Na Ilustrada de hoje saiu a seguinte nota não assinada: O longa dirigido por Tiago Mata Machado levou o prêmio do júri do evento na cidade mineira. Mostrando um grupo de pessoas que se instala numa casa que será demolida, o filme teve recepção dividida no festival, com parte da plateia deixando a sessão antes do final.
Como um dos presentes na tal sessão dividida eu posso dizer que a sala (com capacidade para 700 pessoas) estava muito cheia e segundo um amigo que estava no fundo e já conhecia o filme e ficou a observaro a reação do público, a debandada consistiu de 30 pessoas (metade das quais ainda na primeira meia hora) e o filme recebeu aplausos bem entusiasmados ao fim. A recepção de um modo geral foi tão boa, que dois dias mais tarde durante um debate, o Cleber Eduardo, curador do evento, aproveitou para dizer que ficou impressionado com reação do público num dia que ele havia programado como o dia de filmes dificeis. Posso confirmar também que não tinha nenhum jornalista da Folha por lá para testemunhar a tal recepção dividida (o Bruno Saito, que cobriu o evento para o jornal, já tinha ido embora). Tenho certeza que teve muitas pessoas que ficaram até o fim e acharam o filme do Tiago muito chato ou algo similar (tenho bons amigos que acham isso, por exemplo) e me parece uma reação normal, mas o tom geral da reação foi bem distante disso. Pode não parecer muito, mas este é o tipo de nota que diz muito sobre a postura do jornal.
Para não parecer que é só uma percepção minha reproduza aqui a nota que Marcelo Miranda escreveu no blog do O Tempo no dia seguinte a exibição: “O público responde
A noite de quinta-feira já é histórica para a Mostra de Tiradentes. Uma sequência de três filmes de difícil apreensão cativou dezenas de pessoas no Cine-Tenda. Falo aqui de filmes radicais como “Os Residentes”, “Os Monstros” e “Santos Dumont – Pré-Cineasta?”, todos desafiando a linguagem, as tradições e os padrões. São filmes nos quais a narrativa (fictítica ou documental) vai fundo nos recursos do próprio cinema – e, por isso mesmo, são três filmes sobre cinema, acima de tudo.
Foi incrível perceber que o público respondeu. Sempre foi comum o abandono de sessões em filmes “difíceis” na mostra, muito porque vários espectadores vêm da própria cidade e está acostumado apenas à televisão. Deparar-se com filmes tão fortes é um impacto, que foi respondido de maneira muito forte. Aplausos, reações, resistências, mostraram o quanto o público está a fim de ver cinema brasileiro, contanto que haja condições propícias a isso. A mostra ter entrada gratuita não pode jamais ser ignorado. Talvez este seja um dos cernes: podendo, o espectador quer; querendo, ele vai. E fica.”
Isso me lembrou de quando eu estava no Festival de Brasília de 2007 e fiquei impressionado quando um jornalzinho que era distribuído diariamente estampou a manchete “Morna recepção” para a sessão de “Falsa Loura”, filme que tinha sido aplaudido mais de uma vez em cena aberta.
Achei “Os Residentes” um filme saudosista, aristocrático e apaixonado pela cultura e meio metido a dândi. acha que política é ser anti-institucional, mas o tempo todo tenta se incluir e responder a uma tradição histórica mais que consolidada. é um filme historicista, que ama panteão , se quer político mas passa longe de qualquer política. Bem, é bem geek, é bem mauricinho. Coisa de cinéfilo. Dos filmes todos da mostra, até as merdas mais malcheirosas (olha que o filme é bem feito) é o mais tradicionalista. Mas o cara acha que não é. Se o bonezinho que dirigiu o filme falasse menos merda, menos de situacionista, tazmania, o filme melhoraria um bocadinho