Já que ontem escrevi sobre Still Life que de certa forma é um filme que adianta muito do imaginário do espectador ocidental criou do cinema iraniano, hoje vou à direção oposta. Brick and Mirror (65) – o longa metragem iraniano mais antigo que conheço – é o primeiro longa de Ebrahim Golestan, que provavelmente é mais conhercido hoje por produzir o ótimo curta The House is Black (cuja diretora Forugh Farrokhzad tem uma ponta aqui), é um filme urbano cujo estilo se aproxima muito de boa parte do que se realizava a época. Brick and Mirror é um filme que parte de uma questão prática para atravessá-la. Há um bebê que é encontrado por um taxista no banco de trás do seu carro, depois de uma tentativa frustrada de localizar a mãe, cria-se o inevitável problema do que fazer com a criança. O bebê não deixa de ser um símbolo bem simples de responsabilidade e o filme se move como uma série de encontros com coadjuvantes (amigos, figuras de autoridades, etc.) para os quais ele inevitavelmente é um estorvo prático sem resposta. Acompanhamos o taxista e a sua namorada por toda a noite acompanhado da criança (e Golestan filme a noite de Teerã de tal forma a romper com a superfície realista e lhe dar toda uma força simbólica) e no processo o bebê deixa de ser uma questão para se tornar um espelho das expectativas diferentes do casal. É um movimento lento que acompanha a mudança de perspectiva do taxista para a namorada. Não sei se o que aprecio mais em Brick and Mirror é seu cuidado com ambiência (em particular na ótima sequencia na casa noturna logo no começo) ou forma cuidadosa com que ele é estruturado, mas tenho certeza que o clímax com namorada no orfanato é algo que de especial sobretudo o último movimento de câmera.