9) Detective Dee and the Mystery of Phantom Flame (Tsui Hark) e 36 Vues du Pic Saint Loup (Jacques Rivette)
Dois belos filmes de fim de carreira sobre espetáculo e dois belos exemplares de mise en scene fluida e criativa. Tanto Rivette como Hark se tornaram mais clássicos e controlados ao longa da última década mas nem por isso seus filmes se tornaram menos prazerosos e arejados.
8 ) Incontrolável (Tony Scott)
Menos interessante do que a dupla Domino-Déjà vu, mas também o mais eficiente dos thrillers de Scott. Uma aula de tensão do mais avant garde dos estetas hollywoodianos.
7) Todos Vós Sodes Capitáns (Olivier Laxe)
Uma ficção sobre a insuficiência do olhar europeu sobre o subdesenvolvido? Um destes filmes no meio termo entre a ficção e o documentário? Um exercício de imersão sobre a paisagem urbana e rural do Marrocos? Uma autoficção, entre Coutinho e Kiarostami? O filme de Olivier Laxe é todas e nenhuma dessas alternativas, e parte da sua graça é justamente como ele é capaz de trafegar sobre tantas idéias sem nunca perder a si mesmo. É sobretudo um filme sobre as imagens que nós desejamos, e o custo destas.
6) Essential Killing (Jerzy Skolimowski)
Skolimowski realiza aqui o grande filme de ação do ano. Ação básica constante num filme mínimo.
4) Ha Ha Ha (Hong Song-Soo) e Tio Boonme que Pode Recordar suas Vidas Passadas (Apichatpong Weerasethakul)
Dois filmes que representam indiretamente o mesmo dilema da cinéfilia contemporânea diante da figura do autor. Ha Ha Ha é exatamente como todos os outros filmes de Hong Song-soo e tão bom quanto, já Tio Boonme é o caso do filme que ajuda a consolidar um nome e vê a inevitável “ele não é tudo isso ai” (que é sempre curioso quando vem de quem não dizia isso dois anos atrás). O que importa é que são dois filmes que me maravilham cada um sua maneira, seja na precisão seca do relato de Hong, seja nas imagens de Apichatpong.
3) As Quatro Voltas (Michelangelo Frammartino)
Um grande exercício em dramaturgia.
2) O Estranho Caso de Angélica (Manoel de Oliveira)
Todo este novo filme de Manoel de Oliveira está voltado para ilustrar como o cinema esta invenção ao mesmo tempo maravilhosa e terrível é tão capaz de nos fascinar quanto assombrar. Todo montado a partir de uma figura eminentemente cinematográfica: a noiva-cadáver sorridente que surge diante de nós via efeitos especiais seu fascínio sobre o olhar do fotografo asceta.
1) Mistérios de Lisboa (Raul Ruiz)
O protagonista deste novo filme de Ruiz é menos um personagem e mais um narrador de si mesmo, menos protagonista e mais um ponto de encontro de várias ficções. Isto porque o filme de Ruiz é uma cartografia de ficções que a cada recurso de distanciamento mais se aproxima do seu drama. É um jogo onde as narrativas se sucedem, as identidades dos personagens deslizam rumo a novas personas, e os duplos se multiplicam. Nenhuma história é única, mas nenhuma história é a mesma. É puro melodrama, cada história e cada personagem um arquétipo bem conhecido de qualquer rato de biblioteca. Nos movimentos de câmera sempre muito elegantes de Ruiz, estes dois extremos se unem numa única celebração do poder da ficção.
Curiosa essa sua lista. Destaco Essential Killing (que realmente é bárbaro!) e Incontrolável (eu sei que todo mundo malha o Tony Scott, mas eu não perco um filme dele. Acho seu conceito de filme de ação perfeito para aquele filme de fim de semana sem pretensões além de se divertir).