Alguns favoritos vistos pela primeira vez em 2019

(English version here)

Comentários para os primeiros 25 e depois listando os demais.

Beggars of Life (William A. Wellman, 1928)
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William Wellman recém dirigira o imensamente popular Asas, quando tomou a caminho oposto e fez este filme sobre dois jovens em fuga no meio dos vadios de trem Americanos. De certa forma adianta alguns dos filmes sociais feitos durante a grande depressão um pouco antes dela incluindo a obra prima do próprio Wellman Wild Boys of the Road que revisita muito do mesmo território, Duro, pouco sentimental e com uma bela atuação de Louise Brooks muito distante da que faria para Pabst e Hawks logo depois.

Sadie Thompson (Raoul Walsh, 1928)
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Um conto de dissolução com uma variedade muito grande de registros. Um triangulo de visões de mundo distantes ao qual Walsh da pleno espaço para ressoar. No centro dele uma Gloria Swanson iluminada. Também uma rara oportunidade de ver Walsh em cena pouco antes do acidente que acabou com sua carreira de ator.

The Last Flight (William Dieterle, 1931)
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Este foi o primeiro filme americano de William Dieterle e parte da força dele me parece muito ligada a como ele existe suspenso entre os dois continentes, O pragmatismo masoquista frente aos destroços da guerra vem dos EUA, mas o sentimento de desespero surge da Europa que serviu de palco para o conflito e amplifica a impotência de todos.

Other Men’s Women (William A. Wellman, 1931)
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Wellman filmando o romance entre os homens trabalhadores americanos no meio das linhas de trem tão cinematográficas como de costume. Lembra o que de melhor Jean Renoir fez nos seus tempos de frente popular.

Safe in Hell (William A. Wellman, 1931)
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Uma das coisas boas dos filmes de Wellman dessa época é o seu ecletismo tanto de temas como mesmo internamente trocando de registros com grande liberdade. Safe in Hell é quase um oposto exato de Other Men’s Women do foco na mulher a sua locação exótica quase abstrata. É como muito dos filmes do diretor, um filme sobre a civilização e suas fronteiras, aqui filtrados pela forma como uma mulher lida com estar num espaço onde nenhuma pretensão dela chegou. Filme que se move com muita segurança entre o drama moral e uma especificidade de gesto nas várias negociações que Dorothy Mackail precisa estabelecer ao longo da sua curta duração.

Transatlantic (William K. Howard, 1931)
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Um desses filmes multiplot centrados num espaço, no caso o transatlântico do título. Assim como Safe in Hell é um filme sobre noções de civilização num espaço em que ela está suspensa. O filme passeia muito bem entre as suas varias tramas que se movem em direção de colocar o jogador de Edmund Lowe num dilema moral. Fotografia excelente do James Wong Howe e uma direção atmosférica e ameaçadora do subestimado William K. Howard.

Four Hours to Kill! (Mitchell Leisen, 1935)
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Leisen é associado a comédia, mas ele trabalhou bem em outros registros e este é um thriller delicioso com espaço e tempo fechado (o sagão de um teatro, cerca de quatro horas do título). Muito neurótico com as varias subtramas alimentando a história de vingança principal. Outro trabalho excelente de Richard Barthelmess como o presidiário em espera que move a ação, foi o último papel principal do ator e tem algo para alguém escrever sobre os seis anos como protagonista de cinema sonoro de Barthelmess tem ali uma consistência temática e ambição estética e sócio-políticas não muito comuns.

Sazen Tange and the Pot Worth a Million Ryo (Sadao Yamanaka, 1935)
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Um dos prazeres do ano foi assistir aos dois filmes do Sadao Yamanaka que eu não conhecia aquele toque leve dele no meio de um material desesperador é notável. E tem algum um retrato comunitário muito interessante também.

Angel (Ernst Lubitsch, 1937)
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Amor e desrazão. Como sempre em Lubitsch das boas maneiras surgem os filmes mais violentos.

Strange Cargo (Frank Borzage, 1940)
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Da alegoria religiosa a um sentimento de chegado ao mundo. É bem próximo do que Borzage faria anos depois em Moonrise e tem um desespero muito forte que o material romântico a princípio não sugeriria.

Gentleman Jim (Raoul Walsh, 1942)
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Boa parte dos filmes dos primeiros anos de Raoul Walsh na Warner entre 1939-1942 sinalizam uma revisita a ideias e situações que ele eternizaram no começo dos anos 30 mas numa chave que sugeria uma boa dose de melancolia. Gentleman Jim é um filme de boxe cheio de energia, muito por conta de um Errol Flynn perfeitamente utilizado, mas nunca escapa de um amargor, a certeza de que suua bela época é uma ilusão que pertence aos filmes.

Driftwood (Allan Dwan, 1947)
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Meio parábola religiosa meio filme excêntrico de cidadezinha de interior. Tão Fordiano que Francis Ford está no elenco de apoio. Tem até uma subtrama de julgamento de cachorro.

Children of the Beehive (Hiroshi Shimizu, 1948)
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Indo do filme de criança doce para o filme de criança de horror quando passamos dos vencedores aos perdedores da segunda guerra. Retrato de um país em ruinas literal e emocionalmente através das crianças que brincam no que sobrou dele.

O Som da Montanha (Mikio Naruse, 1954)
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Puro veneno sobre a família japonesa a partir do olhar todo errado de um patriarca bem intencionado mas desastroso. Naruse produzindo uma espécie de anti-Ozu anos antes dos provocadores do cinema novo japonês.  Uma das melhores atuações de Setsuko Hara.

The Eternal Breasts (Kinuyo Tanaka, 1955)
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Kinuyo Tanaka foi além de uma das grandes atrizes do cinema japonês, a primeira mulher a dirigir no país, vi dois dos seis filmes que ela fez entre 1953 e 1962 (Love Letter que assidti uns anos atrás é bem bom também) e este é uma perola. Um filme masoquista que se move com força na direção da morte mas encontra um distanciamento forte no meio do caminho.

Decision at Sundown (Budd Boetticher, 1957)
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Matar ou Morrer virado de cabeça para baixo. Sobretudo porque a direção de Boetticher não poderia ser mais simples e direta. Um dos filmes mais bem atuados dele também.

Othon (Danielle Huillet, Jean-Marie Straub, 1970)
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Straub/Huillet e a palavra. Um dos grandes musicais só pela sonoridade do dialogo.  Um filme de todos os tempos.

Touki Bouki (Djibril Diop Mambety, 1973)
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Um dos grandes dramas do cineasta do terceiro mundo vai ser sempre a melhor forma de absolver as influenciais artísticas dos poderes coloniais enquanto ainda assim da conta do imperialismo. O filme do Mambety é uma aventura de casal de cinemas novos sobre a aflição colonial e muito mais forte por reconhecer a violência deste processo.

Dialogo de Exilados (Raul Ruiz, 1975)
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Falando em aflições coloniais aqui temos Raul Ruiz chutando o balde ao filmara neurose dos exilados chilenos pós golpe de Pinochet. O exilio é aniquilação completa de qualquer normalidade.

Muddy River (Kohei Oguri, 1981)
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A miséria do mundo pelo olhar infantil. Não um filme sobre inocência da infância mais das duras negociações de dois garotos num espaço hostil.

School in the Crosshairs (Nobuhiko Obayashi, 1981)
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Scanners revisto sobre a luz das tendências fascistas da sociedade japonesa como um anime juvenil.

Berenice (Raul Ruiz, 1983)
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Ruiz brincando de jogo de sombras wellessiniano. De como extrair tanto dos mínimos elementos de cena.

Alexandria Again and Forever (Youssef Chahine, 1990)
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Sobre cinema e poder. O olhar do cineasta, aqueles que aparecem diante das suas câmeras, aqueles que executam funções atrás delas. Acho que dos filmes autobiográficos de Chahine é o que tem as soluções mais inventivas.

Samba Traoré (Idrissa Ouedraogo, 1992)
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Um thriller sobre o momento inevitável em que as ações alcançaram seu personagem principal. Um filme precioso não sobre culpa mas sobre a responsabilidade do que está por vir.

Frágil Como o Mundo (Rita Azevedo Gomes, 2001)
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Um amor proibido e o gesto generoso da cineasta de eterniza-lo ao colocar seus jovens amantes no mundo por mais impiedoso que esse seja.

 

The Salvation Hunters (Joseph Von Sternberg, 1925)
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The Kid Brother (Ted Wilde, 1927)
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Speedy (Ted Wilde, 1928)
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Linda (Dorothy Davenport, 1929)
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Where East is East (Tod Browning, 1929)
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The Wild Party (Dorothy Arzner, 1929)
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City Girl (F.W. Murnau, 1930)
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A Lady to Love (Victor Sjostrom, 1930)
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Dr. Jekyll and Mr. Hyde (Rouben Mamoulian, 1931)
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Possessed (Clarence Brown, 1931)
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Beauty and the Boss (Roy Del Ruth, 1932)
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Red-Headed Woman (Jack Conway, 1932)
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What Price Hollywood? (George Cukor, 1932)
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Baby Face (Alfred E. Green, 1933)
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The Mayor of Hell (Archie Mayo, 1933)
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The Mystery of the Wax Museum (Michael Curtiz, 1933)
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Queen Christina (Rouben Mamoulian, 1933)
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The Silver Cord (John Cromwell, 1933)
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Bulldog Drummond Strikes Back (Roy Del Ruth, 1934)
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Four Frightened People (Cecil B. De Mille, 1934)
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Imitation of Life (John M. Stahl, 1934)
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No Greater Glory (Frank Borzage, 1934)
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Hands Across the Table (Mitchell Leisen, 1935)
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After the Thin Man (W.S. Van Dyke, 1936)
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Priest of Darkness (Sadao Yamanaka, 1936)
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Stand-In (Tay Garnett, 1937)
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At the Circus (Edward Buzzell, 1939)
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Son of Frankentein (Rowland V. Lee, 1939)
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Seven Sinners (Tay Garnett, 1940)
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Manpower (Raoul Walsh, 1941)
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The Shepherd of the Hills (Henry Hathaway, 1941)
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Destination Tokyo (Delmer Daves, 1943)
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The Ghost Ship (Mark Robson, 1943)
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A Good Lad (Boris Barnet, 1943)
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Johnny Come Lately (William K. Howard, 1943)
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I’ll Be Seeing You (William Dieterle, 1944)
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Reign of Terror (Anthony Mann, 1949)
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Tomahawk (George Sherman, 1951)
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Bienvenido, Mr. Marshall! (Luis García Berlanaga, 1953)
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Nuvens Carregadas (Mikio Naruse, 1955)
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Correnteza (Mikio Naruse, 1956)
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Star in the Dust (Charles F. Haas, 1956)
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Gunman’s Walk (Phil Karlson, 1958)
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Dead Eyes of London (Alfred Vohrer, 1959)
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Il Demonio (Brunello Rondi, 1963)
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The Indian Scarf (Alfred Vohrer, 1963)
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Il Magnifico Avventuriero (Riccardo Freda, 1963)
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Lo Spettro (Riccardo Freda, 1963)
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Zatoichi’s Vengeance (Tokuzô Tanaka, 1966)
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Cruces sobre el Yermo (Alberto Mariscal, 1967)
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Massacre no Supermercado (J.B. Tanko, 1968)
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Três Tristes Tigres (Raul Ruiz, 1968)
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Demons (Toshio Matsumoto, 1971)
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What’s the Matter with Helen? (Curtis Harrington, 1971)
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Payday (Daryl Duke, 1973)
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Light of Africa (Tatsumi Kumashiro, 1975)
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La Polizia Ha le Mani Legate/Killer Cop (Luciano Ercoli, 1975)
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La Vocation Suspendue (Raul Ruiz, 1978)
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Mueda, Memória e Massacre (Ruy Guerra, 1981)
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Mur Murs (Agnes Varda, 1981)
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Search (Amir Naderi, 1981)
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O Ladrão de Cavalos (Tian Zhuangzhuang, 1986)
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Bu Su (Jun Ichikawa, 1987)
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Daughters of the Dust (Julie Dash, 1991)
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Nach Jerusalem (Ruth Beckermann, 1991)
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Lumumba: La Mort du Prophéte (Raoul Peck, 1992)
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Love – Zero = Infinity (Hisayasu Satô, 1994)
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Corte de Cabelo (Joaquim Sapinho, 1995)
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Goshogaoka (Sharon Lockhart, 1998)
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The Joy of Life (Jenni Olson, 2005)
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Le Dernier des Fous (Laurent Achard, 2006)
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Men at Work (Mani Haghighi, 2006)
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Montparnasse (Mikhaël Hers, 2009)
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Derniere Séance (Laurent Achard, 2011)
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Todo Comenzó por el Fin (Luis Ospina, 2015)
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