. Salvo pelos cinéfilos de fora do eixo Rio-SP que se deslocam para cá todos os anos e que tem muito bons motivos para se chatearem pela ausência destes filmes, só perdemos de fato a possibilidade de dizer que vimos estes filmes antes. Pode-se trocá-los por outros título, pode-se reduzir o tamanho da maratona, etc.
Vejam só enquanto minhas timelines no Twitter e Facebook se enchiam de reclamações sobre o ano fraco da Mostra um amigo que viaja a festivais internacionais soltou no meu mail “parece que a Mostra ainda tem mais moral. alguns dos melhores de Berlim, Un Certain Regard e Quinzena, e mesmo da competição de Cannes, que eu estranhei não virem pro Rio, pelo visto tinham ficado mesmo pra SP”. È tudo uma questão de perspectiva.
Filipe, reativa os blogs… tanto esse quanto o Roadrunner são muitos bons… mas precisam de posts mais assíduos….
A idéia é voltar a postar com frequencia.