Melhores de 2008 – Parte I

Este ano a programação do blog será diferente. Resolvi ignorar completamente a lógica do nosso circuito cada vez mais insuficiente (apesar dos bravos esforços de alguns distribuidores mais corajosos). Portanto nos próximos 3 dias publicarei aqui minha relação dos 50 melhores filmes vistos por mim pela primeira vez este ano. Como a idéia é fazer uma lista contemporânea usei o arbritário ano de 2006 como limite para a idade dos filmes (uma lista suplementar de filmes “antigos” sai dia 31). Vários filmes relevantes do circuito portanto ficaram inelegíveis por pertencerem ao meu ano cinematográfico de 2007. Começo com uma lista de outros 25 filmes que quase chegaram lá: 24 City (Jia Zhang-ke); Acácio (Marilia Rocha); Acne (Federico Velloj); Amigos de Risco (Daniel Bandeira); Aquiles e a Tartaruga (Takeshi Kitano); Boogie (Radu Manteanu); O Casamento de Rachel (Jonathan Demme); A Erva do Rato (Julio Bressane); Eu Quero Ver (Khalil Joreige e Joana Hadjithomas); Hancock (Peter Berg); Os Indomáveis (James Mangold); KFZ-1348 (Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso); Linha de Passe (Walter Salles/Daniela Thomas); Missing (Tsui Hark); Momma’s Man (Azazel Jacobs); Na Guerra (Bertrand Bonello); Nome Próprio (Murilo Salles); Possible Lovers (Raya Martin); Razzle Dazzle (Ken Jacobs); O Segredo do Grão (Abdelatif Kechiche); O Silencio Antes de Bach (Pere Portabella); O Silêncio de Lorna (Jean-Pierre e Luc Dardenne); Tirador (Brillante Mendoza); Tulpan (Sergei Dvortsevoy); O Ultimo Reduto (Rabah Ameur-Zamaiche)

50) Fim dos Tempos (M. Night Shyamalan)

A câmera de Shyamalan não tinha como encontrar tema mais adequado do que o universo pós-civilização ao qual ele se dedica aqui.

49) Segurando as Pontas (David Gordon Green)

Filipe: Não sei bem o que escrever sobre Segurando as Pontas.
Guilherme: Duas palavras: James Franco.

É ótimo ver Gordon Green saindo da camisa de força autoral em que se encontrava, mas o que eleva esta comedia de maconheiros é a performance de Franco.

47/48) Ghiro Ghiro Tondo (Yervant Gienikian e Angela Ricci-Lucchi)/Speed Racer (Andy e Larry Wachowski)

Dois extremos opostos do cinema que se completam (desconfio que o fracasso dos Wachowski foi mais visto na sexta de estréia em São Paulo do que o filme do casal Gienikian/Ricci-Lucchi foi em toda a sua carreira em festivais). Ambos partem de brinquedos/fantasias infantis para produzir experimentos dos mais consistentes do ano.

46) A Encarnação do Demônio (José Mojica Marins)

Maravilhosamente torto. Mojica segue um dos nossos cineastas mais imaginativos e poucas vezes ficamos diante de um filme de terror tão palpável.

45) Fengming (Wang Bing)

Não deixa de ser outro filme de horror terrivelmente materialista apesar de por 3 horas contar com pouco mais que uma senhora recontando suas experiências. E como não se impressionar com a maneira como Bing vai aos pouco registrando a passagem do tempo?

44) Cleópatra (Julio Bressane)

Esta chanchada sobre civilização é o filme que Frank Tashlin faria se resolvesse se voltar para o mito de Cleópatra ou o elo perdido entre Straub e a Boca do Lixo. Pronto: um filme para deixar o Luc Moullet com muita inveja. Certamente o mais vital trabalho de Bressane em muitos anos.

43) Se Nada Mais Der Certo (José Eduardo Belmonte)

Na outra ponta do cinema brasileiro, Belmonte segue cada vez melhor. Se Nada Mais Der Certo pode não ser um filme de mestre como os do Bressane e Mojica, mas Belmonte se dedica com tanta paixão ao seus pontos altos, que não me incomodo com os momentos em que o filme ameaça descarrilhar.

42) Flash Point (Wilson Wip)

Este veículo exuberante para Donnie Yen quase recaptura os tempos áureos da industria de Hong Kong. Cinema popular dos mais simples e criativos.

41) Deixa Ela Entrar (Thomas Alfredson)

Mais um filme de horror na lista. É um belo terror/romance sobre os horrores de se ter 12 anos. E se esta relação central entre vamprismo e pré-adolescencia não é em si nada demais, a condução segura de Alfredson é das mais expressivas.

40) Serbis (Brillante Mendoza)

Como dar vida a um ambiente. A operação de Mendoza consiste em pouco mais que imaginar num ambiente e lá se instalar. Incrível como o filme se finca na memória.

39) Hellboy 2 (Guillermo Del Toro)

Bem mais pessoal – se menos focado dramaticamente – do que o já muito bom filme anterior. Vence com muitas sobras o prêmio de melhor filme de super-herói do ano.

38) Loos Ornamental (Heinz Emigholz)

A série Architeture, Photography & Beyond que Emigholz vem desenvolvendo há muito tempo (este filme sobre Adolph Loos é o 13º dela) foi um dos meus achados do ano. É uma aula de construir uma narrativa a partir de quase nada (uma série de planos de construções) e de fazer uso expressivo de som direto.

37) Over Here (Jon Jost)

Complemento essencial ao Redacted de De Palma em que outro mestre maldito do cinema americano lança mão de cada truque no seu arsenal estético para expor com todo o seu descontentamento com a ocupação do Iraque.

36) Cinturão Vermelho (David Mamet)

Mamet segue purificando seu cinema rumo ao essencial. Quase dá para pensar em John Ford.

35) Leonera (Pablo Trapero)

No meio de tanto brilhareco que marca o mito do “novo cinema argentino”, é sempre bom termos a exatidão de Trapero, muito mais modesto e muito mais talentoso (Alonso e Rejtman são hors-concours).

34) Sad Vacation (Shinji Ayoama)

Ayoama filma como se tivesse a compor uma bela e desordenada canção.

33) JCVD (Mabrouk El Mechri)

Van Damme no universo da auto-ficção. Belíssimo ensaio sobre as possibilidades da sinceridade.

32) Milk (Gus Van Sant)

Será inevitavelmente visto como um retorno de Van Sant ao cinema narrativo mais tradicional, mas não deixa de ser outro dos seus contos recentes de mortes anunciadas e tem bem mais toques particulares do que os textos sobre o filme sugerem (e sempre vale ressaltar Harris Savides = gênio).

31) Sobre o Tempo e a Cidade (Terence Davies)

A crônica do desencontro entre um homem e sua cidade. Um filme muito maior que o decadentismo da sua superfície, e também muito mais moderno do que o próprio Davies provavelmente imagina.

8 Comentários

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8 Respostas para “Melhores de 2008 – Parte I

  1. Filipe

    Ainda não. Acho que estreia no começo de fevereiro.

  2. Boa definição do filme do Bressane.

  3. E eu devia ter anotado pra baixar o filme do Wilson Yip. Vou botar na fila pra ver em 2009.

  4. Guilherme

    Eu vou falar uma coisa bem séria sobre esse assunto. Eu já mee colooquei várias vezes na posição de achar que essas listas, sobretudo as gigantes, são grandes exercícios egoistas, que acabam fazendo sentido apenas pra quem realiza. Eu sou a favor de tops pela diversão, mas que são muito mais interessantes pra quem realiza, eu não tenho dúvida. Mas essa, que diz respeito, total e diretamente apenas a você, o seu universo, além deum troço meio autista, no minímo, é uma egotrip muito louca…

  5. Filipe

    Gui, eu não discordo de ti de que a lista diz respeito essencialmente a mim, como eu expliquei no começo ela realmente se refere só ao meu ano cinematográfico, mas ela me parece mais honesta com o que o cinema em 2008 significou para mim.

  6. Filipe

    Ailton, o filme do Wip saiu em DVD nacional. Com sorte você nem precisa baixar.

  7. Guilherme

    Isso ocorre, e deve ocorrer, todos os dias, não numa lista de fim de ano que resume apenas aquilo que haveria de essencial chegando ao nosso país… O essencial, também, fica meio perdido, numa lista com tantos filmes, comentários… Acho que é Filipe demais, over.

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