Schroeter adapta um livro do Juan Carlos Onetti que sugere material típico para uma alegoria política (homem chega a capital de alguma republiqueta fictícia no meio de uma guerra civil e precisa tomar algumas decisões pessoais sérias enquanto tenta abandonar o lugar). O que o difere e nos lembra que Schroeter é um grande talento é que se o material sugere o abstrato, o cineasta alemão o finca num universo pessoal próprio. A cidade fictícia de Onetti é um lugar de fato nas mãos de Schroeter. A sensibilidade peculiar de Schroeter dá ao seu filme uma direção própria, garante que ele tenha um mundo no qual existir. Em particular na parte do filme quando o protagonista (um ótimo Pascal Gregory) lida com a progressiva sensação langiana de que não há fuga possível. Sei que o filme foi odiado em Veneza quando passou na competição dois anos atrás e depois sumiu do circuito de festivais, é uma pena.
Tenho uma relação bem ambígua com Scrhroeter, às vezes acho que tou sendo enganado por um canastrão maneirista amaneirado, a rigor seus filmes não dão “um filme” ( um pouco como o que vc acha de Pasolini), e isso não propriamente pelo lado alegórico/estilhaço da coisa, mas por falta de ritmo mesmo, de beat, e de unidade formal…mas é esta irregularidade que ao mesmo tempo me dá tesão na obra do cara,e pelo menos Malibran e Rei das rosas são obras-primas absolutas e muito, muito ensandecidas.
Eu nunca chamaria um filme do Pasolini de OP absoluta.
Saló é hehe.