Revisitando Howard Hawks, semana 3: Fazil (1928)

Fazil sugere um verdadeiro filme de terror sobre casamento.  Trata-se de um romance exótico entre o príncipe árabe do título e uma burguesa francesa. O tom perverso da narrativa, assim como certas opções visuais sugerem Josef Von Sternberg – para quem Hawks recentemente escrevera Underworld – muito mais que outros romances de fundo exótico da época. Fazil (Charles Farrell) conhece sua noiva (Greta Nissen) numa viagem a Veneza; fazem ótimo sexo (estamos ainda alguns anos antes do Código Hays), se casam no impulso e só depois percebem que nenhum dos dois está disposto a se mover minimamente dentro dos seus hábitos culturais. Segue uma hora em que cada sem intenção tortura constantemente o outro.

Não há nada na filmografia de Hawks similar a Fazil, mas trata-se menos de uma questão de tom ou tema do que de apresentação. Geralmente seus filmes mais carregados e apocalípticos são comédias que por conta disso disfarçam parcialmente seu conteúdo (pensemos em como reduzido a sua essência Levada da Breca é sobre uma mulher que sistematicamente destrói toda a vida de um homem), mas aqui estamos no terreno do melodrama mais direto possível acompanhada de um considerável toque de crueldade que o diretor só ocasionalmente reserva a alguns personagens a margem das suas tramas.

O material ao contrário de Paid to Love parece genuinamente interessar muito ao cineasta.  Hawks se esforça muito em tornar os particulares específicos da relação dos protagonistas ganharem uma força extra e parece especialmente preocupado em torná-lo mais universal que um simples choque cultural. Voltando ao que dissemos antes Fazil se revela após sua charmosa meia hora inicial um cruel filme de horror sobre matrimonio e é bem claro que seu cineasta vê seu material como o pior final possível para qualquer relação e não só entre um árabe e uma ocidental. É justamente ênfase que o filme que ganha uma força bem maior que o romance exótico que o material a primeira vista sugere.

Hawks também parece muito mais envolvido na busca de boas soluções para o material. Se uma encomenda como Paid to Love só pode ser energizada as margens,  um filme como Fazil apesar de provavelmente ser igualmente efeito da falta de controle do cineasta sobre a carreira, é possível encontrar os toques particulares no centro do material. A primeira meia hora em particular e cheia do tipo de pequenas boas saídas (como o primeiro encontro do casal). Muito por conta disso Fazil soa como um típico filme de Hawks sem o gesso que o material a principio alienígena poderia criar. Não é uma questão do que, mas de como. Boa parte do cinema de Hawks parte do principio da gerencia de situações e um filme estrangeiro bem sucedido como este Fazil termina uma bela aula de como este processo se realiza. Não surpreende que o filme esteja no seu melhor no flerte da primeira parte e no ato final que tem uma precisão e lógica langiana. O tom sufocante da parte final segue a mesma lógica de gerenciamento das situações da corte cheia de possibilidades do príncipio.

1 comentário

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Uma resposta para “Revisitando Howard Hawks, semana 3: Fazil (1928)

  1. faeol

    ainda vivo, Felipe?

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