Revisitando Howard Hawks, semana 2: Paid to Love (1927)

Paid to Love é não só um dos trabalhos mais raros de Hawks, mas um dos filmes que parecem mais desagradar seu realizador. Com o tempo ganhou certa reputação como o “filme de arte” de Hawks que a combinação da sua invisibilidade com as palavras duras do cineasta ajudou a espalhar. É verdade que o filme como muitos dos trabalhos realizados na Fox logo após os copiões de Aurora começarem a circular lança mão ocasionalmente de fotografia à Murnau (apesar do trabalho de câmera majoritariamente ter a simplicidade de sempre de Hawks), mas passa bem distante desta descrição.

Isto dito, Paid to Love coloca Hawks em curioso território estrangeiro muito mais próximo de Lubtisch do que do seu cinema habitual. O cineasta emprega um olhar bem mais seco e pragmático sobre o universo retrato do que o habitual no subgênero dos filmes que vendiam exotismo europeu (geralmente com tramas importadas de operetas) bem populares à época. Ainda assim é inegável que aristocracia européia é um espaço estranho ao Hawks, assim como o romance de verve lubtischiana e por mais que ele busca preencher o filme de detalhes que lhe interessem, há um desencontro entre cineasta e objeto que nunca se resolve de todo. Não surpreende a informação de que este seja dos poucos projetos de Hawks que ele não desenvolveu – precisou arranjar um projeto extra após alguns dos que viam desenvolvendo atrasaram –, o que explica um pouco da má vontade de Hawks para com o filme. È interessante apontar que o roteirista original do filme, Seton Miller, se tornou o principal escritor de Hawks nós quatro anos seguintes, o que sugere que a experiência de Paid to Love foi provavelmente melhor do que Hawks sugere.

Uma descrição da trama principal é muito informativa: um país fictício do leste europeu que vê um empréstimo ameaçado pela falta de interesse do príncipe herdeiro em mulheres, o que obriga o rei e o embaixador americano importar uma dançarina para despertar o interesse do rapaz. Só que eles se conhecem sem saber da identidade um do outro e se apaixonam. Qualquer bom editor diria que eu apresentei a sinopse de forma a enterrar o que seria o principal. Só que é assim que Paid to Love se apresenta (o filme gasta vinte dos oitenta minutos com a introdução e não porque ele busque algum ritmo mais deliberado). É como se a moldura do filme tomasse conta dele, sufocasse toda a ação central.

É um filme curioso para este projeto na medida em que é um dos mais frágeis do cineasta e ao mesmo tempo um dos que lhe apresentam mais distantes do seu meio natural. A reação fria é conseqüência disso ou de algo inerente ao filme e somente a ele? Eu diria que o segundo é mais provável, apesar da ausência de familiaridade certamente ajudar a ele não receber o desconto que muitos filmes menores de mestres freqüentemente levam. O próprio Hawks parece buscar esta familiaridade com elementos como os hobbies do protagonista ou a maneira como a dançarina sugere um primeiro protótipo da mulher da vida que de Louise Brooks em A Girl From Every Port a Angie Dickinson em Rio Bravo surgem para de forma mais ou menos benigna atraplhar a vida dos seus heróis. O resultado final sugere dois personagens hawksianos perdidos em meio a maquinações que pouco lhes dizem respeito.

1 comentário

Arquivado em Filmes

Uma resposta para “Revisitando Howard Hawks, semana 2: Paid to Love (1927)

  1. Filipe Furtado

    Vale dizer também que a cópia não tinha som, o que para mim pelo menos é sempre um problema.

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