Watchmen (Zach Snyder,09)

Bem mais próximo do remake que Snyder fizera de Romero que do aborto de 300. Trata-se de um xerox muito competente e completamente desprovido de um olhar. Seu O Despertar dos Mortos era mais bem sucedido por conta do material que servia melhor um longa-metragem do que HQ de Moore/Gibbons. O filme também expõe como os fetiches de Snyder limitam o seu projeto. Os excessos de gore, o slow-motion, etc. – ou seja, essencialmente o que pode ser descrito como toque pessoal do diretor – sempre travam a fluência do filme. Por outro lado, a seqüência dos créditos é ótima e capta o espírito do original do que todas as cenas “fiéis” que seguem e o Rorschach de Jackie Earle Haley é mesmo uma grande presença. O que é o filme tem de mais interessante é como exemplifica tão bem um elemento cada vez mais freqüente entre a relação cinema e cultura pop. De um lado, não há como não se impressiona com os extremos do desejo de Snyder em colocar a HQ na tela. O filme por vezes extrai sua força exclusivamente de como exala prazer de Snyder por realizar seu filme. No outro extremo, uma completa incapacidade de pensar por um instante no que se esta filmando para alem desta obsessão por transpor tudo para tela. Fica, por exemplo, a impressão de que não passou pela cabeça de Snyder que talvez fosse possível arranjar alguma forma de toda a trama sobre corrida nuclear ressonasse como mais que uma relíquia de guerra fria. Não há no filme nada para além do desejo de prestar homenagem ao material original e depois de uma meia hora este tom único se torna sufocante.

11 Comentários

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11 Respostas para “Watchmen (Zach Snyder,09)

  1. Surpresa essa sua reação, mas concordo com tudo. O resultado é bem mais interessante do que eu poderia esperar.

  2. Filipe Furtado

    Pois é, Chico. Acho que este é o elogio que da para fazer o filme, ele é melhor do que o esperado. Mas também não vai muito alem disso.

  3. Leandro Caraça

    A mais sóbria resenha feita até agora.

  4. Quando o filme é praticamente ‘silencioso’, ele me parece ter muito a dizer. ‘Unforgetable’ tocando em meio à pancadaria é uma beleza, tal qual os créditos com Dylan.

    Quando os herois começam a falar, entretanto, a coisa desanda e dá um desgosto terrível. Chegou a lembrar ‘O Dia em Que A Terra Parou’ (o remake).

    Sufocante.

  5. Eu prefiro “Over The Rainbow” em meio à pancadaria, em A Outra Face, do John Woo. Por isso, na hora achei que o Snyder tinha chupado a idéia.

  6. Acho que concordo com tudo, embora achei o Dr. Manhattan uma presença maior.

  7. Filipe:
    Hace poco he podido ver los cortometrajes que rodó Humberto Mauro. Ya conocía “Tesouro perdido”, “Ganga bruta”, “Braza dormida” y “Sangue mineiro”. ¿Es en Brasil una leyenda como aquí Buñuel o sigue siendo un ilustre desconocido?

  8. Achei o Dr. Manhatan apagadinho, mesmo com aquele azul neon todo…

  9. Filipe Furtado

    Jesus, Mauro é bem conhecido entre quem tem interesse na história do cinema brasileiro, é sempre o primeiro nome mencionado quando se fala em cinema classico aqui e o Ganga Bruta aparece em todas as listas de melhores filmes brasileiros feitas até hoje. Mas os filmes circulam pouco fora deste pequeno universo.

  10. somente a trilha sonora é boa. o resto um lixo.

  11. pietro

    Ótimo filme! Pra quem leu a HQ nos anos 80 teve bastante tempo ‘digerindo’ a complexa obra do Mr. Moore! Encontrá-lo numa transposição fílmica é por si só uma saga!! Reconheço a ausência de alguns fatos pertinentes à trama audiovisual mas é chato ver certos comentários diletantes (pra não dizer preguiçosos) sobre a película. Pra quem não gostou do filme inidico outros derivados de HQ’s – Mulher Gato,Electra – justamente para aqueles que não gostam de contemplar obras realmente mais complexas e relevantes na simbiose cinema/quadrinhos! Parabéns,Snyder!!!

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