Dois filmes poloneses e uma dica

O-bi, o-ba, o fim da civilização, de Piotr Szulkin

O-bi, o-ba, o fim da civilização, de Piotr Szulkin

Começa nesta quinta, dia 15, uma retrospectiva das mais interessantes no CCBB-SP, Histórias de Transformação: mostra de cinema polonês, que já passou pelo Rio durante o Festival de Cinema. São 6 filmes pouco conhecidos por aqui (em alguns casos nunca exibidos no Brasil antes) que vão do começo dos anos 60 (Como Ser Amada, 1962, de Wojciech Has, que o cinéfilo brasileiro provavelmente conhece pelo seu filme seguinte O Manuscrito de Saragossa) até o fim dos anos 90 (Dívida, 1999, de Krysztof Krauze). A ideia é fazer um apanhado de formas de representação da vida polonesa no período incluindo a passagem da sociedade socialista para o modelo capitalista. Do pouco que vi a Mostra consegue isso com ecletismo notável. Os filmes vão ser exibidos em DVD, mas são tão obscuros e pouco vistos que acho vale o esforço de ir ao CCBB.

Faço o post não só para destacar a mostra, mas também comentar os dois filmes dela que eu vi. Como Viver (1977), do Marcel Lozinski e Obi-Oba, o Fim da Civilização (1985), do Piotr Szulkin. O filme do Lozinski é o único documentário da seleção, mas é uma sátira engraçadíssima sobre a vida no país do fim dos anos 70, centrada num grupo de jovens famílias que vão participar de uma competição de “famílias modelo” num campo de jovens socialistas. A contradição entre a ideia da competição e o ideal socialista é responsável por parte considerável do conflito e humor do filme, mas o que me parece mais notável aqui é como ele costura bem as suas situações de tal maneira que passaria facilmente por um filme de ficção.

Ainda melhor é Obi-oba no qual saímos do universo da observação cômica para a ficção cientifica distópica de cunho alegórica. Uma espécie de versão pós-punk do O Processo do Welles ou um romance do China Mieville antes do tempo. O filme compensa o pequeno orçamento com uso dos mais imaginativos de direção e construção de espaços. O mundo da pequena sociedade construída aqui é muito bem imaginado. Ao contrário da maioria de filmes similares a paranoia de Szulkin é animada por um incomodo político que nunca sugere mera impostura de gênero. O filme sabe cortar suas situações com humor sem com isso sacrificar a potência dramática delas. Não conheço outros filmes do Szulkin, cineasta até recentemente bem desconhecido no ocidente, mas este é parte de uma espécie tetralogia de ficção cientifica cujos outros títulos (Golem, Guerra dos Mundos: próximo século e Ga-ga: glória aos heróis) parecem igualmente muito interessantes e que eu planejo assistir em breve.

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