Este é o primeiro filme de Scorsese em muitos anos que me deixa genuinamente interessado. Ao contrario dos seus últimos trabalhos a montagem segue sobre controle e o filme nunca soa inchado (Scorsese estava quase se tornando o último cineasta hollywoodiano dos anos 60, e isto definitivamente não é uma coisa boa). Está longe de ser um filme de todo bem resolvido as múltiplas referencias a Holocausto, bomba atômica, etc parecem buscar um peso que o filme não justifica e boa parte da sua dramaturgia é pouquíssimo crível. Isto é um problema, mas também o que o filme tem de mais fascinante. Como toda a ação de Shutter Island é uma farsa, nos situamos rapidamente na fragilidade da sua ação ao mesmo tempo que o filme insiste nela. Shutter Island como todo é falso, mas muito aplicado na sua ficção desencontrada. Como freqüentemente acontece no cinema do diretor é um filme que expõe um desejo muito grande por suas imagens fortes, pelo seu universo de referencias particular; a esta altura o cinema de Scorsese existe preso dentro de uma camisa de força de criação dele mesmo. Shutter Island é um filme a primeira vista sobretudo sobre desejo de ficção, mas me parece ser mesmo sobre a relação doente de Scorsese com a cinefilia, tanto uma admissão dela, como a confissão de que não é capaz de se livrar desta camisa de força.