Inacio Araujo e as bobagens do Boyle

Como sempre é um prazer ler o Inacio Araujo quando um filme lhe ofende. Neste caso o filme indiano do Danny Boyle que é mesmo uma grande tolice. Um trecho:

Daí sabemos que é bom ficar preparado: a cada resposta corresponderá um episódio do tipo -e a coisa vai a 20 milhões de rúpias ou, pior, duas longas horas de filme. Nesse intervalo veremos a mãe de Jamal pegar fogo; Jamal, o irmão e a amiguinha serem recolhidos por um gângster, que faz crianças pedirem esmola; um desses meninos ter os olhos arrancados para comover os passantes. Vista por Boyle, a Índia é um esgoto a céu aberto, moralmente inclusive. Nesse lodo viceja a alma pura de Jamal, uma mistura do estoicismo do dr. Kimble de “O Fugitivo” com a ingenuidade de Forrest Gump. Com ele entramos no terreno do prodígio. Jamal é puro, bom e forte o bastante para sobreviver. O que o torna assim? Algo de sua natureza, ou da ordem do destino. Ou seja, embora use a mão pesada para os problemas indianos, a explicação do caráter de seu herói é metafísica. Jamal passa incólume por tudo, como esse mundo infame em que vive não o afetasse. Para fechar esse abacaxi, ocorreu a alguém transformar tudo em musical (é como o filme termina -e não há problema em saber, não tem nada a ver com a história): é como se a inconsequência final livrasse o filme da infâmia. Não livra.

16 Comentários

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16 Respostas para “Inacio Araujo e as bobagens do Boyle

  1. Tiago Superoito

    Realmente ele estava inspirado nesse texto. Que abre com algo mais ou menos como “Se nada parecia ser pior que ‘O leitor’, eis que surge ‘Quem quer ser um milionário'”, haha.

  2. E eis que o Boyle que me deixou empolgado com “Sunshine – Alerta Solar” me deixa inteiramente frustrado.

  3. Filipe Furtado

    Pois é Ricardo, eu também gostei bastante do Sunshine e cheguei a ficar esperançoso a respeito do Boyle.

  4. Leandro Caraça

    O número de pessoas que se deixaram enganar por EXTERMÍNIO e SUNSHINE me espanta.

  5. O filme não me ofende, não. Mas é só tocar o telefone que a gente esquece dele.

  6. La película me parece un disparate, un horror, Filipe. Muy bueno el texto de Araujo
    Tampoco me gustaron nada ni “There will be blood” ni “Benjamin Button”. Un minuto de Lav Diaz o Claire Denis vale por todas esas películas

  7. Mayla

    Inácio envelheceu mal. Virou, ou sempre foi, um desses uspianos boçais. Conivente com a elite (folha de são paulo),mas fazendo pose de libertário.Ele se realiza com fetiches e está pouco se fudendo pra essência. É apenas um cara de uma extrema nostalgia reacionária, pequeno burguesa e hipócrita. Os textos deles estão impregnados de uma cultura sectária, mistificatória e machista. Fora as fartas vezes que se excede no patrulhamento ideológico se preocupando mais em, de acordo com seus preconceitos, olhar o que está em volta do filme e não a obra em si. Enfim, usa o tipico disfarce da elite paulistana de classe média alta liberal. É um mestre caquético que precisa ser levado para a montanha que nem naquele filme:’A Balada de Narayama”. A diferença que ele não ia dignamente, pois se a recusa a envelhecer e quer que o mundo envelheça com ele.

  8. Filipe Furtado

    Olha, Mayla o Inácio pode ter muitas qualiedades e/ou defeitos, mas certamente uspiano ele não é.

  9. Cara, e oq vc achou de O Lutador? O José Oliveira acabou postando grandes elogios que me deixaram com a impressão de que são uma resposta ao texto do Luis Oliveira, da Contra…

    amei o filme.

  10. Filipe Furtado

    Ricardo, não vi ainda. Logo que assistir (ainda esta semana, espero) escrevo algo aqui no blog.

  11. Leandro Caraça

    O maior defeito do Inácio é que de vez em quando dá a impressão que ele passou os últmos 25 anos dentro de uma sala escura só vendo filmes do Howard Hawks.

  12. Filipe Furtado

    Antes passar seu tempo numa sala escura vendo Hawks do que acreditar que Danny Boyle é um cineasta importante.

  13. Leandro Caraça

    Quem acreditar nisso merece ganhar uma viagem só de ida pra Bombaim.

  14. Não achei o filme tão ruim assim, na verdade é um filme ‘inofensivo’, que trabalha num esfera de fantasia que deixaria Tolkien orgulhoso hehehe.
    Agora O LEITOR é mesmo um pavor.

  15. david

    Para falar a verdade, o inácio me decepcionou um pouco depois que começou a escrever o blog, mas querer críticar ele dizendo que é conivente com a zelite, machista e uspiano…peraí, é fazer papel de rídiculo. Por sinal, tinha que ser coisa mulher mesmo.

  16. Breno

    Inácio faz tudo na crítica menos avaliar o filme do Boyle. Eu acho q entendo qdo a Mayla chama ele de “uspiano”, não pelos motivos q ela enuncia, mas por uma mania mt arraigada na usp de ver os filmes predominantemente pelo contexto no qual estão inseridos ou em que medida eles expressam bem ou mal a realidade da qual falam, ao invés de olhar o filme em si. É um excesso de ideologização das obras, ao meu ver, q é pernicioso para análise de mts filmes. Existe um certo nicho de filmes aos quais esse tipo de análise cai como uma luva, para outros o q esse tipo de crítica faz é só cobrar do filme o q ele não é e não analisar o q ele é e existe de interessante ou não nisso. o filme do Boyle é mescla de gêneros, mas ainda assim é gênero e não neorealismo. Além do mais é um filme q entretém, apesar de óbvio e do roteiro “tradicional”.
    Li em algum lugar, agora não me recordo, alguém dizendo q se ao invés do filme ter ganhado os vários prêmios, e principalmente os Oscars, ele tivesse passado desarpercebido uma horda de críticos clamaria “Injustiça!” e ovacionariam Quem quer ser um milionário com um bom filme, no mínimo.

    Mt mais interessante o caminho adotado pelo David Bordwell na sua crítica sobre o filme do Boyle do q o caminho extremamente simplista adotado pelo Inácio. Que há mt tempo, ao invés de fazer crítica de cinema, ou seja, PENSAR O CINEMA/A IMAGEM, simplesmente expressa seus gostos – os quais mts me parecem excessivamente limitados – como se fossem crítica

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